SóProvas


ID
207931
Banca
FCC
Órgão
TRF - 4ª REGIÃO
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A literatura é necessária à política quando ela dá voz
àquilo que não tem voz, quando dá um nome àquilo que ainda
não tem um nome, e especialmente àquilo que a linguagem política
exclui ou tenta excluir. Refiro-me, pois, aos aspectos, situações,
linguagens tanto do mundo exterior como do mundo
interior; às tendências reprimidas no indivíduo e na sociedade.
A literatura é como um ouvido que pode escutar além daquela
linguagem que a política entende; é como um olho que pode ver
além da escala cromática que a política percebe. Ao escritor,
precisamente por causa do individualismo solitário do seu trabalho,
pode acontecer explorar regiões que ninguém explorou
antes, dentro ou fora de si; fazer descobertas que cedo ou tarde
resultarão em campos essenciais para a consciência coletiva.
Essa ainda é uma utilidade muito indireta, não intencional,
casual. O escritor segue o seu caminho, e o acaso ou as
determinações sociais e psicológicas levam-no a descobrir alguma
coisa que pode se tornar importante também para a ação
política e social.
Mas há também, acredito eu, outro tipo de influência,
não sei se mais direta, mas decerto mais intencional por parte
da literatura, isto é, a capacidade de impor modelos de linguagem,
de visão, de imaginação, de trabalho mental, de correlação
dos fatos, em suma, a criação (e por criação entendo
organização e escolha) daquele gênero de valores modelares
que são a um tempo estéticos e éticos, essenciais em todo
projeto de ação, especialmente na vida política.
Se outrora a literatura era vista como espelho do mundo,
ou como uma expressão direta dos sentimentos, agora nós não
conseguimos mais esquecer que os livros são feitos de palavras,
de signos, de procedimentos de construção; não podemos
esquecer que o que os livros comunicam por vezes permanece
inconsciente para o próprio autor, que em todo livro há uma
parte que é do autor e uma parte que é obra anônima e coletiva.
(Adaptado de Ítalo Calvino, Assunto encerrado)

Considerando-se o contexto, está correta a seguinte afirmação sobre um aspecto da redação do último parágrafo:

Alternativas
Comentários
  •  

    ITEM C
    No trecho "a literatura era vista" o agente da passiva não é determinado, logo, ao transpormos para a voz ativa, obteremos uma oração com sujeito indeterminado.

     

    Na língua portuguesa, há três maneiras diferentes de indeterminar o sujeito de uma oração:

    a) Com verbo na 3ª pessoa do plural:
    O verbo é colocado na terceira pessoa do plural, sem que se refira a nenhum termo identificado anteriormente (nem em outra oração):
    Por Exemplo:
    Procuraram você por todos os lugares.
    Estão pedindo seu documento na entrada da festa.

    b) Com verbo ativo na 3ª pessoa do singular, seguido do pronome se:
    O verbo vem acompanhado do pronome se, que atua como índice de indeterminação do sujeito. Essa construção ocorre com verbos que não apresentam complemento direto (verbos intransitivos, transitivos indiretos e de ligação). O verbo obrigatoriamente fica na terceira pessoa do singular.
    Exemplos:
    Vive-se melhor no campo. (Verbo Intransitivo)
    Precisa-se de técnicos em informática. (Verbo Transitivo Indireto)
    No casamento, sempre se fica nervoso. (Verbo de Ligação)

    c) Com o verbo no infinitivo impessoal:
    Por Exemplo:
    Era penoso estudar todo aquele conteúdo.
    É triste assistir a estas cenas tão trágicas.

    A teoria estabelecida, pois, é de que verbos transitivos diretos com SE estão na voz passiva.

    Como o verbo VER é TRANSITIVO DIRETO, a transposição de "a literatura era vista" para a voz ativa NÃO redundará na forma verbal "VIA-SE", sendo correta a forma "VIAM".

