SóProvas


ID
1982341
Banca
VUNESP
Órgão
PM-SP
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

O Brasil, a rotatória e os analfabetismos

    O caro leitor certamente já ouviu e/ou leu matérias a respeito do nosso analfabetismo funcional. Estudos recentes informam que apenas 24% dos brasileiros letrados entendem textos de alguma complexidade.

    Nossa dificuldade com o texto é inegável e não escolhe classe social. Não pense o leitor que ela é ”privilégio” de pobres ou de gente pouco escolarizada. A leitura de trabalhos de conclusão de curso de muitos e muitos alunos de letras (sim, de letras!) prova que a situação é dramática.

    O livro “Problemas de Redação”, do professor Alcir Pécora, mostra que alunos da primeira turma de estudos linguísticos de uma das mais importantes universidades do país concluíram o curso sem a mínima condição de ler e/ou escrever de acordo com a escolaridade formal que detinham.

   Mas o nosso analfabetismo não é apenas verbal, ou seja, não se limita ao que é expresso por meio da língua; ele é também não verbal, isto é, abrange também a dificuldade para lidar com signos que não se valem da palavra escrita ou dita, mas, por exemplo, de imagens, de cores etc.

   Boa parte da barbárie brasileira pode ser demonstrada pelo que se vê no trânsito das nossas cidades. Ora por falta de vergonha, ora por analfabetismo verbal e/ou não verbal + falta de vergonha, os brasileiros provamos, um bilhão de vezes por minuto, que este país não deu certo.

   Uma das situações que acabo de citar pode ser ilustrada pelos semáforos. Decerto os brasileiros conhecemos o que significam os signos não verbais (as três cores) que há nos “faróis” ou “sinaleiras”. O desrespeito ao significado desses signos não decorre do analfabetismo (verbal ou não verbal), mas da falta de vergonha.

   Agora a segunda situação. Nada melhor do que as rotatórias para ilustrá-la. Em todos os muitos cantos do mundo pelos quais já passei, a rotatória é tiro e queda: funciona. Os motoristas conhecem o significado desse signo não verbal e respeitam-no. No Brasil, o que mais se vê é gente entrando a mil na rotatória, literalmente soltando baba, bestas-feras que são. Quando me aproximo de uma rotatória e já há um carro dentro dela, paro e dou a preferência. Começa a buzinação. A ignorância é atrevida, arrogante, boçal. Mas eu aguento: enquanto o outro não passa, faço movimentos circulares com a mão para mostrar ao outro motorista que aquilo é uma rotatória e que ele, por ter entrado antes, é quem tem a preferência. Quase sempre alguém fura a fila e passa exibindo outro signo não verbal (dedo médio em riste), mais um a traduzir o nosso elevado grau de barbárie.

   Não sou dos que dizem que este país é maravilhoso, que a nossa sociedade é maravilhosa. Não há solução para a barbárie brasileira que não comece pela admissão e pela exposição da nossa vergonhosa barbárie de cada dia sob todas as suas formas de manifestação. A barbárie é filha direta da ignorância e se manifesta pelo atrevimento inerente à ignorância. Falta competência de leitura, verbal e não verbal; falta educação, formal e não formal. Falta vergonha. Falta delicadeza. Falta começar tudo de novo. É isso.

(Pasquale Cipro Neto, Folha de S.Paulo, 20 de março de 2014. Adaptado)

respeito do emprego da 1.ª pessoa do plural na forma verbal (... os brasileiros conhecemos o que significam os signos... – 6.º parágrafo) e nos pronomes (Nossa dificuldade com o texto.../Mas o nosso analfabetismo não é apenas verbal... – 2.º e 4.º parágrafos, respectivamente), assinale a alternativa que contém uma afirmação correta.

Alternativas
Comentários
  • BBBBBBBBBB

  • D) justifica mediante a figura de linguagem empregada a silepse.

    Etimologia:

    A palavra silepse vem do grego sýllepsis, que significa “ato de compreender” ou “abranger”, “tomar em conjunto”.

    Descrição:

     silepse também é conhecida como concordância ideológica. Ela acontece toda vez que uma palavra deixa de concordar gramaticalmente com outras palavras ou expressões presentes na frase e passa a concordar com o sentido ideológico delas.  pode ser de três tipos: de gênero, de número ou de pessoa

    -Os brasileiros conhemos....., o sentido passado pelo o autor foi de se incluir pois ele é brasileiro tbm.

    https://googleweblight.com/i?u=https://www.figurasdelinguagem.com/silepse/&hl=en-BR

  • Ocorre silepse de pessoa quando há discordância entre o sujeito e a pessoa verbal. Normalmente, o emissor se inclui num sujeito da terceira pessoa do plural (eles), fazendo a flexão verbal na primeira pessoa do plural (nós). Existem três pessoas gramaticais: primeira (quem fala: eu e nós), segunda (com quem se fala: tu e vós), terceira (de quem se fala: ele e eles).

    Exemplos:

    • Todos preferimos viajar de avião. (a concordância é feita com nós e não com eles: preferem)
    • A situação é complicada porque os alunos queremos a anulação da prova. (a concordância é feita com nós e não com eles: querem)
    • Os três íamos conversando sobre assuntos cotidianos. (a concordância é feita com nós e não com eles: iam)
    • “Conheci uma criança... mimos e castigos pouco podiam com ele.” (Almeida Garret – silepse de gênero)
    • “Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove.” (Olavo Bilac – silepse de gênero)
    • “Povoaram os degraus muita gente de sorte." (Camilo Castelo Branco – silepse de número)
    • “O casal de patos nada disse, (…). Mas espadanaram, ruflaram e voaram embora.” (Guimarães Rosa – silepse de número)
    • “Enfim, lá em São Paulo todos éramos felizes graças ao seu trabalho.” (Rubem Braga – silepse de pessoa)
    • “Dizem que os cariocas somos pouco dados aos jardins públicos.” (Machado de Assis – silepse de pessoa)