SóProvas


ID
1986835
Banca
IBFC
Órgão
MGS
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Uma Vela para Dario
(Dalton Trevisan)
Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva, e descansou na pedra o cachimbo.
Dois ou três passantes rodearam-no e indagaram se não se sentia bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta. O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque.
Ele reclina-se mais um pouco, estendido agora na calçada, e o cachimbo tinha apagado. O rapaz de bigode pediu aos outros que se afastassem e o deixassem respirar. Abre-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe tiram os sapatos, Dario rouqueja feio, bolhas de espuma surgiram no canto da boca.
Cada pessoa que chega ergue-se na ponta dos pés, não o pode ver. Os moradores da rua conversam de uma porta à outra, as crianças de pijama acodem à janela. O senhor gordo repete que Dario sentou-se na calçada, soprando a fumaça do cachimbo, encostava o guarda-chuva na parede. Mas não se vê guarda-chuva ou cachimbo ao seu lado.
A velhinha de cabeça grisalha grita que ele está morrendo. Um grupo o arrasta para o táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protesta o motorista: quem pagaria a corrida? Concordam chamar a ambulância. Dario conduzido de volta e recostado à parede - não tem os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata.
Alguém informa da farmácia na outra rua. Não carregam Dario além da esquina; a farmácia é no fim do quarteirão e, além do mais, muito peso. É largado na porta de uma peixaria. Enxame de moscas lhe cobre o rosto, sem que faça um gesto para espantá-las.
Ocupado o café próximo pelas pessoas que apreciam o incidente e, agora, comendo e bebendo, gozam as delícias da noite. Dario em sossego e torto no degrau da peixaria, sem o relógio de pulso.
Um terceiro sugere lhe examinem os papéis, retirados - com vários objetos - de seus bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficam sabendo do nome, idade; sinal de nascença. O endereço na carteira é de outra cidade.
Registra-se correria de uns duzentos curiosos que, a essa hora, ocupam toda a rua e as calçadas: era a polícia. O carro negro investe a multidão. Várias pessoas tropeçam no corpo de Dario, pisoteado dezessete vezes.
O guarda aproxima-se do cadáver, não pode identificá- lo — os bolsos vazios. Resta na mão esquerda a aliança de ouro, que ele próprio quando vivo - só destacava molhando no sabonete. A polícia decide chamar o rabecão.
A última boca repete — Ele morreu, ele morreu. A gente começa a se dispersar. Dario levou duas horas para morrer, ninguém acreditava estivesse no fim. Agora, aos que alcançam vê-lo, todo o ar de um defunto.
Um senhor piedoso dobra o paletó de Dario para lhe apoiar a cabeça. Cruza as mãos no peito. Não consegue fechar olho nem boca, onde a espuma sumiu. Apenas um homem morto e a multidão se espalha, as mesas do café ficam vazias. Na janela alguns moradores com almofadas para descansar os cotovelos.
Um menino de cor e descalço veio com uma vela, que acende ao lado do cadáver. Parece morto há muitos anos, quase o retrato de um morto desbotado pela chuva.
Fecham-se uma a uma as janelas. Três horas depois, lá está Dario à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó. E o dedo sem a aliança. O toco de vela apaga-se às primeiras gotas da chuva, que volta a cair. 

“Apenas um homem morto e a multidão se espalha, as mesas do café ficam vazias.” (12°§) 

Em função da necessidade de concordância do verbo com o sujeito a que se refere, pode-se afirmar o seguinte sobre o sujeito da forma “espalha” é:

Alternativas
Comentários
  • SUJEITO SIMPLES

     

    A multidão se espalha.

  • Quem se espalha?

    A multidão.

  • Não pode ser homem como núcleo por causa do pronome indefinido '' um homem''

    Letra C correta

  • a) composto tendo “homem” e “multidão” como núcleos  (ERRADO)  OBS. O sujeito não é Homem, logo não é composto, pois só tem um núcleo.

     

    b)indeterminado e sem referência gramatical explícita.  (ERRADO)  OBS. Tem sujeito, logo é multidão

     

    c)simples e representado pela construção “a multidão”   (CORRETO)

     

    d)desinencial marcado pela terceira pessoa.    (ERRADO)  OBS. Não é sujeito oculto, ou seja, elíptico.

  • THAIS OLIVEIRA, acho que o fato de ter vindo pronome indefinido antes não quer dizer que não possa ter sujeito. Olha essa explicação a partir de 11:05:

    https://www.youtube.com/watch?v=4MROFf0z-oM

     

  • Quem é que se espalha? A multidão.

    Neste caso, o SE é um pronome reflexivo, pois a multidão promove e sofre a ação do verbo "espalhar".

  • thais oliveira,

     

    pronome indefinido não é preoposição. 

     

    O que não é permitido é sujeito preposicionado e não sujeito posposto a artigo indefinido.

     

    Bons estudos! AVANTE

     

  • a multidão se espalha,  A MULTIDÃO É ESPALHADA. 

  • Note a presença do pronome reflexivo SE, acompanhando a forma verbal espalha“”, que tem como sujeito o coletivo “multidão”. Trata-se de um sujeito simples.

  • Quem se espalha?A multidão