SóProvas


ID
2189101
Banca
COMPERVE
Órgão
Prefeitura de Ceará-Mirim - RN
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

CONTRA A MERA “TOLERÂNCIA” DAS DIFERENÇAS
Renan Quinalha
“É preciso tolerar a diversidade”. Sempre que me defronto com esse tipo de colocação, aparentemente progressista e bem-intencionada, fico indignado. Não, não é preciso tolerar.
“Tolerar”, segundo qualquer dicionário, significa algo como “suportar com indulgência”, ou seja, deixar passar com resignação, ainda que sem consentir expressamente com aquela conduta.
“Tolerar” o que é diferente consiste, antes de qualquer coisa, em atribuir a “quem tolera” um poder sobre “o que tolera”. Como se este dependesse do consentimento daquele para poder existir. “Quem tolera” acaba visto, ainda, como generoso e benevolente, por dar uma “permissão” como se fosse um favor ou um ato de bondade extrema.
Esse tipo de discurso, no fundo, nega o direito à existência autônoma do que é diferente dos padrões construídos socialmente. Mais: funciona como um expediente do desejo de estigmatizar o diferente e manter este às margens da cultura hegemônica, que traça a tênue linha divisória entre o normal e o anormal.
Tolerar não deve ser celebrado e buscado nem como ideal político e tampouco como virtude individual. Ainda que o argumento liberal enxergue, na tolerância, uma manifestação legítima e até necessária da igualdade moral básica entre os indivíduos, não é esse o seu sentido recorrente nos discursos da política.
Com efeito, ainda que a defesa liberal-igualitária da tolerância, diante de discussões controversas, postule que se trate de um respeito mútuo em um cenário de imparcialidade das instituições frente a concepções morais mais gerais, isso não pode funcionar em um mundo marcado por graves desigualdades estruturais.
Marcuse identificava dois tipos de tolerância: a passiva e a ativa. No primeiro caso, a tolerância é vista como uma resignação e uma omissão diante de uma sociedade marcadamente injusta em suas diversas dimensões. Por sua vez, no segundo caso, ele trata da tolerância como uma disposição efetiva de construção de uma sociedade igualitária. Não é este, no entanto, o discurso mais recorrente da tolerância em nossos tempos.
Assim, quando alguém lhe disser que é preciso “tolerar” a liberdade das mulheres, os direitos das pessoas LGBT, a busca por melhores condições de vida das pessoas pobres, as reivindicações por igualdade material das pessoas negras, dentre outros segmentos vulneráveis, simplesmente não problematize esse discurso.
Admitir a existência do outro não significa aceitá-lo em sua particularidade como integrante da comunidade política. É preciso, ensina Axel Honneth, valorizar os laços mais profundos de reciprocidade e respeito pelas diferenças, o que só o reconhecimento, estágio superior da tolerância, pode ajudar a promover.
Diversidade é um valor em si mesmo e não depende da concordância dos que ocupam posições de privilégios. Direitos e liberdades não se “toleram”. Devem ser respeitados e promovidos, por serem conquistas jurídicas e políticas antecedidas de muitas lutas.
O que não se pode tolerar é o discurso aparentemente “benevolente” e “generoso” – mas na verdade bem perverso – da tolerância das diferenças. Ninguém precisa da licença de ninguém para existir. 
Disponível em: . Acesso em: 12 abr. 2016. [Adaptado]

Glossário
- Axel Honneth (1949): Filósofo e sociólogo alemão, é diretor do Institut für Sozialforschung, da Universidade de Frankfurt, instituição na qual surgiu a chamada Escola de Frankfurt.
- Herbert Marcuse (1898-1979): Sociólogo e filósofo alemão, naturalizado norte-americano, pertenceu à Escola de Frankfurt. 

Nos sétimo, oitavo e nono parágrafos, há citações do discurso alheio que se apresentam sob forma

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: A

     

    Os parágrafos são os seguintes:

     

    Marcuse identificava dois tipos de tolerância: a passiva e a ativa. No primeiro caso, a tolerância é vista como uma resignação e uma omissão diante de uma sociedade marcadamente injusta em suas diversas dimensões. Por sua vez, no segundo caso, ele trata da tolerância como uma disposição efetiva de construção de uma sociedade igualitária. Não é este, no entanto, o discurso mais recorrente da tolerância em nossos tempos.

     

    Assim, quando alguém lhe disser que é preciso “tolerar” a liberdade das mulheres, os direitos das pessoas LGBT, a busca por melhores condições de vida das pessoas pobres, as reivindicações por igualdade material das pessoas negras, dentre outros segmentos vulneráveis, simplesmente não problematize esse discurso.

