SóProvas


ID
2189098
Banca
COMPERVE
Órgão
Prefeitura de Ceará-Mirim - RN
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

CONTRA A MERA “TOLERÂNCIA” DAS DIFERENÇAS
Renan Quinalha
“É preciso tolerar a diversidade”. Sempre que me defronto com esse tipo de colocação, aparentemente progressista e bem-intencionada, fico indignado. Não, não é preciso tolerar.
“Tolerar”, segundo qualquer dicionário, significa algo como “suportar com indulgência”, ou seja, deixar passar com resignação, ainda que sem consentir expressamente com aquela conduta.
“Tolerar” o que é diferente consiste, antes de qualquer coisa, em atribuir a “quem tolera” um poder sobre “o que tolera”. Como se este dependesse do consentimento daquele para poder existir. “Quem tolera” acaba visto, ainda, como generoso e benevolente, por dar uma “permissão” como se fosse um favor ou um ato de bondade extrema.
Esse tipo de discurso, no fundo, nega o direito à existência autônoma do que é diferente dos padrões construídos socialmente. Mais: funciona como um expediente do desejo de estigmatizar o diferente e manter este às margens da cultura hegemônica, que traça a tênue linha divisória entre o normal e o anormal.
Tolerar não deve ser celebrado e buscado nem como ideal político e tampouco como virtude individual. Ainda que o argumento liberal enxergue, na tolerância, uma manifestação legítima e até necessária da igualdade moral básica entre os indivíduos, não é esse o seu sentido recorrente nos discursos da política.
Com efeito, ainda que a defesa liberal-igualitária da tolerância, diante de discussões controversas, postule que se trate de um respeito mútuo em um cenário de imparcialidade das instituições frente a concepções morais mais gerais, isso não pode funcionar em um mundo marcado por graves desigualdades estruturais.
Marcuse identificava dois tipos de tolerância: a passiva e a ativa. No primeiro caso, a tolerância é vista como uma resignação e uma omissão diante de uma sociedade marcadamente injusta em suas diversas dimensões. Por sua vez, no segundo caso, ele trata da tolerância como uma disposição efetiva de construção de uma sociedade igualitária. Não é este, no entanto, o discurso mais recorrente da tolerância em nossos tempos.
Assim, quando alguém lhe disser que é preciso “tolerar” a liberdade das mulheres, os direitos das pessoas LGBT, a busca por melhores condições de vida das pessoas pobres, as reivindicações por igualdade material das pessoas negras, dentre outros segmentos vulneráveis, simplesmente não problematize esse discurso.
Admitir a existência do outro não significa aceitá-lo em sua particularidade como integrante da comunidade política. É preciso, ensina Axel Honneth, valorizar os laços mais profundos de reciprocidade e respeito pelas diferenças, o que só o reconhecimento, estágio superior da tolerância, pode ajudar a promover.
Diversidade é um valor em si mesmo e não depende da concordância dos que ocupam posições de privilégios. Direitos e liberdades não se “toleram”. Devem ser respeitados e promovidos, por serem conquistas jurídicas e políticas antecedidas de muitas lutas.
O que não se pode tolerar é o discurso aparentemente “benevolente” e “generoso” – mas na verdade bem perverso – da tolerância das diferenças. Ninguém precisa da licença de ninguém para existir. 
Disponível em: . Acesso em: 12 abr. 2016. [Adaptado]

Glossário
- Axel Honneth (1949): Filósofo e sociólogo alemão, é diretor do Institut für Sozialforschung, da Universidade de Frankfurt, instituição na qual surgiu a chamada Escola de Frankfurt.
- Herbert Marcuse (1898-1979): Sociólogo e filósofo alemão, naturalizado norte-americano, pertenceu à Escola de Frankfurt. 

Considere o parágrafo: 

Marcuse identificava dois tipos de tolerância: a passiva e a ativa. No primeiro caso (1º), a tolerância é vista como uma resignação e uma omissão diante de uma sociedade marcadamente injusta em suas diversas dimensões. Por sua vez, no segundo caso (2º), ele (3º) trata da tolerância como uma disposição efetiva de construção de uma sociedade igualitária. Não é este (4°), no entanto (5°), o discurso mais recorrente da tolerância em nossos tempos.

