SóProvas


ID
2097682
Banca
FUMARC
Órgão
Câmara de Lagoa da Prata - MG
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

DOIS COLUNISTAS E A NORMA CULTA
Sírio Possenti
Publicado em 17 de março de 2016 

Não me lembro de ter ouvido ou lido alguma coisa de Tostão sobre língua, gramática. Esses troços de que os que não são do ramo falam tanto. Mas, salvo engano, andou emitindo juízo bem precário sobre a expressão “correr atrás do prejuízo”, que considerou errada (“ninguém corre atrás do prejuízo” sentenciou, se bem que, como psicanalista, deve ter visto muito disso por aí) e que Cipro Neto comemorou (achei no Google). 
Está lá: “No último domingo, Tostão fez deliciosa “análise crítica de clichês do futebol”. Um deles (“Vamos correr atrás do prejuízo”) recebeu a seguinte observação: “Se o time está perdendo, tem de correr atrás do lucro”. Já vi muita gente boa defender a legitimidade dessa construção (“correr atrás do prejuízo”), com o argumento de que o uso lhe dá razão. O estranho é que ninguém diz que corre atrás do fracasso, do insucesso, da tristeza. O que se diz é que o time corre atrás da medalha, da vitória, da classificação. Por que diabos, então, correr atrás do prejuízo?”.
Idiomatismos, Pasquale! Os idiomatismos e expressões feitas não têm sentido literal. São como os provérbios ou outras expressões do tipo “enfiar o pé na jaca” ou a “a vaca vai pro brejo”. E “risco de vida”, que muita gente corrigiu para “de morte”, sob empurrões da Globo. 
Tostão quis corrigir a cultura. Comentou outras expressões (como “marcar sob pressão”), que podem cansar, mas não veiculam doutrinas erradas. Aliás, por que todos deveriam correr atrás do lucro? Nem Tostão faz isso, que se saiba. Tais expressões exigem boa interpretação: corre-se atrás do prejuízo não para ficar com ele, para aumentá-lo, mas para acabar com ele, para caçá-lo, para anulá-lo.
Mas, em outro domínio, Tostão fornece bons dados para os analistas. No dia 13/03/2016, escreveu: “O amigo e médico Ciro Filogeno sugere, o que concordo…” e, logo depois, “… que nos empates por 0 a 0 os dois times não deveriam ganhar pontos, o que discordo…”. 
Um professor meio cego e pouco lido diria que Tostão errou. O argumento é sempre o mesmo: se é “concordo com”, então é “com o que (ou “com quem”) concordo”; e se é “discordo de”, então é “de que discordo”. Mas isso não é verdade. Tostão apenas escreveu segundo outra regra (uma hora dessas vou ficar de caderninho na mão e anotar todos os casos de novas adjetivas que ouço em rádio e TV, já que ninguém mais usa as antigas, especialmente com “cujo”). 
As frases de Tostão atestam uma tendência poderosa do português, que é a de fazer orações adjetivas sem a preposição (tem sido chamada de cortadora): num dos casos aqui mencionados saiu “com”, no outro, saiu “de”. 
Tostão é obviamente uma pessoa culta, representante no português culto falado e escrito no Brasil, que, entre outras instituições, a escola deveria encampar. (Isso não significa que não se pode ou não se deve empregar a forma tradicional, ou mesmo que ela não seja ensinada. Sem emprego pode ser um bom índice de escrita mais consciente, ou monitorada, o que é bom. É bom, mas não é a única alternativa correta). 
Já Ferreira Gullar, ferrenho defensor da gramática (mas eu duvido que a estude!) que a professorinha lhe ensinou (devia ser bem fraquinha), como repetidamente insiste em dizer, escreveu no mesmo dia em sua coluna “que preferem abrir o jogo do que pagar a culpa…” (está avaliando as delações premiadas como o faria um taxista ouvinte da CBN). 
Não quero dizer que a escrita de Ferreira Gullar tem problemas (pelo contrário: este é seu lado bom), como provavelmente diriam os que repetem “se é concordo com, então é com o que concordo”. Quando eu estava no então quinto ano, antes do então ginásio, já estudava uma lista de palavras que incluíam “preferir a” em vez de “preferir (mais) do que”. Pois a construção dita “errada” está cada vez mais viva e é cada vez mais empregada por pessoas cultas (vou tentar ouvir o Merval Pereira, por mais difícil que isso seja). Portanto, é cada vez mais “normal”. 
As relativas de Tostão (que são de todos, aliás) e a regência de Ferreira Gullar não deveriam mais implicar perda de pontos nas redações, nem serem objeto de provas “objetivas”.
PS 1 – a famosa coluna de Tostão que Pasquale comentou está em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk0201200009.htm. Tostão questiona, de fato, uma lista grande de clichês. Vejam o segundo da lista: “Empatar fora de casa é bom.” Em um campeonato que a vitória vale três pontos, empatar é sempre ruim. Repararam em “Em um campeonato que a vitória…”? Também aqui “falta” uma preposição. É sempre a mesma regra! Claro que ninguém critica a gramática de Tostão (nem o fez Pasquale, que vivia disso). Um indício de que (“que”, diria o colunista) pertence à “elite intelectual”, cuja gramática é, portanto, culta. Ele diria “cuja”? Duvido.
PS 2 – Da tira Júlio & Gina de segunda, dia 14/03 (Folha de S. Paulo): – Você não odiava TV? – Achei uma coisa que eu gosto. Lá se foi mais uma preposição numa relativa. Minha aposta é que ninguém percebe.
Ref.: https://blogdosirioblog.wordpress.com/page/2/ [adaptado]

Na frase Já vi muita gente boa defender a legitimidade dessa construção (“correr atrás do prejuízo”), com o argumento de que o uso lhe dá razão., o pronome dessa é classificado como:

Alternativas
Comentários
  • Anáfora - retoma por meio de referência um termo anterior.

