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ID
2144815
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
EBSERH
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A CHAVE

Ela abre mais do que uma porta, inaugura um novo tempo

IVAN MARTINS

    Certos objetos dão a exata medida de um relacionamento. A chave, por exemplo. Embora caiba no bolso, ela tem importância gigantesca na vida dos casais. O momento em que você oferece a chave da sua casa é aquele em que você renuncia à sua privacidade, por amor. Quando pede a chave de volta - ou troca a fechadura da porta - está retomando aquilo que havia oferecido, por que o amor acabou.

    O primeiro momento é de exaltação e esperança. O segundo é sombrio.

    Quem já passou pela experiência sabe como é gostoso carregar no bolso - ou na bolsa - aquela cópia de cinco reais que vai dar início à nova vida. Carregada de expectativas e temores, a chave será entregue de forma tímida e casual, como se não fosse importante, ou pode vir embalada em vinho e flores, pondo violinos na ocasião. Qualquer que seja a cena, não cabe engano: foi dado um passo gigantesco. Alguém pôs na mão de outro alguém um totem de confiança.

    Não interessa se você dá ou ganha a chave, a sensação é a mesma. Ou quase.

    Quem a recebe se enche de orgulho. No auge da paixão, e a pessoa que provoca seus melhores sentimentos (a pessoa mais legal do mundo, evidentemente) põe no seu chaveiro a cópia discreta que abre a casa dela. Você só nota mais tarde, quando chega à sua própria casa e vai abrir a porta. Primeiro, estranha a cor e o formato da chave nova, mas logo entende a delicadeza da situação. Percebe, com um sorriso nos lábios, que suas emoções são compartilhadas. Compreende que está sendo convidado a participar de outra vida. Sente, com enorme alívio, que foi aceito, e que uma nova etapa tem início, mais intensa e mais profunda que anterior. Aquela chave abre mais do que uma porta. Abre um novo tempo.

    O momento de entregar a chave sempre foi para mim o momento de máximo otimismo.

    [...]

    Você tem certeza de que a outra pessoa ficará feliz e comovida, mas ao mesmo tempo teme, secretamente, ser recusado. Então vê nos olhos dela a alegria que havia antecipado e desejado. O rosto querido se abre num sorriso sem reservas, que você não ganharia se tivesse lhe dado uma joia ou uma aliança. (Uma não vale nada; para a outra ela não está pronta). Por isto ela esperava, e retribui com um olhar cheio de amor. Esse é um instante que viverá na sua alma para sempre. Nele, tudo parece perfeito. É como estar no início de um sonho em que nada pode dar errado. A gente se sente adulto e moderno, herdeiro dos melhores sonhos da adolescência, parte da espécie feliz dos adultos livres que são amados e correspondidos - os que acharam uma alma gêmea, aqueles que jamais estarão sozinhos.

    Se as chaves de despedida parecem a pior coisa do mundo, não são.

    [...]

    A gente sabe que essas coisas, às vezes, são efêmeras, mas é tão bonito.

    Pode ser que dentro de três meses ou três anos a chave inútil e esquecida seja encontrada no bolso de uma calça ou no fundo de uma bolsa. Ela já não abrirá porta alguma exceto a da memória, que poderá ser boa ou ruim. O mais provável é que o tato e a visão daquela ferramenta sem propósito provoquem um sorriso agridoce, grisalho de nostalgia. Essa chave do adeus não dói, ela constata e encerra.

    Nestes tempos de arrogante independência, em que a solidão virou estandarte exibido como prova de força, a doação de chaves ganhou uma solenidade inesperada. Com ela, homens e mulheres sinalizam a disposição de renunciar a um pedaço da sua sagrada liberdade pessoal. Sugerem ao outro que precisam dele e o desejam próximo. Cedem o seu terreno, correm o risco. É uma forma moderna e eloquente de dizer “eu te amo”. E, assim como a outra, dispensa “eu também”. Oferece a chave quem está pronto, aceita a chave quem a deseja, reciproca, oferecendo a sua, quem sente que é o caso, verdadeiramente. Nada mais triste que uma chave falsa. Ela parece abrir uma esperança, mas abre somente uma ilusão.

Adaptado de http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2015/04/chave.html

Em “... aceita a chave quem a deseja...”, o termo destacado exerce função sintática de

Alternativas
Comentários
  • Em “... aceita a chave quem a   deseja...”, o termo

    destacado exerce função sintática de

  • Essa questão tem uma inconsistência que já foi notificada. Não há termo em destaque para análise. Contudo, sendo a ALTERNATIVA CORRETA A LETRA B, temos que o termo destacado provavelmente seria o primeiro artigo "... Aceita a chave quem a deseja..."

  • Onde está o sujeito da oração?

  • Aceita a chave quem deseja A CHAVE (OD)

  • Quem não conseguir ver o que está destacado, tente trocar de navegador. Pode ser isso. 

  • deseja algo

  • sujeito: quem

    verbo principal: deseja

    objeto direto: a

  • Quem deseja ela> OD.

  • Gab: B

    "aceita a chave quem a deseja" (deseja-a)

    Este "a" é um pronome oblíquo e sempre é objeto direto. Vale lembrar que ele está antes do verbo porque foi atraído pelo pronome indefinido "quem" (regrinha de próclise).

  • a) Os pronomes oblíquos o, a, os, as (e as variantes lo, la, los, las, no, na, nos, nas) são sempre objeto direto.

    b) Os pronomes lhe, lhes são sempre objeto indireto.

    c) Os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos podem ser objeto direto ou indireto. ... Portanto, "me" é objeto direto.