    Resumindo:
    A literatura era vista. (Voz passiva analítica)
    Via-se a literatura. (voz passiva sintética)
    Viam a literatura (Voz ativa)

  • ITEM E
    O elemento "por vezes" trata-se de uma locução adverbial de tempo, que sintaticamente detem a classificação de adjunto adverbial.
    Adjuntos adverbiais são termos acessórios da oração que indicam a circunstância em que se desenvolve o processo verbal.
    Afirma-se que há uma hierarquia entre os termos da oração, sendo os mais importantes os ESSENCIAIS (Sujeito e Predicado), em segundo lugar os INTEGRANTES (complemento verbal, complemento nominal e agente da passiva) e por último os chamados ACESSÓRIOS (adjunto adnominal, adjunto adverbial, aposto e vocativo).

    A chamada ordem direta distribui os termos na oração segundo a sua hierarquia de importância, portanto a posição natural dos adjuntos adverbiais deve ser no fim das orações.

    No trecho "o que os livros comunicam por vezes permanece inconsciente para o próprio autor", para facilitar o entendimento, vamos substituir o pronome demonstrativo "o" pelo pronome demonstrativo "aquilo":

    "Aquilo que os livros comunicam por vezes permanece inconsciente para o próprio autor".

    Podemos agora com maior facilidade dividir o período em duas orações:
    "Aquilo / / permanece inconsciente para o próprio autor" (Oração Principal)
    "que os livros comunicam por vezes" (Oração Subordinada Adjetiva Restritiva)

    Significado 01: Os livros ALGUMAS VEZES transmitem uma mensagem, e, SEMPRE que isso acontece, o próprio autor não fica sabendo.


    O sentido seria outro caso o elemento "por vezes" estivesse entre vírgulas, pois estaríamos informando que o adjunto adverbial está deslocado da sua posição natural no fim da oração com a qual se relaciona. Ou seja, o adjunto adverbial não estaria mais relacionado à oração subordinada adjetiva, mas à oração principal.

    "Aquilo / /, por vezes, permanece inconsciente para o próprio autor" (Oração Principal com o Adjunto Adverbial deslocado)
    "Aquilo / / permanece inconsciente para o próprio autor por vezes" (Oração Principal na ordem direta)
    "que os livros comunicam" (Oração Subordinada Adjetiva Restritiva)

    Significado 02: Os livros SEMPRE transmitem uma mensagem, mas, ALGUMAS VEZES, o próprio autor não fica sabendo.

  • E a alternativa A, qual seria o erro? O termo "caso" não pode expressar condição também?
  • Fábio,

      Nem sempre a mesma conjunção irá estabelecer a mesma relação semântica (de sentido) com uma oração. O "se", neste caso, não é condicional, e sim concessivo. (Tente: APESAR DE outrora a literatura ser vista como um espelho do mundo, agora nós não conseguimos mais esquecer que...)

      Observe um outro exemplo de relação concessiva (essa de um concurso do TJ):

              Não é o caso hoje. Os partidos políticos transferem sua existência para o Congresso e só acordam às portas das eleições. Ficam hibernando à espera do momento eleitoral quando deveriam estar em praça pública em busca de militantes e se expondo ao debate.

        O "quando" em destaque não exerce relação temporal, e sim concessiva.


          Quanto à alternativa C, a própria justificativa dada já mostra por que ela está incorreta. Não é possível utilizar o "se" como Índice de Indeterminação do Sujeito em um VTD. Nesse caso, para indeterminar o sujeito, o verbo deveria ir para a terceira do plural.
       O IIS só aparecerá quando o verbo não permitir voz passiva, o que não é o caso. Na construção "via-se a literatura", o que temos é uma Voz Passiva Sintética.


       Grande abraço,


         prof. Caco Penna
      cacopenna@yahoo.com.br
  • Na letra C: PARA GANHARMOS TEMPOS NA PROVA ...

     

    Só bastava olhar que "VIA- SE" não é VOZ ATIVA como o examinador sugeriu , mas sim VOZ PASSIVA SINTÉTICA.