SóProvas


ID
2179621
Banca
FUMARC
Órgão
CEMIG-TELECOM
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Variabilidade na invariabilidade

    Uma pergunta que se poderia fazer é a seguinte: se discursos de natureza muito diferente utilizam-se dos mesmos elementos semânticos, como, por exemplo, liberdade, felicidade, justiça, de que maneira se pode distingui-los?
    É preciso estabelecer uma diferença entre um nível profundo e um nível de superfície. Por exemplo, numa história de fadas, o príncipe necessita sempre de um objeto mágico para vencer seu oponente e ficar com a princesa. Numa história, é um anel mágico; noutra, é uma espada mágica e assim por diante. Os elementos semânticos que aparecem na superfície (um objeto mágico determinado) são variações que concretizam um elemento semântico invariante, mais abstrato e mais profundo, o poder-vencer.
    A liberdade pode ser concretizada, por exemplo, como "evasão espacial" (ida para uma ilha no Pacífico Sul, ida para um lugar perdido na floresta amazônica) ou como ''evasão temporal" (volta à infância). O discurso de muitos poetas românticos concretiza assim a liberdade. No entanto, a liberdade poderia ainda aparecer na superfície como “direito à diferença, à singularidade" (observe-se o discurso de certas minorias) ou como "não-exploração", que poderia ser a forma de um partido operário entender a liberdade
    Analisando, cuidadosamente, a maneira como um elemento semântico da estrutura profunda se concretiza, não vamos confundir dois ou três discursos distintos só porque todos eles falam em liberdade. É importante verificar em cada um deles o que é que "liberdade" significa, isto é, como é que ela é concretizada.
    Cada um dos níveis não tem apenas uma semântica, tem também uma sintaxe própria. Não interessa, porém, neste trabalho, expor todos os elementos da sintaxe do nível profundo e do nível superficial, pois estamos fazendo todas essas distinções com a finalidade de precisar o nível em que a linguagem sofre determinações sociais.
    Podemos agora determinar com maior precisão o componente da linguagem em que percebemos com toda a nitidez a determinação ideológica. Dissemos anteriormente que era a semântica discursiva que mostrava, com clareza, uma maneira de ver o mundo de uma dada sociedade numa determinada época. Isso, a nosso ver, está correto, pois não é indistinto falar da "liberdade" ou da "ordem", da "riqueza" ou do "amor ao próximo". No entanto, estudar as coerções ideológicas só com os elementos da estrutura profunda pode, como já mostramos, falsear a análise. É no nível superficial, isto é, na concretização dos elementos semânticos da estrutura profunda, que se revelam, com plenitude, as determinações ideológicas. Os discursos que consideram a liberdade como "direito à diferença" ou como "não-exploração da força de trabalho'' pertencem a universos ideológicos distintos .
    Além disso, dois discursos podem trabalhar com os mesmos elementos semânticos e revelar duas visões de mundo completamente diferentes, porque o falante pode dar valores distintos aos elementos semânticos que utiliza. Alguns são considerados eufóricos, isto é, são valorizados positivamente; outros, disfóricos, ou seja, são valorizados negativamente. O conto A gata borralheira e o romance Justine, do Marquês de Sade, colocam em jogo praticamente as mesmas oposições semânticas: submissão, humildade, amor ao próximo, bondade vs. prepotência, orgulho, maldade, cinismo. No primeiro dos textos, são eufóricas as virtudes da submissão e da humildade, que são recompensadas, e disfóricos o orgulho e a prepotência, que são castigados. No segundo texto, eufóricos são os elementos valorizados negativamente no primeiro texto e disfóricos, os valorizados positivamente.

FIORIN, José Luiz. Linguagem e Ideologia. São Paulo: Ática, 2007.

“Analisando, cuidadosamente, a maneira como um elemento semântico da estrutura profunda se concretiza, não vamos confundir dois ou três discursos distintos só porque todos eles falam em liberdade. É importante verificar em cada um deles o que é que "liberdade" significa, isto é, como é que ela é concretizada.”

Esse excerto pode ser sintetizado pelo enunciado:

Alternativas
Comentários
  • "não vamos confundir dois ou três discursos distintos só porque todos eles falam em liberdade" -> Não sentidos fixos que devem ser extraídos dos textos.

     

    Gabarito A

  • Gabarito A. O texto, por sinal um belo texto, traz a ideia de que as expressões semânticas nele contidas, como liberdade, felicidade e justiça, não tem o sentido único, próprio, variando à medida em que se considera em qual discurso ele está inserido: liberdade daquele que deseja uma ilha deserta, ou a liberdade daquele que não deseja a exploração, a escravidão. Por isso os termos não têm sentidos fixos.

    Bons Estudos

  • Gab. LETRA A

    os sentidos dos textos são vários, mas não são quaisquer sentidos. Não há sentido fixo no texto, o autor aborda esse tema em toda a sua argumentação, principalmente no terceiro parágrafo.

  • A minha Duvida foi em realação ao geral, acho que o texto deve ter um sentindo fixo, na verdade achei que pelo o que foi aborado ele manteve o sentindo em determinar o seu objetivo.. mas buguei um pouco...

  • não vejo erro na letra D. Alguém???

  • ''É importante verificar em cada um deles o que é que "liberdade" significa, isto é, como é que ela é concretizada''. Ou seja, não se tem sentido fixo.

  • Gab.: A

    Mali ML, quanto a D

    Os discursos não interferem na materialidade dos textos. 

    Inferência é aquilo que se pode extrair ou deduzir do texto, no caso, o tipo de discurso vai mudar sim a materialidade do texto, como no exemplo: "Além disso, dois discursos podem trabalhar com os mesmos elementos semânticos e revelar duas visões de mundo completamente diferentes, porque o falante pode dar valores distintos aos elementos semânticos que utiliza. Alguns são considerados eufóricos, isto é, são valorizados positivamente; outros, disfóricos, ou seja, são valorizados negativamente. O conto A gata borralheira e o romance Justine, do Marquês de Sade, colocam em jogo praticamente as mesmas oposições semânticas: submissão, humildade, amor ao próximo, bondade vs. prepotência, orgulho, maldade, cinismo. No primeiro dos textos, são eufóricas as virtudes da submissão e da humildade, que são recompensadas, e disfóricos o orgulho e a prepotência, que são castigados. No segundo texto, eufóricos são os elementos valorizados negativamente no primeiro texto e disfóricos, os valorizados positivamente."

    O que autor quis dizer aqui que o contexto muda tudo, muda o tipo de matéria, como você vê a substância não é a mesma forma que vejo. 

    Entendeu?!

  • Tô suando aqui pra responder essas questões da Fumarc. Pelamor!

  • ✅ Gabarito: A

    ➥ Segundo o texto: Analisando, cuidadosamente, a maneira como um elemento semântico da estrutura profunda se concretiza, não vamos confundir dois ou três discursos distintos só porque todos eles falam em liberdade. É importante verificar em cada um deles o que é que "liberdade" significa, isto é, como é que ela é concretizada.

    ➥ Isto é, não há sentidos fixos que devem ser extraídos dos textos.

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!