SóProvas


ID
2137096
Banca
FUNCAB
Órgão
INCA
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                              O suor e a lágrima


     Fazia calor no Rio, 40 graus e qualquer coisa, quase 41. No dia seguinte, os jornais diriam que fora o mais quente deste verão que inaugura o século e o milênio. Cheguei ao Santos Dumont, o voo estava atrasado, decidi engraxar os sapatos. Pelo menos aqui no Rio, são raros esses engraxates, só existem nos aeroportos e em poucos lugares avulsos.

     Sentei-me naquela espécie de cadeira canônica, de coro de abadia pobre, que também pode parecer o trono de um rei desolado de um reino desolante.

     O engraxate era gordo e estava com calor – o que me pareceu óbvio. Elogiou meus sapatos, cromo italiano, fabricante ilustre, os Rosseti. Uso-o pouco, em parte para poupá-lo, em parte porque quando posso estou sempre de tênis.

     Ofereceu-me o jornal que eu já havia lido e começou seu ofício. Meio careca, o suor encharcou-lhe a testa e a calva. Pegou aquele paninho que dá brilho final nos sapatos e com ele enxugou o próprio suor, que era abundante.

     Com o mesmo pano, executou com maestria aqueles movimentos rápidos em torno da biqueira, mas a todo instante o usava para enxugar-se – caso contrário, o suor inundaria o meu cromo italiano.

     E foi assim que a testa e a calva do valente filho do povo ficaram manchadas de graxa e o meu sapato adquiriu um brilho de espelho à custa do suor alheio. Nunca tive sapatos tão brilhantes, tão dignamente suados.

     Na hora de pagar, alegando não ter nota menor, deixei-lhe um troco generoso. Ele me olhou espantado, retribuiu a gorjeta me desejando em dobro tudo o que eu viesse a precisar nos restos dos meus dias.

     Saí daquela cadeira com um baita sentimento de culpa. Que diabo, meus sapatos não estavam tão sujos assim; por míseros tostões, fizera um filho do povo suar para ganhar seu pão. Olhei meus sapatos e tive vergonha daquele brilho humano, salgado como lágrima.

(CONY, Carlos Heitor. O suor e a lágrima. Folha de S. Paulo. Primeiro Caderno. Opinião.A2. 19 fev. 2001.) 

“... tudo o que eu VIESSE a precisar nos restos dos meus dias.” (§ 7)
O verbo em maiúsculas no fragmento acima se flexiona em português por um padrão especial, padrão que também se aplica a todos os seus derivados. Assim, pode-se afirmar que constitui um desvio em relação à norma culta da língua o verbo flexionado em:

Alternativas
Comentários
  • "CONVÊM" ESTÁ FAZENDO REFERÊNCIA À "BOA CAMARADAGEM", QUE ESTÁ NO [SINGULAR]. PORTANTO, O VERBO DEVERIA ESTAR ESCRITO ASSIM: CONVÉM.

  • Verbo no Presente do subjuntivo: expressa um desejo ou acontecimento provável.

    A frase que mais se adequa é a do item D.

  • Na alternativa C), a parte "tua opinião" nos permite concluir que o sujeito desinencial é "tu", e o verbo "intervém" está no imperativo afirmativo. Caso tivesse na frase "sua opinião", então teríamos o sujeito desinencial "você" com o verbo no mesmo tempo.