SóProvas


ID
2137726
Banca
FUNCAB
Órgão
INCA
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Natal na Ilha do Nanja
    Na Ilha do Nanja, o Natal continua a ser maravilhoso. Lá ninguém celebra o Natal como o aniversário do Menino Jesus, mas sim como o verdadeiro dia do seu nascimento. Todos os anos o Menino Jesus nasce, naquela data, como nascem no horizonte, todos os dias e todas as noites, o sol e a lua e as estrelas e os planetas. Na Ilha do Nanja, as pessoas levam o ano inteiro esperando pela chegada do Natal. Sofrem doenças, necessidades, desgostos como se andassem sob uma chuva de flores, porque o Natal chega e, com ele, a esperança, o consolo, a certeza do Bem, da Justiça, do Amor.
    Na Ilha do Nanja, as pessoas acreditam nessas palavras que antigamente se denominavam “substantivos próprios” e se escreviam com letras maiúsculas. Lá, elas continuam a ser denominadas e escritas assim. Na Ilha do Nanja, pelo Natal, todos vestem uma roupinha nova – mas uma roupinha barata, pois é gente pobre – apenas pelo decoro de participar de uma festa que eles acham ser a maior da humanidade. Além da roupinha nova, melhoram um pouco a janta, porque nós, humanos, quase sempre associamos à alegria da alma um certo bem-estar físico, geralmente representado por um pouco de doce e um pouco de vinho. Tudo, porém, moderadamente, pois essa gente da Ilha do Nanja é muito sóbria.
    Durante o Natal, na Ilha do Nanja, ninguém ofende o seu vizinho – antes, todos se saúdam com grande cortesia, e uns dizem e outros respondem no mesmo tom celestial: “Boas-Festas! Boas-Festas!”
    E ninguém pede contribuições especiais, nem abonos nem presentes – mesmo porque se isso acontecesse, Jesus não nasceria. Como podia Jesus nascer num clima de tal sofreguidão? Ninguém pede nada. Mas todos dão qualquer coisa, uns mais, outros menos, porque todos se sentem felizes, e a felicidade não é pedir nem receber: a felicidade é dar. Pode-se dar uma flor, um pintinho, um caramujo, um peixe – trata-se de uma ilha, com praias e pescadores! – uma cestinha de ovos, um queijo, um pote de mel... É como se a Ilha toda fosse um presepe. Há mesmo quem dê um carneirinho, um pombo, um verso! Foi lá que me ofereceram, certa vez, um raio de sol!
    Na Ilha do Nanja, passa-se o ano inteiro com o coração repleto das alegrias do Natal. Essas alegrias só esmorecem um pouco pela Semana Santa, quando de repente se fica em dúvida sobre a vitória das Trevas e o fim de Deus. Mas logo rompe a Aleluia, vê-se a luz gloriosa do Céu brilhar de novo, e todos voltam para o seu trabalho a cantar, ainda com lágrimas nos olhos.
    Na Ilha do Nanja é assim. Árvores de Natal não existem por lá. As crianças brincam com pedrinhas, areia, formigas: não sabem que há pistolas, armas nucleares, bombas de 200 megatons. Se soubessem disso, choravam. Lá também ninguém lê histórias em quadrinhos. E tudo é muito mais maravilhoso, em sua ingenuidade. Os mortos vêm cantar com os vivos, nas grandes festas, porque Deus imortaliza, reúne, e faz deste mundo e de todos os outros uma coisa só.
    É assim que se pensa na Ilha do Nanja, onde agora se festeja o Natal.
(MEIRELES, Cecília. . Rio de Janeiro: Editora do Autor, 4 ed. 1966, p. 169.) Quadr

“Árvores de Natal não existem por lá.” (§ 6)
Das alterações feitas na redação da frase transcrita acima, pode-se dizer que contraria a norma da língua culta quanto à concordância verbal a seguinte:

Alternativas
Comentários
  • a) O verbo haver no sentido de exitir transmite sua impessoalidade para o auxiliar, logo, o correto seria:

    àrvores de natal nao têm(tem) havido por la

  • O verbo auxiliar não pode estar no plural, pois o principal é impessoal. Aplica-se o mesmo à expressão "deve haver". Jamais 'devem haver', sempre 'deve haver'.

    Avaaante

    PMSC 2019

  • Sem entrar em pormenores, a concordância verbal diz respeito à correta flexão do verbo a fim de concordar com o sujeito, ao passo que a nominal se refere à adequada flexão entre substantivo e seus modificadores (pronome, numeral, adjetivo) em matéria de gênero (masculino e feminino) e/ou número (plural e singular). Nesta questão, deve-se reconhecer incorreta flexão verbal. Inspecionemos:

    a) Árvores de Natal não têm havido por lá.

    Incorreto. Em locuções verbais em que o "haver" for o verbo principal, mantém-se no singular o verbo auxiliar, visto que a inflexibilidade do "haver" é emanada para o verbo próximo;

    b) Árvores de Natal não deve haver por lá.

    Correto. Em locuções verbais em que o "haver" for o verbo principal, mantém-se no singular o verbo auxiliar, visto que a inflexibilidade do "haver" é emanada para o verbo próximo;

    c) Árvores de Natal não havia por lá.

    Correto. Em sentido de existência, é impessoal o verbo "haver", ou seja, não varia;

    d) Árvores de Natal não podiam existir por lá.

    Correto. Ao contrário do "haver", o verbo "existir" é pessoal, portanto se flexiona normalmente o auxiliar a fim de concordar com o sujeito;

    e) Árvores de Natal não hão de existir por lá.

    Correto. Aqui, o verbo "haver" é auxiliar, e não principal, de modo que a flexão se dá normalmente com o sujeito.

    Letra E