    Catáfora - termo usado para fazer referência a um outro termo posterior.

    O pronome "dessa" não se refere à construção "correr atrás do prejuízo"? Alguém pode me explicar porque é Anáfora e não Catáfora?

  • Acho que o cansaço me abateu... Claro não pode ser catáfora. O demonstrativo "esse" se refere ao que já foi dito antes... Não acredito que errei.

     

  • Pegadinha do Malandro !!!!!

     

    a) Gabarito. O termo "dessa" não está se referindo à "(correr atrás do prejuízo)" mas sim a frase que está la L.4:

    Está lá: “No último domingo, Tostão fez deliciosa “análise crítica de clichês do futebol”. Um deles (“Vamos correr atrás do prejuízo”) recebeu a seguinte observação.

     

    b) Errada. Não é catafórica, pois está se referindo ao termo "vamos correr atrás do prejuízo" exposto na L.4.

     

    c) Errada

     

    d) Errada.

     

    GABARITO A

  • Uma matéria fácil se tornou um tormento com essa questão... me agarrei a ideia que "dessa" só poderia se referir a algo que foi dito antes, dai marquei A. 

  • Errei a questão simplesmente por não ler o texto e considerar apenas o enunciado...  =(

  • desTa= vai ser dito (catafórico)

    desSa= já foi dito (anafórico)

  • desTa= vai ser dito (catafórico)

    desSa= já foi dito (anafórico)

  • alguém aí explica o que é dêixis?

  • Marquei opção A e deu errado. =0

    Nunca que é catafórica. Família SS é da anafórica

  • Olha, é muito pegadinha essa questão...

    Vejam a regra geral sobre a matéria em um contexto global:

    ----------------------------------------------------------

    Anáfora e Catáfora

    ****A anáfora e a catáfora são elementos de coesão que fazem uso desses pronomes a fim de trazer harmonia para os texto.

    **Este funciona como elemento catafórico porque anuncia algo que será dito.

    Exemplo:
    Os livros que quero são estes: o de ficção científica, o romance e o livro de artes.

    **Esse, por sua vez, funciona como elemento anafórico porque faz referência a algo que foi dito.

    Exemplo:
    O de Ficção científica, o romance e o livro de artes. São esses os livros que quero.

    **Aquele: Distante ou Passado Remoto

    Outro pronome que também gera dúvida é aquele, cujo posicionamento indica proximidade da pessoa ou da coisa de quem se fala. Assim:

    Aquele(s), aquela(s) e aquilo indicam uma posição distante (espacial) ou passado remoto (temporal) em relação à pessoa ou coisa de quem se fala, ou seja, a 3.ª pessoa do discurso - ele(s) e ela(s).

    Exemplos:

    De quem são aquelas coisas ali jogadas?

    Aquele dia foi inesquecível! Já lá vão uns anos...

    Fonte: https://www.todamateria.com.br/quando-usar-este-ou-esse/

    ----------------------------------------------------------

    Agora vejam o enunciado da questão:

    Na frase Já vi muita gente boa defender a legitimidade dessa construção (“correr atrás do prejuízo”), com o argumento de que o uso lhe dá razão., o pronome dessa é classificado como:

    Quando o examinador fala "Na frase"... ele quis que analisássemos SOMENTE essa frase... pouco importando a regra geral do SS ou ST...

    Então, NA FRASE, o dessa funciona SIM como Catáfora... pois, o termo ao qual ele se refere está logo após e ainda não foi citado (“correr atrás do prejuízo”).

    Acho de uma crueldade sem limites... rsrsr... mas acontece !!!

  • O GABARITO DIZ QUE É LETRA  B

  • Questão FDP, pois o termo veio pósposto ( catáfora ) entre parentêses. Teoricamente deveria ser anáfora.

  • Afinal, gabarito A ou B?? rsrs...

  • Após recurso, GABARITO OFICIAL é a alternativa B.

    Já indiquei para comentário.

  • Então deveria ser desTa! ¬¬

  • A FUMARC é extremamente contextualizada, ela deixa de lado a regra completamente em prol do contexto, do sentido original. Ela é capaz de dizer que a conjunção "e" em "Ele acordou tarde e perdeu o ônibus" é consecutiva, pois acordar tarde traz a consequência de perder o ônibus.

  • QUAL É A RESPOSTA? É A OU B?

    OU A C? OU D?

    E?

    OU NENHUMA?

    CADA UM FALA UM C4R4LH0 DIFERENTE