SóProvas


ID
2099332
Banca
FUNDEP (Gestão de Concursos)
Órgão
IFN-MG
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

INSTRUÇÃO: Leia o texto a seguir para responder à questão.

A rara síndrome que faz homem pensar que está morto

— Bom dia, Martin. Como você está?

— Da mesma forma, eu suponho. Morto.

— O que te faz pensar que está morto?

— E você, doutor? O que te faz pensar que está vivo?

O médico é Paul Broks, neuropsicólogo clínico, que estuda a relação entre a mente, o corpo e o comportamento. O caso de Martin é muito raro, segundo Broks.

— Tenho certeza absoluta que estou vivo, pois estou sentado aqui, conversando com você. Estou respirando, posso ver coisas. Creio que você também faz o mesmo e, por isso, também tenho certeza que você está vivo.

— Não sinto nada. Nada disso é real.

— Você não se sente como antes, ou se sente um pouco deprimido, talvez?

— Nada disso. Não sinto absolutamente nada. Meu cérebro apodreceu, nada mais resta em mim. É hora de me enterrar.

O paciente realmente pensava estar morto ou era uma metáfora? “Ele, literalmente, achava que estava morto”, conta Broks.

— Mas você está pensando nisso. Se está pensando, deve estar vivo. Se não é você, quem estaria pensando?

— Não são pensamentos reais. São somente palavras.

Martin sofria da síndrome de Cotard – também conhecida como delírio de negação ou delírio niilista – uma doença mental que faz a pessoa crer que está morta, que não existe, que está se decompondo ou que perdeu sangue e órgãos internos. A doença mexe com nossa intuição mais básica: a consciência de que existimos.

Todos temos um forte sentido de identidade, uma pequena pessoa que parece viver em algum lugar atrás de nossos olhos e nos faz sentir esse “eu” que cada um de nós somos. O que acontece com Martin, agora que ele não tem esse “homenzinho” na cabeça? Agora que ele pensa que não existe? Há um filósofo que tem a resposta, segundo Broks.

“Descartes dizia que era possível que nosso corpo e nosso cérebro fossem ilusões, mas que não era possível duvidar de que temos uma mente e de que existimos, pois se estamos pensando, existimos”, diz o neuropsicólogo. O paradoxo aqui é que os pacientes de Cotard não conseguem entender o “eu”.

Adam Zeman, da Universidade de Exeter, no Reino Unido, acredita que o “eu” está representado em diversos lugares do cérebro. “Creio que está representado inúmeras vezes. Está em todas as partes e em nenhuma”, explica Zeman à BBC. Zeman esclarece que, entre essas representações, está a do corpo (o “eu” físico), o “eu” como sujeito de experiências, e nosso “eu” como entidade que se move no tempo e no espaço. “Estamos conscientes de nosso passado e podemos projetar nosso futuro. Então, temos o ‘eu’ corporal, o ‘eu’ subjetivo e o ‘eu’ temporal”, diz Zeman. “Isso é a consciência estendida, o ‘eu’ autobiográfico, o que nos leva ao caso de Graham, um outro paciente com síndrome de Cotard”, diz Broks.

“Ele tentou se suicidar ao jogar um aquecedor elétrico ligado, na água da banheira, mas não sofreu nenhum dano físico sério”, lembra Zeman, que tratou do caso. “Mas estava convencido de que seu cérebro já não estava mais vivo. Quando o questionava, dava uma versão muito persuasiva de sua experiência”, acrescenta.

“Dizia que já não tinha mais necessidade de comer e beber. A maioria de nós alguma vez já se sentiu horrível e se expressou dizendo ‘estar morto’. Mas com Graham era como se ele tivesse sido invadido por essa metáfora”. A maneira como Graham descrevia sua experiência era tão intrigante que neurologistas decidiram observar como seu cérebro se comportava. Zeman estudou o caso com seu colega Steve Laureys, da Universidade de Liége, na Bélgica.

“Para nossa surpresa, o teste de ressonância mostrou que Graham estava dando uma descrição apropriada do estado de seu cérebro, pois a atividade era marcadamente baixa em várias áreas associadas com a experiência do ‘eu’”, conta Zeman. “Analisei exames durante 16 anos e nunca tinha visto um resultado tão anormal de alguém que se mantinha de pé e que se relacionava com outras pessoas. A atividade cerebral de Graham se assemelha a de alguém anestesiado ou dormindo. Ver esse padrão em alguém acordado, até onde sei, é algo muito raro”, completa Laureys. “Ele mesmo dizia que se sentia um morto-vivo. E que passava tempo em um cemitério, pois sentia que tinha mais em comum com os que estavam enterrados”, lembra Zeman.

“Se colocamos alguém em uma máquina de ressonância magnética e pedimos que relaxe, esses são os conjuntos de regiões cerebrais que permanecem mais ativos. São essas regiões que estão ligadas a nossa habilidade de recordar o passado e projetarmos o futuro, a pensar em si e nos outros, bem como às decisões morais”, completa. “Todas essas funções estão associadas ao ‘eu’.” 

No caso de Graham, essa rede não funcionava apropriadamente.

De certa maneira, ele estava morto.

