SóProvas


ID
2137078
Banca
FUNCAB
Órgão
INCA
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                              O suor e a lágrima


     Fazia calor no Rio, 40 graus e qualquer coisa, quase 41. No dia seguinte, os jornais diriam que fora o mais quente deste verão que inaugura o século e o milênio. Cheguei ao Santos Dumont, o voo estava atrasado, decidi engraxar os sapatos. Pelo menos aqui no Rio, são raros esses engraxates, só existem nos aeroportos e em poucos lugares avulsos.

     Sentei-me naquela espécie de cadeira canônica, de coro de abadia pobre, que também pode parecer o trono de um rei desolado de um reino desolante.

     O engraxate era gordo e estava com calor – o que me pareceu óbvio. Elogiou meus sapatos, cromo italiano, fabricante ilustre, os Rosseti. Uso-o pouco, em parte para poupá-lo, em parte porque quando posso estou sempre de tênis.

     Ofereceu-me o jornal que eu já havia lido e começou seu ofício. Meio careca, o suor encharcou-lhe a testa e a calva. Pegou aquele paninho que dá brilho final nos sapatos e com ele enxugou o próprio suor, que era abundante.

     Com o mesmo pano, executou com maestria aqueles movimentos rápidos em torno da biqueira, mas a todo instante o usava para enxugar-se – caso contrário, o suor inundaria o meu cromo italiano.

     E foi assim que a testa e a calva do valente filho do povo ficaram manchadas de graxa e o meu sapato adquiriu um brilho de espelho à custa do suor alheio. Nunca tive sapatos tão brilhantes, tão dignamente suados.

     Na hora de pagar, alegando não ter nota menor, deixei-lhe um troco generoso. Ele me olhou espantado, retribuiu a gorjeta me desejando em dobro tudo o que eu viesse a precisar nos restos dos meus dias.

     Saí daquela cadeira com um baita sentimento de culpa. Que diabo, meus sapatos não estavam tão sujos assim; por míseros tostões, fizera um filho do povo suar para ganhar seu pão. Olhei meus sapatos e tive vergonha daquele brilho humano, salgado como lágrima.

(CONY, Carlos Heitor. O suor e a lágrima. Folha de S. Paulo. Primeiro Caderno. Opinião.A2. 19 fev. 2001.) 

“E foi assim que a testa e a calva do valente filho do povo ficaram manchadas de graxa...” (§ 6)
A concordância do verbo com o sujeito composto, em regra, é feita com o verbo no plural, como na oração acima. Das orações a seguir, aquela em que há erro de concordância, pois o verbo destacado só pode ser expresso no singular, é:

Alternativas
Comentários
  • Locução verbal com o verbo Haver (sentido de existir ou ocorrer), transfere sua impessoalidade para o verbo auxiliar, assim o correto seria:

    c) "Deve haver", nos outros aeroportos......

    Fonte: professor Arenildo, do Qconcurso

  • Já sabemos que HAVER no sentido de EXISTIR permanece no singular. Na junção DEVE+ HAVER , o deve é verbo auxiliar e o haver é o verbo principal. E o principal CONTAMINA o auxiliar, mantendo-o no singular também.

    ALTERNATIVA C

  • MUITO FÁCIL.

  • Obrigado Isaias, aprendi demais com teu comentário!

  • essa banca gosta do "haver" no sentido de existir

  • Sendo Haver verbo impessoal, o verbo auxiliar deverá estar obrigatoriamente na forma impessoal também, ou seja, na terceira pessoa do singular.

  • Sem entrar em pormenores, a concordância verbal diz respeito à correta flexão do verbo a fim de concordar com o sujeito, ao passo que a nominal se refere à adequada flexão entre substantivo e seus modificadores (pronome, numeral, adjetivo) em matéria de gênero (masculino e feminino) e/ou número (plural e singular). Nesta questão, deve-se reconhecer incorreta flexão verbal. Inspecionemos:

    a) Tanto o jornal quanto a revista, talvez por serem da mesma empresa, FAZIAM uma previsão pessimista sobre a economia.

    Correto. Há dois núcleos: jornal e revista. O verbo se flexiona no plural;

    b) PASSARÃO, na história da humanidade, não apenas séculos, mas também milênios, para ocorrer outro acidente como este.

    Correto. Há mais de um núcleo: séculos e milênios. Flexiona-se o verbo no plural;

    c) DEVEM HAVER, nos outros aeroportos, engraxates e capelas para orações.

    Incorreto. Em locuções verbais em que o "haver" for o verbo principal, mantém-se no singular o verbo auxiliar, visto que a inflexibilidade do "haver" é emanada para o verbo próximo;

    d) Considera-se que um rei desolado e um reino desolante só TRAZEM problemas para o povo.

    Correto. Há dois núcleos: rei e reino. Flexiona-se o verbo no plural;

    e) OCORRERAM naquele dia um atraso e cinco cancelamentos de voos.

    Correto. O verbo apresenta-se deslocado para antes do sujeito composto. Nessa ocorrência, flexiona-se no singular a fim de concordar com o núcleo mais próximo (atraso) ou no plural para concordar com ambos (atraso e cancelamentos).

    Letra C