SóProvas


ID
2189107
Banca
COMPERVE
Órgão
Prefeitura de Ceará-Mirim - RN
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

CONTRA A MERA “TOLERÂNCIA” DAS DIFERENÇAS
Renan Quinalha
“É preciso tolerar a diversidade”. Sempre que me defronto com esse tipo de colocação, aparentemente progressista e bem-intencionada, fico indignado. Não, não é preciso tolerar.
“Tolerar”, segundo qualquer dicionário, significa algo como “suportar com indulgência”, ou seja, deixar passar com resignação, ainda que sem consentir expressamente com aquela conduta.
“Tolerar” o que é diferente consiste, antes de qualquer coisa, em atribuir a “quem tolera” um poder sobre “o que tolera”. Como se este dependesse do consentimento daquele para poder existir. “Quem tolera” acaba visto, ainda, como generoso e benevolente, por dar uma “permissão” como se fosse um favor ou um ato de bondade extrema.
Esse tipo de discurso, no fundo, nega o direito à existência autônoma do que é diferente dos padrões construídos socialmente. Mais: funciona como um expediente do desejo de estigmatizar o diferente e manter este às margens da cultura hegemônica, que traça a tênue linha divisória entre o normal e o anormal.
Tolerar não deve ser celebrado e buscado nem como ideal político e tampouco como virtude individual. Ainda que o argumento liberal enxergue, na tolerância, uma manifestação legítima e até necessária da igualdade moral básica entre os indivíduos, não é esse o seu sentido recorrente nos discursos da política.
Com efeito, ainda que a defesa liberal-igualitária da tolerância, diante de discussões controversas, postule que se trate de um respeito mútuo em um cenário de imparcialidade das instituições frente a concepções morais mais gerais, isso não pode funcionar em um mundo marcado por graves desigualdades estruturais.
Marcuse identificava dois tipos de tolerância: a passiva e a ativa. No primeiro caso, a tolerância é vista como uma resignação e uma omissão diante de uma sociedade marcadamente injusta em suas diversas dimensões. Por sua vez, no segundo caso, ele trata da tolerância como uma disposição efetiva de construção de uma sociedade igualitária. Não é este, no entanto, o discurso mais recorrente da tolerância em nossos tempos.
Assim, quando alguém lhe disser que é preciso “tolerar” a liberdade das mulheres, os direitos das pessoas LGBT, a busca por melhores condições de vida das pessoas pobres, as reivindicações por igualdade material das pessoas negras, dentre outros segmentos vulneráveis, simplesmente não problematize esse discurso.
Admitir a existência do outro não significa aceitá-lo em sua particularidade como integrante da comunidade política. É preciso, ensina Axel Honneth, valorizar os laços mais profundos de reciprocidade e respeito pelas diferenças, o que só o reconhecimento, estágio superior da tolerância, pode ajudar a promover.
Diversidade é um valor em si mesmo e não depende da concordância dos que ocupam posições de privilégios. Direitos e liberdades não se “toleram”. Devem ser respeitados e promovidos, por serem conquistas jurídicas e políticas antecedidas de muitas lutas.
O que não se pode tolerar é o discurso aparentemente “benevolente” e “generoso” – mas na verdade bem perverso – da tolerância das diferenças. Ninguém precisa da licença de ninguém para existir. 
Disponível em: . Acesso em: 12 abr. 2016. [Adaptado]

Glossário
- Axel Honneth (1949): Filósofo e sociólogo alemão, é diretor do Institut für Sozialforschung, da Universidade de Frankfurt, instituição na qual surgiu a chamada Escola de Frankfurt.
- Herbert Marcuse (1898-1979): Sociólogo e filósofo alemão, naturalizado norte-americano, pertenceu à Escola de Frankfurt. 

Considere o período:

Com efeito, ainda que a defesa liberal-igualitária da tolerância, diante de discussões controversas, postule que se trate de um respeito mútuo em um cenário de imparcialidade das instituições frente a concepções morais mais gerais, isso não pode funcionar em um mundo marcado por graves desigualdades estruturais.

O pronome em destaque funciona como sujeito

Alternativas
Comentários
  • Alguem sabe explicar esta questao...

  • Também não entendi

  • Com efeito, ainda que a defesa liberal-igualitária da tolerância, diante de discussões controversas, postule que se trate de um respeito mútuo em um cenário de imparcialidade das instituições frente a concepções morais mais gerais, isso não pode funcionar em um mundo marcado por graves desigualdades estruturais.

     

    A parte em negrito é a oração subordinada. O termo "isso" é o sujeito da oração principal, e a ideia resumida no "isso" é tudo que está escrito na oração subordinada.

  • Gabarito: C

    Com efeito, ainda que a defesa liberal-igualitária da tolerância, diante de discussões controversas, postule que se trate de um respeito mútuo em um cenário de imparcialidade das instituições frente a concepções morais mais gerais, isso não pode funcionar em um mundo marcado por graves desigualdades estruturais.

    Primeiro passo,passemos à decomposição do período

    I-) isso não pode funcionar em um mundo marcado por graves desigualdades estruturais.Oração principal

    II-) ainda que a defesa liberal-igualitária da tolerância, diante de discussões controversas, postule=Oração subordinada adverbial concessiva(exerce papel de advérbio da oração principal

    III-) que se trate de um respeito mútuo em um cenário de imparcialidade das instituições frente a concepções morais mais gerais=Oração subordinada substantiva objetiva direta(exerce papel de objeto direto da oração principal).