JENKINS, Jolyon. A rara síndrome que faz homem pensar que está morto. Jul. 2016. BBC. Disponível em: . Acesso em: 18 dez. 2016 (Adaptação)

Releia o trecho a seguir.

“Meu cérebro apodreceu, nada mais resta em mim.”

Assinale a alternativa em que a acentuação da palavra destacada não se justifica pelo mesmo motivo daquela do trecho anterior.

Alternativas
Comentários
  • “Meu cérebro apodreceu, nada mais resta em mim.”  ( proparoxitona)

     

    a unica que não e... e a letra A ( proparoxitona)

  • Todas são proparoxítonas terminadas em vogal, menos a letra ( A ), que é uma paroxítona terminada em ( L ). Portnato gabarito letra ( A )

  • roxítonasé paroxítona terminada em ditongo.   E todas as proparoxítonas são acentuadas.

  • Cérebro é proparoxítona e, pela regra, toda proparoxítona é acentuada. Analisando os itens, pode-se perceber que tanto ressonância,quanto metáfora são proparoxítonas. Tendo, portanto a letra A como resposta, pois se trata de uma paroxítona terminada em L.

  • A questão é passível de anulação: 

    Cérebro = "cé-re-bro" = proparoxítona;

    A) Horrível = "hor-rí-vel" = paroxítona terminada em "L"; 

    B) Neuropsicólogo = "neu-ro-psi-có-lo-go" = proparoxítona;

    C) Ressonância = "res-so-nân-cia" = paroxítona terminada em ditongo crescente;

    D) Metáfora = "me-tá-fo-ra" = proparoxítona.

    A questão pede que seja assinalada a alternativa em que a acentuação da palavra destacada não se justifica pelo mesmo motivo da palavra "cérebro". Assim, as palavras "horrível" e "ressonância" têm suas respectivas acentuações gráficas por regra distinta da palavra "cérebro". 

  • Gabarito: A

     

    “Meu cérebro apodreceu, nada mais resta em mim.” Cérebro - Acentuada por ser proparoxítona

     

    “A maioria de nós alguma vez já se sentiu horrível […]” Horrível - acentuada po ser Paroxítona terminada em L

     

    “O médico é Paul Broks, neuropsicólogo clínico […]” Neuropsicólogo - Acentuada por ser proparoxítona

     

    “[…] o teste de ressonância mostrou que Graham estava dando uma descrição […]” Ressonância - Embora seja uma paroxítona terminada em ditongo crescente, algumas bancas consideram esse tipo de palavra uma proparoxítona eventual

     

    “O paciente realmente pensava estar morto ou era uma metáfora?” Metáfora - Acentuada por ser proparoxítona

  • O conhecimento que a banca buscou verificar de nós, concurseiros, foi sobre o fenômeno das proparoxítonas eventuais.

    Regra: Todas as proparoxítonas são acentuadas.

    Regra: Paroxítonas terminadas em "l, n. r, ps, x, us, i(s), us, om(ons), um(uns), ã(s), ão(s), ditongos orais" são acentuadas.

    Fato notável: As paróxitonas terminadas em ditongos orais crescentes (-ea, -eo, -ia, -ie, -io, -ua, -ue, -uo) são acentuadas por duas motivações possíveis:

    1- por serem paroxítonas (comum no Brasil);

    2- por serem propraroxítonas (mais comum nas demais comunidadedes que tem o português como língua).

    sendo denominadas, por isso, de proparoxítonas eventuais (como muito bem colocado pelo colega Roberto Vicente), relativas ou aparentes. Veja que tal fato é um fenômeno fônico, e que tende a ser regional. Não vou comentar item a item, por já ter sido feito isso, apenas quis acrescentar mais dados à solução da questão.

    Resposta: a.

     

  • A questão exige que o candidato tenha conhecimento das chamadas proparoxítonas EVENTUAIS,RELATIVAS OU ACIDENTAIS...

    RESSONÂNCIA é uma paroxítona terminada em ditongo crescente. Exatamente por isso (devido à elasticidade dos ditongos crescentes na pronúncia), a sílaba final pode — repito: pode —, numa pronúncia escandida, ser dividida em duas (/RES-SO-NÂN-CI-A/), o que transforma palavras desse tipo, NA FALA, em proparoxítonas. Alguns autores, inclusive, para assinalar o fato, dizem que as paroxítonas terminadas em ditongo crescente podem ser chamadas de proparoxítonas eventuais, relativas ou acidentais (É O QUE A BANCA CONSIDEROU)— mas elas continuam a ser paroxítonas

    GABA A

  • Ela foi anulada, mas é só lembrar das proparoxítonas eventuais como a galera aí falou :)

     

    Gbarito = A

  • cérebro: Cé-re-bro - Proparoxítona horrível: Hor-rí-vel - Paroxítona terminada em L. neuropsicólogo: Neu-ro-psi-có-lo-go - Proparoxítona ressonância: Res-so-nân-ci:a  - Paroxítona terminada ditongo crescente, ou também, chamada de Proparoxítona eventual metáfora: me-tá-fo-ra - Proparoxítona


    A banca aceitou os recursos, mas poderia não aceitar.