- ID
- 2169022
- Banca
- INSTITUTO AOCP
- Órgão
- EBSERH
- Ano
- 2015
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
As imagens e o nosso bem-estar
Por que devemos selecionar o que vemos e evitar
muitos conteúdos - mesmo que sejam recordes de
audiência no Youtube
FLÁVIA YURI OSHIMA
Sabe como é embaçar a própria visão fazendo um
movimento leve de estrabismo? É isso o que faço
quando me aproximo dos jornais pela manhã. Meu
receio é me deparar com alguma imagem forte, triste
e espetacularmente desumana na primeira página.
Tomo o mesmo cuidado para abrir o caderno de
notícias internacionais e o de cidades, e para navegar
na internet ou zapear os canais de TV. Não quero ser
surpreendida com provas visuais dos crimes locais e
globais ou com cenas de séries que mostram como
dissecar cadáveres. Se ocorrer, será um caminho
sem volta. A visão ficará gravada em minha mente por
mais tempo do que sou capaz de precisar. Talvez por
toda a minha sanidade.
O cuidado para evitar conteúdos violentos não
é um tipo de negação da realidade. Eventualmente,
temos de nos defrontar com certas cenas para nos
mobilizar. Um dos propósitos de museus como o de
Hiroshima e os do Holocausto, que tentam reproduzir
a atmosfera de episódios extremos, é justamente esse:
nos tirar da zona de conforto. Mais do que documentar e
prestar homenagem aos que sofreram, eles tentam gerar
sensações que passem algum tipo de ideia do horror
vivido pelas vítimas desses eventos. É uma forma de
acionar nossa memória sinestésica [...].
Uma das ideias por trás desses memoriais é não
deixar que nos esqueçamos do tamanho do horror para
não deixar que ele se repita. Uma diferença fundamental
em relação ao que vemos numa visita a um museu
desses e à avalanche de conteúdos alucinados de todos
os dias é que, no primeiro caso, escolhemos estar lá – e
nos preparamos para o que vamos sentir. O mesmo
não ocorre com a maioria das imagens que assaltam-nos
em programas sensacionalistas, filmes e internet.
[...]
Vários estudos analisaram o efeito das imagens
em nosso bem-estar e até em nossa saúde física.
Uma longa pesquisa, feita por estudiosos da
Universidade da Califórnia, acompanhou 1322
pessoas por vários anos, usando imagens de alguns
eventos extraordinários dos últimos 12 anos: o 11
de setembro, o tsunami da Tailândia, a guerra do
Iraque, a morte de Osama Bin Laden e o tsunami do
Japão. Diariamente, os voluntários acompanharam
notícias com imagens, na TV ou na internet, por
pelo menos uma hora, durante seis meses. Uma
hora é o período de tempo regular que alguém que
acompanha noticiários, pelo meio que for, fica em
contato com conteúdos extremos no primeiro mês
após um evento da magnitude dos analisados. Mais
de 30% dos voluntários sofreram crises de dor
de cabeça diárias. Do total de participantes, 13%
chegaram ao nível de estresse agudo, com alterações
nos batimentos cardíacos e na atividade cerebral,
medidos por exames de imagem, a partir de seis
semanas de exposição contínua a esses conteúdos.
Os casos de estresse agudo exigiram tratamento com
medicamento e terapia.
Os pesquisadores acompanharam o grupo que
desenvolveu sintomas mais acentuados ao longo
de três anos. Nesse período, qualquer imagem que
remetesse aos eventos voltava a causar dores de
cabeça, ansiedade e irritabilidade. Mesmo entre os
participantes que não tiveram problemas de saúde,
as imagens produziram ansiedade e desconforto
no momento e por cerca de 3 horas depois de
apresentadas, também durante os três anos de
acompanhamento depois do experimento principal.
Algumas religiões e filosofias orientais pregam que
devemos evitar falar, ler e olhar imagens de violência
e catástrofes. Ao proteger nossos sentidos contra
conteúdos como esses, protegemos nosso espírito,
nossa mente e nosso bem-estar, afirmam. Para quem
não é monge, não dá para seguir esses preceitos
sem se tornar um desconectado com a realidade.
Mas é saudável e recomendável fazer uma dieta de
imagens, protegendo-se de atrocidades e aberrações
desnecessárias. Fotos e vídeos agressivos têm um
efeito real sobre a nossa qualidade de vida.
Adaptado de http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/Flavia-Yuri-Oshima/noticia/2014/11/imagens-e-o-nosso-bbem-estarb.html
Em “Os pesquisadores acompanharam o grupo
que desenvolveu sintomas mais acentuados
ao longo de três anos.”, o termo destacado,
sintaticamente, exerce função de