Os elementos coesivos em destaque que retomam informação presente no período imediatamente anterior são

Alternativas
Comentários
  • Alguém explica?

  • Letra C.

     

  • O gabarito é o “C”. Vejamos:

     

    O elemento coesivo “No primeiro caso” retoma à “tolerância passiva”, que está no presente no primeiro período do excerto, ou seja, no período imediatamente anterior, como pede a questão. (CERTO).

     

    O elemento coesivo “no segundo caso” situa-se no terceiro período e retoma à “tolerância ativa”, que está presente no primeiro período do excerto, portanto, NÃO retoma o período IMEDIATAMENTE anterior, como pede a questão. (ERRADO).

     

    O elemento coesivo “ele” também está situado no terceiro período e retoma a “Marcuse”, que está presente no primeiro período do excerto, portanto, NÃO retoma o período IMEDIATAMENTE anterior, como pede a questão. (ERRADO).

     

    O elemento coesivo “este” está situado no quarto período e retoma ao discurso que “trata da tolerância como uma disposição efetiva de construção de uma sociedade igualitária”, o qual está presente no terceiro período, ou seja, naquele IMEDIATAMENTE anterior, como pede a questão. (CERTO).

     

     

  • Não entendi...

     

  • Discordo do Gabarito. 

     

    O Pronome demonstrativo "Este", caracterizado na questão como o quarto elemento coesivo do texto, possuí característica gramatical de ser catafório, ou seja, faz referência a um termo subsequente, portanto não pode ser utilizado para retomar o período anterior. Porém, caso fosse utilizado o pronome "Esse" na questão a mesma estaria correta, pois estaria exercendo a função na frase de pronome anafórico, ou seja, retomaria o período anterior.

     

  • Leiam a explicação do Pedro Paulo. Excelente. Só entendi depois que li o comentário dele

  • Concordo com Luis Azevedo. Tenho a mesma conclusao. Essa banca inventa. 

  • Luis Azevedo, O pronome "ESTE" realmente tem essa função catafórica porém quando ele vem antecedido de vários referentes, ele ganha a função anafórica, retomando o referente mais próximo a ele. É o que acontece no trecho, temos dois tipos de discurso: o discurso passivo e o discurso ativo. O "Este" quer buscar a ideia do discurso ativo, presente no periodo imediatamente anterior ao pronome. 

  • O segredo da questão está em: retoma o período IMEDIATAMENTE anterior. 

  • Entendi. Parabéns pela explicação Pedro PAulo.

  • O Pedro Paulo explicou bem mas todavia entretanto porém continuo na dúvida do 'este'.... vou indicar para comentário

  • Marcuse identificava dois tipos de tolerância: a passiva e a ativa. (1º período) 

    No primeiro caso, a tolerância é vista como uma resignação e uma omissão diante de uma sociedade marcadamente injusta em suas diversas dimensões.  (2º período)

    Por sua vez, no segundo caso, ele trata da tolerância como uma disposição efetiva de construção de uma sociedade igualitária. (3º período)

    Não é este (4°), no entanto (5°), o discurso mais recorrente da tolerância em nossos tempos. (4º período)

     

    O termo No primeiro caso (1º)​  está no 2° período, mas está se relacionando a TOLERÂNCIA PASSIVA (que se encontra no 1º período, ou seja, anterior.).

    No segundo caso (2º) está no 3º período e se relaciona com TOLERÂNCIA ATIVA presente no 1º período. Ou seja, não é anterior, pois está do 3º para o 1º, se o termo " tolerância ativa" estivesse no 2º período, ai sim estaria anteriormente.

     

    Com esse raciocínio não precisa nem analisar o restante das alternativas, já que só uma cita o primeiro.

     

    O que pode ser passível de confundir tambem é o "ele (3º)" sendo colocado se relacionando ao "no segundo caso (2º)". Mas na realidade o ele (3º)  se relaciona com Marcuse.

     

    gab: C

  • GABARITO C.

    O primeiro e o quarto.

    O segredo da questão está em: retoma o período IMEDIATAMENTE anterior.