    Feito isso,achemos o núcleo de cada oração:Quem é que não pode funcionar...R: Isso,portanto sujeito da oração.

    Oração II-)Quem é que postula?R:a defesa liberal-igualitária da tolerância,logo sujeito da oração II

    Oração III-)Na oração III temos um VTI + part se=Índice de indeterminação do sujeito,por isso esta oração não tem sujeito,mas sim objeto indireto,a saber: um respeito mútuo em um cenário de imparcialidade das instituições frente a concepções morais mais gerais,

    Os termos essenciais da oração são sujeito e predicado.Como nesta assertiva não temos sujeito,nos interessa então o predicado.

    Agora vamos organizar nossas descobertas:Embora(ainda que,apesar de que,se bem quem,mesmo que,por mais que,posto que) a defesa liberal-igualitária da tolerância postule se tratar de um respeito mútuo,isso pode não funcionar...Isso quem?A defesa liberal igualitária postular se tratar de um respeito mútuo.

    Concluímos,então,que o isso não só funciona como sujeito da oração principal,mas também retoma as idéias(os termos essenciais) das orações subordinadas anteriores.

    Para quem não tiver ficado claro,favor entrar em contato comigo para que eu possa explicar de uma forma diferente.

    Bons estudos! 

  • c) da oração principal, retoma o conjunto das informações presentes nas orações subordinadas e equivale, semanticamente, ao conjunto dessas informações.

  • Muito boa a explicação do colega Lucas. Vale a pena dar uma conferida. Realmente, o termo anafórico (isso) retoma, por coesão referencial, todo o conjunto de informações. O erro da B é considerar apenas parte das informações constantes da oração, pois ele retoma TODA A ORAÇÃO.  

  • A primeira coisa é contar o número de verbos para saber quantas orações existem nesse período.

    São três orações porque temos: "Postular" "se tratar" e "poder funcionar".

    A única que possui sentido completo é a terceira oração: "isso não pode funcionar em um mundo marcado por graves desigualdades estruturais".

    O sujeito desta oração, que é a oração principal, é "isso".

    Remete a todas as informações e não somente a parte delas...

    Por isso Letra C é o gabarito.

    Não sou especialista mas espero ter ajudado...

  • De maneira alguma retoma o conjunto das informações. Não forcem a barra.
  • 1ª oração:   ainda que a defesa liberal-igualitária da tolerância (Sujeito), diante de discussões controversas, postule (o que? isso)

    Oração Subordinada Abverbial Concessiva. Age como advérbio da oração principal.

     

    2ª oração:   (isso =) que se trate de um respeito mútuo em um cenário de imparcialidade das instituições frente a concepções morais mais gerais (em um cenário de...Adverbio de Lugar), 

    Oração Subordinada Subjetiva Objetiva Direta - Objeto Direto do verbo postular, cujo sujeito é "a defesa liberal-igualitária da tolerância".

     

                       Se trate (VTI) de um respeito mútuo (OI)...   >>>>   VTI + se: Indice de Indeterminação do Sujeito. 

                       Ou seja, essa oração tem sujeito indeterminado e é subordinada a 1ª,  exercendo papel de Objeto Direto.

     

    3ª oração: isso (Sujeito) não pode funcionar (locuçao verbal) em um mundo marcado por graves desigualdades estruturais (em um mundo...Adverbio de lugar).

    Oração Principal.

     

    Agora:

    ainda que a defesa liberal-igualitária da tolerância, diante de discussões controversas, postule que se trate de um respeito mútuo, em um cenário de imparcialidade das instituições frente a concepções morais mais gerais, isso não pode funcionar, em um mundo marcado por graves desigualdades estruturais.

    Isso o que não pode funcionar? a defesa liberal-igualitarista da tolerancia...postular que se trata de um respeito mútuo...

     

    Isso exerce papel de sujeito da oração principal, e retoma os termos das orações subordinadas anteriores.

  • Com efeito, ainda que a defesa liberal-igualitária da tolerância, diante de discussões controversas, postule que se trate de um respeito mútuo em um cenário de imparcialidade das instituições frente a concepções morais mais gerais, isso não pode funcionar em um mundo marcado por graves desigualdades estruturais.

     

    Com efeito, isso não pode funcionar em um mundo marcado por graves desigualdades estruturais.

    O pronome funciona como sujeito da oração principal (1º passo é identificar isso. Elimina as letras A e D).

     

    O "isso" está retomando parte das informações ou seu conjunto? Aí só resta analisar com muito cuidado as letras B e C. Reli várias vezes e cheguei à conclusão que ela retoma mesmo o conjunto das informações e não apenas parte. Gabarito: letra C.

  • Excelente questão

  • b).

  • Exerce função de sujeito da oração principal de um período composto por uma subordinada adverbial concessiva, e retoma o conjunto das informações presentes na subordinada.

  • Fiz desta forma:

    Identifiquei que fazia parte da oração principal, pois a expressão "isso não pode funcionar" não veio acompanhada com pronome relativo ou mesmo conjunção. Depois montei as alternativas que eu tinha.

    1 - Com efeito, isso não pode funcionar...

    2 - Com efeito, essas informações não pode funcionar... (Não há concordância)

    3 - Com efeito, o conjunto dessas informações não pode funcionar... (Há concordância)