     

    Admitir a existência do outro não significa aceitá-lo em sua particularidade como integrante da comunidade política. É preciso, ensina Axel Honneth, valorizar os laços mais profundos de reciprocidade e respeito pelas diferenças, o que só o reconhecimento, estágio superior da tolerância, pode ajudar a promover.

     

    Notas:

     

    - Nos três exemplos temos o discurso indireto (o narrador apropria-se das falas dos citados), não há uso de aspas, travessões, etc. O que já elimina as alternativas B e D;

    - Não há a presença de conjunções conformativas (conforme, consoante, segundo, etc.);

    - Há um verbo do dizer: disser

  • Questão easy. Vamos lá.

    Citação direta: mesmas palavras. Normalmente. tais citações vêm entre aspas.

    Citação indireta: ideia alheia com palavras diferentes.

    7º Marcuse (pessoa cujas palavras serão referidas) identificava dois tipos de tolerância: a passiva e a ativa. No primeiro caso, a tolerância é (verbo que endossa o argumento do autor) vista como uma resignação e uma omissão diante de uma sociedade marcadamente injusta em suas diversas dimensões. Por sua vez, no segundo caso, ele trata  (verbo que endossa o argumento do autor) da tolerância como uma disposição efetiva de construção de uma sociedade igualitária. Não é este, no entanto, o discurso mais recorrente da tolerância em nossos tempos.

    8º Assim, quando alguém lhe disser que é preciso “tolerar” a liberdade das mulheres, os direitos das pessoas LGBT, a busca por melhores condições de vida das pessoas pobres, as reivindicações por igualdade material das pessoas negras, dentre outros segmentos vulneráveis, simplesmente não problematize esse (verbo que endossa o argumento do autor) discurso.

    Admitir (verbo que endossa o argumento do autor) a existência do outro não significa aceitá-lo em sua particularidade como integrante da comunidade política. É preciso (verbo que endossa o argumento do autor), ensina Axel Honneth, valorizar os laços mais profundos de reciprocidade e respeito pelas diferenças, o que só o reconhecimento, estágio superior da tolerância, pode ajudar a promover.

  • -
    quanto ao trecho "..auxílio de verbos de dizer.." da assertiva A, eu olhei e pensei:
    " a COMPERVE precisa de umas aulas com a FCC"

  • Características:

    Discurso direto: não conduzido pelo autor, apresenta marcas gráficas ( travessão, aspas), reprodução literal de falas, objetivo, maior vivacidade da cena e não apresenta verbos dicendi ( ele disse, falou, respondeu...)

    ex.: -Não gosto disso

    - Eu sei

    - Sou assim mesmo.

     

    Discurso Indireto: feito a partir de referências do narrador, geralmente se perde ou altera a mensagem, não possui marcas  gráficas ( aspas, travessão...) e HÁ verbos dicendi.

    Ex.: Ele disse que não gostava, eu respondi dizendo que sabia e ele retrucou dizendo que era assim mesmo. 

  • O discurso direto vem introduzido por um verbo que anuncia a fala citada. Tais verbos são denominados de dizer (d izer, responder, retrucar, afirmar, falar, entre outros) e podem ser colocados antes do discurso direto, em oração intercalada, no interior do discurso direto ou no final do discurso direto.
    Ex.: O professor esclarece : “Os jovens levam a sério o mundo dos super-heróis, mas não completamente”.

    Marcas do discurso indireto da mesma forma do discurso direto, vem também introduzido por um verbo de dizer; ao contrário do discurso direto, a fala citada é introduzida por meio de uma partícula introdutória: que ou se.  

    Em um texto narrativo, o narrador pode optar pelo discurso direto, que é a transcrição da fala do interlocutor, ou pelo discurso indireto com a transmissão da essência do pensamento do entrevistado. Em síntese, a função dos verbos dicendi é declarar a mensagem e ainda retratar o comportamento – em determinada circunstância – ou mesmo o caráter das personagens.

    exemplos de verbos de dizer:

    dizer

    afirmar, declarar

    perguntar

    indagar, interrogar

    contestar

    negar, objetar, exortar

    concordar

    assentir, anuir

    exclamar

    gritar, bradar

    pedir

    solicitar, rogar

    exortar

    animar, aconselhar

    ordenar

    mandar, determinar

     

    Analisando a questão, no parágrafo sétimo "Marcuse identificava dois tipos de tolerância:.." Entendi que o verbo sublinhado seria um verbo de dizer, como no parágrafo nono seria o verbo ensinar "É preciso, ensina Axel Honneth..." Pois ambos introduzem o pensamento dos respectivos autores.

    Não sei se está correto, apenas entendi dessa forma e consegui acertar a questão.

     

  • GABARITO: A.

    "..auxílio de verbos de dizer.."