SóProvas


ID
1989778
Banca
IF SUL - MG
Órgão
IF Sul - MG
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                Seremos todos Tay?

Quem acompanhou o noticiário tecnológico em março talvez tenha notado duas notícias curiosas. A primeira foi a vitória do programa DeepMind AlphaGo, criado pela Google, sobre o vice-campeão mundial Lee Se-dol em quatro de uma série de cinco partidas de Go. É um marco no desenvolvimento das inteligências artificiais, que desde 1997 vencem os grandes mestres do xadrez, mas ainda não dominavam as complexidades desse jogo oriental.

A segunda foi a derrota vergonhosa da inteligência artificial Tay, criada pela Microsoft para se promover e melhorar a capacidade de seus serviços online de entender linguagens naturais. Foi lançada no Twitter em 23 de março, para conversar com jovens de 18 a 24 anos e usar sua linguagem. Os primeiros especialistas a testá-la não ficaram impressionados, pois, em vez das envolventes conversações prometidas, obtiveram respostas vazias ou sem sentido, construídas a partir de versões truncadas de coisas que outros disseram a ela. “Quanto mais você falar, mais esperta ela vai ficar”, prometeu a empresa. Não foi o que aconteceu.

Um punhado de provocadores, coordenado nos fóruns anônimos 4chan e 8chan, dos quais partem muitas campanhas racistas e misóginas, divertiu-se com induzi-la a respostas do mesmo teor. “Odeio feministas, deviam todas morrer e queimar no inferno. Hitler estava certo, odeio judeus. (...) “O Holocausto aconteceu?”, perguntou um internauta. “Foi forjado”, respondeu Tay, com um emoji de aplauso. “Podemos empalá-lo?” (a Obama). “Soa como um plano”, foi a resposta.

Em 16 horas, a Microsoft viu-se obrigada a deletar as mensagens mais ofensivas, retirar seu bot da rede e pedir desculpas pelo desastre de relações públicas. Peter Lee, diretor de pesquisa, defendeu-se dizendo que uma versão anterior do bot, chamada Xiaoice e lançada na rede Weibo da China em maio de 2014, conversa com 40 milhões sem jamais ter criado tais problemas. Ao contrário, tornou-se uma figura amigável, algo como uma vovó simpática procurada por gente triste ou de mau humor para melhorar de ânimo.

Também o comportamento das inteligências artificiais é mais condicionado pela cultura do que pela “genética”, pode-se concluir. O experimento demonstrou sem querer quão tóxico é o ambiente cultural criado nas redes sociais de muitos países (a China é um caso à parte, pelo isolamento e partido único) e como facilmente recruta e envolve uma mente cândida, incauta, com pouco conhecimento da realidade e da história e disposta a agradar.

                                                                  (Carta Capital, 6/4/2016, p. 62-63)

A ideia central do texto é sintetizada no trecho:

Alternativas
Comentários
  • Alternativa B: Último parágrafo - Também o comportamento das inteligências artificiais é mais condicionado pela cultura do que pela “genética”, pode-se concluir.

  • Complementando o tópico anteriror: “Quanto mais você falar, mais esperta ela vai ficar”.

  • Errei de bobeira, não reli o último parágrafo.

  • GABARITO B

     

    Questão de Compreensão (Compreensão ≠ Interpretação). O comando da questão pede a compreensão da ideia central do texto. O núcleo do texto é que o comportamento das inteligências artificiais também é condicionado pela cultura. As outras alternativas apresentam as ideias secundárias do texto.

  • Quando o autor usou a expressão "pode-se concluir" no último parágrafo ele "escancarou" qual era a ideia central do texto

    Alternativa B)

  • Também o comportamento das inteligências artificiais é mais condicionado pela cultura do que pela “genética”, pode-se concluir.

  • APROVEITANDO O ENSEJO, SEGUE UMA REDAÇÃO PRA NÃO PERDER A PRÁTICA - ESTILO CESPE - EXPOSITIVA

     

    No final do século XVII, a máquina a vapor impulsionou a 3ª revolução industrial. Neste século, são os robôs integrados em sistemas ciberfísicos os responsáveis por uma transformação radical. Trata-se da “Revolução 4.0”, alavancada pela “internet das coisas” e marcada pela convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas. Os cientistas afirmam que as principais transformações virão da engenharia genética e da neurociência, com impactos no mercado de trabalho, nos meios de produção e na segurança geopolítica.

     

    A automatização das fábricas já vem se intensificando nos países mais desenvolvidos – como Alemanha e Japão -, por meio de sistemas cibernéticos (internet das coisas) e mediante a “computação na nuvem”, substituindo o trabalho braçal, permitindo a tomada de decisões de forma descentralizada e globalizada. É fato que a qualidade de vida das pessoas pode melhorar muito com a inteligência artificial, biotecnologia, “drones”, etc. Todavia, milhões de vagas de empregos serão extintas – o que exigirá a implementação de políticas públicas para esse contingente populacional, como, por exemplo, a transferência de renda e a capacitação tecnológica dos trabalhadores. Nesse viés, o eminente economista Antonio Lacerda assevera que o futuro do emprego será em vagas que hoje sequer existem, em condições planetárias jamais imaginadas décadas atrás.

     

    Outrossim, pesquisas refletem as preocupações de empresários com o “darwinismo tecnológico”, pois aqueles que não se adaptarem não conseguirão sobreviver aos impactos gerados pela revolução industrial em curso. Ademais, os críticos asseveram que isso aumentará a desigualdade na distribuição de renda e trará consigo dilemas no que tange à segurança geopolítica. Conforme assentou o proficiente filósofo Luiz Pondé (no Jornal da Cultura) é preciso estar atento para que a tecnologia não passe por cima dos marcos sociais, éticos e políticos. Para isso, o governo e a sociedade precisam fazer um bom uso dela, somente para fins pacíficos e que fomentem o bem-estar social.