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ID
2104642
Banca
FCC
Órgão
Prefeitura de Teresina - PI
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

À beira do abismo

Em 1888, Van Gogh compartilhou, por três meses, uma casa com o pintor Paul Gauguin. Um dia, o amigo resolveu retratá-lo enquanto ele pintava seus girassóis. Ao ver pela primeira vez o quadro, que o flagra no último lugar em que poderia estar, pois um pintor se julga sempre fora da pintura, Van Gogh exclamou: “Sou eu, é claro, mas eu me tornando louco”. 

A arte como expressão da loucura ou, ao contrário, como opção pela loucura? Van Gogh teve um psiquiatra que, adepto da segunda hipótese, pensou em “curá-lo” da pintura. É claro, não conseguiu. A arte como vírus, como uma contaminação?

Penso nas poucas telas que Clarice Lispector pintou. Telas tensas, desagradáveis: manifestações de gênio ou de insanidade? Elas ajudaram a deprimir Clarice ou, ao contrário, ajudaram a salvá-la? Recordo a Clarice que visitei um dia, sentada em sua cozinha diante de uma fatia de bolo, um tanto apática, a me dizer: “Comer bolo não me interessa. O que eu preciso é de água. De água e de literatura”. 

Vista assim, como uma necessidade primária, a literatura revela sua potência, mas também seus riscos. Riscos que os escritores, para se consolar, transportam para o interior da escrita. Para dar sentido àquelas partes de si que não pode controlar, o escritor deve correr o risco de sair de si. Ele se dedica justamente àquilo que, anestesiados pela ideia de normalidade, evitamos. 

A matéria da literatura vem, de fato, dessas zonas abissais em que as certezas se esgarçam, a nitidez se esvai e a dúvida comanda. Muitos não suportam. “Nascemos e crescemos num cárcere e por isso achamos naturais esses ferros nos pulsos e nos pés”, escreveu o alemão Georg Büchner. Mas os escritores, não: eles preferem sangrar mãos e pés, e bordejar o abismo, a sucumbir. E isso se parece com a loucura. 

O problema é que aquilo que o escritor enfrenta está sempre dentro de si. De certa forma, em consequência, todo escritor escreve “contra si”. Daí a dúvida que Machado sintetiza em O alienista: estarão os escritores no lugar dos médicos, que amparam e curam, ou de seus pacientes, que resistem e esperneiam? A resposta não é fácil: eles ocupam ao mesmo tempo os dois lugares: vestem o jaleco da saúde, mas também os grilhões da ignorância.

(Adaptado de: CASTELLO, José. Sábados inquietos. Brasília, IMP, 2013, p. 6-7) 

Nascemos e crescemos num cárcere e por isso achamos naturais esses ferros nos pulsos e nos pés (5o parágrafo)

Essa frase está reescrita com correção, sem contradizer a mensagem original, em: 

Alternativas
Comentários
  • Gabarito letra e).

     

    Nascemos e crescemos num cárcere e por isso ( "por isso" está retomando "Nascemos e crescemos num cárcere") achamos naturais esses ferros nos pulsos e nos pés.

     

    Partindo dessa premissa, pode-se concluir que por nascermos e crescermos num cárcere (CAUSA) faz com que achemos naturais esses ferros nos pulsos e nos pés (CONSEQUÊNCIA/DECORRÊNCIA).

     

    Logo, a única alternativa que se encaixa nessa interpretação é a letra e).

     

     

     

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  • a) Se nascemos e crescemos num cárcere (impôs uma possibilidade), consideremos naturais esses ferros nos pulsos e nos pés. 

     

    b) À medida que (sentido de à proporção que) nascemos e crescemos num cárcere, é natural acharmos esses ferros nos pulsos e nos pés.

        

       ✓ O ideal seria usar "Na medida em que" que indica ideia de causa, e significa uma vez que, visto que, tendo em vista:

          Na media em que nascemos e crescemos num cárcere, é natural acharmos esses ferros nos pulsos e nos pés.

          Uma vez que nascemos e crescemos num cárcere, é natural acharmos esses ferros nos pulsos e nos pés.

          Visto que nascemos e crescemos num cárcere, é natural acharmos esses ferros nos pulsos e nos pés.

          Tendo em vista que nascemos e crescemos num cárcere, é natural acharmos esses ferros nos pulsos e nos pés.

     

    c) Enquanto nascermos e crescermos num cárcere, ter esses ferros nos pulsos e nos pés são naturais (aqui afirmou, quando na verdade o correto é acharmos).

     

    d) Ao nascermos e crescermos num cárcere, esses ferros nos pulsos e nos pés passam a ser tido como naturais (afirmou). 

     

    e) Por nascermos e crescermos num cárcere, julgamos ser naturais esses ferros nos pulsos e nos pés.

     

    Fonte: https://www12.senado.leg.br/manualdecomunicacao/redacao-e-estilo/estilo/a-medida-na-medida-em-que

     

     

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    "Caminhando e semeando, no fim terás o que colher."

  • Engraçado que até a alternativa correta está errada. "Julgamos ser naturais esses ferros nos pulsos e nos pés". O verbo "ser" é predicado do sujeito "ferros (...)", ou seja, deveria estar no plural: Julgamos serem naturais esses ferros e pulsos nos pés. Afinal de conta, os FERROS SÃO e não OS FERROS É.