SóProvas


ID
2081839
Banca
CKM Serviços
Órgão
Prefeitura de Natal - RN
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Os estilhaços amorosos de Roland Barthes


Apaixonado e autorreprimido, o escritor, sociólogo e semiólogo francês encarou-se no espelho de maneira corajosa, angariando admiradores e acusadores ao destrinchar a linguagem do amor, a epistemologia por trás do sentimento.


O olhar do francês Roland Barthes, o homem das fotos e vídeos – o olho que nos vê –, é sempre terno e até mesmo um pouco triste. Já o olhar de Roland Barthes, o teórico dos livros e artigos – o olho que nos lê –, esse é cortante como um caco de vidro. Barthes foi uma incansável usina de ideias, que, entre as décadas de 1950 e 1980, produziu reflexões capazes de revolucionar diversas áreas do conhecimento que sondam a linguagem (essa misteriosa matriz organizadora da consciência): fotografia, semiologia, ciências sociais, comunicação, filosofia, literatura, linguística e, até mesmo, o amor. Afinal, foi um Barthes recém-sexagenário que decidiu investigar a linguagem do amor, escrever seu vocabulário, investigar a epistemologia por trás de um sentimento tão complexo, lindo e perigoso. Ele dedicou seu seminário na École Pratique des Hautes Études (Ephe), entre 1974 e 1976, aos sonhos e fantasmas, aos dramas e delícias que devastam a alma dos apaixonados. Do seminário nasce o livro Fragmentos de um discurso amoroso, publicado em 1977.


A obra imediatamente causou alvoroço. Muitos acusaram Barthes de ser um aventureiro nas terras altas da filosofia, um incendiário de ideias, um pistoleiro pós-estruturalista. Isso porque Fragmentos de um discurso amoroso é um livro construído por meio de empréstimos de outros pensadores, também de amigos, inimigos, escritores e poetas. Sequenciado como um dicionário de palavras, frases e verbetes típicos do discurso amoroso, o livro é vibrante em intertextualidades (essa lascívia sádica que arrebata todo e qualquer escriba). “É o best-seller de Barthes”, explica Claudia Amigo Pino, professora de Literatura Francesa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da Universidade de São Paulo: “Os Fragmentos não são um discurso sobre o amor, mas uma forma de produção do amor”.


Mais do que falar sobre o amor, Barthes queria produzir esse sentimento em quem lesse o livro. Segundo Claudia, essa estratégia fazia parte de um projeto experimental, mais achegado à literatura e profundamente biográfico, ao qual ele passou a se dedicar a partir de 1973. “Esse projeto, no entanto, não era desprovido de uma base teórica. A partir, sobretudo, da leitura de Émile Benveniste (1902-1976) e Jacques Lacan (1901-1981), Barthes não pensa mais a linguagem, nesse momento, como uma forma de falar sobre a realidade, mas como uma forma de produção de uma realidade”, conta Claudia. Para isso, ele permitiu que seu texto dialogasse diretamente com Goethe, Lacan, Muller, com anedotas de compadres, com Heine, Proust, com frases de seus alunos ou de seu editor e também com citações suas. Assim como os estilhaços de um espelho, Barthes refletiu o idioma do amor através de um discurso fragmentário. “A fragmentação também tem outro papel: nesse livro, há uma história secreta, um minotauro que precisa estar bem escondido nesse labirinto de fragmentos e referências. Quando, no final, o leitor encontra o monstro, ele se vê impelido a cair no mesmo abismo do qual ele tinha escapado no início. E essa é a grande história de amor do livro”, explica a estudiosa.

             

                                               Fonte: http://www.livrariacultura.com.br/. Trecho.Acesso em: 29/05/2016

A utilização do sinal indicativo de crase em “...mais achegado à literatura e profundamente biográfico” tem a mesma justificativa gramatical em: 

Alternativas
Comentários
  • a-  nao pode crase antes de pronome

    c - palavra feminina

     

  • Observa-se o emprego do acento grave (demarcador da crase) em “...mais achegado à literatura e profundamente biográfico” devido á fusão entre a preposição “a “ requerida pelo nome adjetivo “achegado” e o artigo feminino determinante do substantivo “literatura”. Mesma situação se observa na assertiva dada como correta no gabarito: fusão entre a preposição proveniente do nome também adjetivo “posterior” e o artigo feminino determinante do substantivo “aula”.

    Comentário Prof. Mourão IAP CURSOS!

  • Rafael, a crase antes de pronome possessivo é facultada, e nao proibida.

  • Dúvida:

    A letra B: "Refiro-me à música que escutamos"

    Por que está errada?

    O referir não é VTI? (quem se refere, refere à alguma coisa), logo, refiro-me a a música que escutamos

    Ajudem aí!

  • Daniel,

    analisando bem (a musica) é o objeto direto do  verbo referir e o pronome oblíquo (me) faz a função de objeto indireto. Não é o caso para objeto direto preposicionado então a letra B está errada.

    A frase com susbtituição do pronome: Referi a música que escutamos  a mim mesmo.

    Esse 'a' é só artigo, e não tem preposição por isso não pode ocorrer o fenômeno da crase.

    Espero ter ajudado!

  • Tbm não entendi o erro da B...

  • Como pede a mesma justificativa deve ser por que achegado e posterior são adjetivos(regência nominal) e referir-se é verbo(regência verbal) daí a justificativa ser a letra D. Errei a questão, mas fui analisá-la e vi que pode ser isso.

  • a)Eu vou à minha avó neste feriado.(Neste caso está subentendida a palavra casa: Eu vou à casa de minha avó neste feriado).

     b)Refiro-me à música que escutamos.( Refirir é VTI, logo exige preposição. A oração corresponde a: Refiro-me àquela música que escutamos).

     c)A carta deve ser redigida à caneta. ( Locução prepositiva implicita, pois indica a maneira como deve ser feita a carta).

     d)A reunião de pais é posterior à aula.(Questão correta pois obedece a mesma regra, termo regente é um adjetivo que exige preposição).

  • Só para os forte essa aí!

  • Acho que muita gente não entendeu a questão. Fui pesquisar e notei que o comentário do Celi M é o mais coerente.

  • Comentário da Celi M está parcialmente correto, pois a crase informada na alternativa A justifica-se pelo seguinte motivo:

    Eu vou à minha avó neste feriado.

    minha = é um pronome possessivo adjetivo feminino singular. A regra ortográfica determina que esse é um caso de emprego facultativo da crase.

     

  • Vamos indicá-la para comentário!

  • Dica: a chave dessa questão é discernir regência verbal (referir, redigir, ir) de regência nominal (achegado a / posterior a)

     

  • Galera, acalmem-se. Pois todas as alternativas estão corretas. Todavia, não era isso que o examinador queria, ele queria a mesma regência que a crase foi empregada acima!