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ID
202177
Banca
FCC
Órgão
SEFAZ-SP
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

No tempo dos trens

Parodiando o grande poeta que escreveu - Havia
manhãs, naquele tempo -, quero registrar: havia trens naquele
tempo. E havia as estações de trem, e as viagens de trem,
antes que alguém decidisse extinguir o transporte ferroviário em
benefício do rodoviário. Nada quero ajuizar sobre a justeza econômica
ou o equívoco técnico dessa medida; o que posso garantir
é que a poesia da vida saiu perdendo. Pois não me venham
comparar o prosaísmo de uma viagem de ônibus com os
devaneios de uma viagem de trem.
Em primeiro lugar, os trens brasileiros, ao contrário
dos japoneses, não tinham pressa: a vapor, a diesel ou mesmo
elétricas, nossas locomotivas permitiam que os passageiros fossem
contemplando com calma a paisagem, e às vezes até simulavam
algum defeito, só para que todos pudessem esticar as
pernas numa estação perdida no meio do caminho. As estações,
com sua arquitetura padronizada, eram recantos sombreados
de onde se avistava a pracinha de uma vila ou a torre
da igreja.
Depois, é preciso considerar que a vida dentro dos
trens também era outra. As pessoas passeavam tranquilamente
pelo corredor, puxavam conversa em rodinhas, ou estacionavam
nas plataformas de ligação entre os vagões, tomando
um ventinho no rosto - prazer tanto maior porque proibido. Sem
falar na possibilidade de um luxo - um carro-restaurante - onde
se sentava para uma refeição, um lanche, uma cerveja.
Para que pressa? Havia mais tempo para não se fazer
nada, naquele tempo. O ritmo dos trens influía no dos negócios,
no das providências burocráticas, até no dos amores: esperavase
mais para dar e receber um beijo, ou então para sofrer uma
despedida. Nesse caso, havia mais tempo para aliviar uma frustração,
repensar na vida. Sem pressa, nossos trens gostavam
de deixar a gente viver em paz.
Se um dia houver uma reversão em nossos meios de
transporte e ressuscitarem as viagens de trem, me avisem, que
eu virei correndo do outro mundo para garantir um lugar à
janela.

(Expedito Trancoso, inédito)

Atente para as seguintes afirmações:

I. Considerando o que afirma o texto em seu conjunto, a expressão do título - No tempo dos trens - tem duplo sentido, aludindo tanto a uma época como a um ritmo determinados.

II. O autor lamenta que as vantagens objetivas do transporte ferroviário sobre o rodoviário não tenham sido devidamente consideradas, antes da extinção dos trens.

III. O autor considera que, além do encantamento próprio dos trens e das estações, fatores de ordem econômica pesavam na escolha do trem como meio de transporte.

Em relação ao texto, está correto APENAS o que se afirma em

Alternativas
Comentários
  • LETRA A

    I) Correta essa afirmação.  

    O título dita uma época em que os trens dominavam o transporte público.  Além disso,  velocidade dos trens brasileiros,  em que por ser bem lento, proporcionava um ritmo de vida mais calmo e de paz 
    a todos, levando muitos a repensar na vida,  contemplar  a paisagem dos lugares, conhecer lugarejos e pessoas, se dar ao luxo de apreciar um bom lanche, almoço ou até mesmo uma cerveja e também influir no ritmo dos negócios, providências burocráticas e amores.


    "Parodiando o grande poeta que escreveu – Havia  manhãs, naquele tempo –, quero registrar: havia trens naquele tempo."

    "Em primeiro lugar, os trens brasileiros, ao contrário dos japoneses, não tinham pressa: a vapor, a diesel ou mesmo elétricas, nossas locomotivas permitiam que os passageiros fossem contemplando com calma a paisagem, e às vezes até simulavam algum defeito, só para que todos pudessem esticar as pernas numa estação perdida no meio do caminho. As estações, com sua arquitetura padronizada, eram recantos sombreados de onde se avistava a pracinha de uma vila ou a torre da igreja.  
     
    Depois, é preciso considerar que a vida dentro dos trens também era outra. As pessoas passeavam tranquilamente pelo corredor, puxavam conversa em rodinhas, ou estacionavam nas plataformas de ligação entre os vagões, tomando um ventinho no rosto – prazer tanto maior porque proibido. Sem 
    falar na possibilidade de um luxo – um carro-restaurante – onde se sentava para uma refeição, um lanche, uma cerveja. 
     
    Para que pressa? Havia mais tempo para não se fazer nada, naquele tempo. O ritmo dos trens influía no dos negócios, no das providências burocráticas, até no dos amores: esperavase mais para dar e receber um beijo, ou então para sofrer uma despedida. Nesse caso, havia mais tempo para aliviar uma frustração, repensar na vida. Sem pressa, nossos trens gostavam de deixar a gente viver em paz. "

    II - Errada essa afirmação - As vantagens não eram objetivas e sim subjetivas, de acordo com a opinião do autor do texto.

    "E havia as estações de trem, e as viagens de trem, antes que alguém decidisse extinguir o transporte ferroviário em benefício do rodoviário. Nada quero ajuizar sobre a justeza econômica ou o equívoco técnico dessa medida; o que posso garantir é que a poesia da vida saiu perdendo. Pois não me venham comparar o prosaísmo de uma viagem de ônibus com os devaneios de uma viagem de trem. "

    III - Errada essa afirmativa - Muito pelo contrário,  por causa dos fatores econômicos é que os trens deram lugar aos ônibus, conforme podemos ver no trecho do texto acima da afirmativa anterior.


    Bons estudos!


    " Fé em Deus e pé na tábua"