SóProvas


ID
2191591
Banca
RHS Consult
Órgão
Prefeitura de Porto Feliz - SP
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia a crônica a seguir para responder a questão.


    Certas palavras têm significado errado. Falácia, por exemplo, devia ser o nome de alguma coisa vagamente vegetal. As pessoas deveriam criar falácias em todas as suas variedades. A Falácia Amazônica. A misteriosa Falácia Negra. 

    Hermeneuta deveria ser o membro de uma seita de andarilhos herméticos. Onde eles chegassem, tudo se complicaria.

 - Os hermeneutas estão chegando! 

    - Ih, agora é que ninguém vai entender mais nada...

    Os hermeneutas ocupariam a cidade e paralisariam todas as atividades produtivas com seus enigmas e frases ambíguas. Ao se retirarem deixariam a população prostrada pela confusão. Levaria semanas até que as coisas recuperassem seu sentido óbvio. Antes disso, tudo pareceria ter sentido oculto. 

    - Alô...

    - O que é que você quer dizer com isso?

    Traquinagem devia ser uma peça mecânica.

    - Vamos ter que trocar a traquinagem. E o vetor está gasto.

    Plúmbeo devia ser o barulho que um corpo faz ao cair na água.

    Mas nenhuma palavra me fascinava tanto quanto defenestração.

    A princípio foi o fascínio da ignorância. Eu não sabia o seu significado, nunca me lembrava de procurar no dicionário e imaginava coisas. Defenestrar devia ser um ato exótico praticado por poucas pessoas. Tinha até um certo tom lúbrico. Galanteadores de calçada deviam sussurrar no ouvido das mulheres:

    - Defenestras?

    A resposta seria um tapa na cara. Mas algumas... Ah, algumas defenestravam.

    Também podia ser algo contra pragas e insetos. As pessoas talvez mandassem defenestrar a casa. Haveria, assim, defenestradores profissionais.

    Ou quem sabe seria uma daquelas misteriosas palavras que encerravam os documentos formais?

    “Nestes termos, pede defenestração...”. Era uma palavra cheia de implicações. Devo até tê-lo usado uma ou outra vez, como em:

    - Aquele é um defenestrado.

    Dando a entender que era uma pessoa, assim, como dizer? Defenestrada. Mesmo errada, era a palavra exata.

    Um dia, finalmente, procurei no dicionário. E aí está o Aurelião que não me deixa mentir. “Defenestração” vem do francês “defenestration”. Substantivo feminino. Ato de atirar alguém ou algo pela janela.

    Ato de atirar alguém ou algo pela janela!

    Acabou a minha ignorância mas não a minha fascinação. Um ato como este só tem nome próprio e lugar nos dicionários por alguma razão muito forte. Afinal, não existe, que eu saiba, nenhuma palavra para o ato de atirar alguém ou algo pela porta, ou escada abaixo. Por que, então, defenestração?

    [...]

    - Com prédios de três, quatro andares, ainda era admissível. Até divertido. Mas daí para cima vira crime. Todas as janelas do quarto andar para cima devem ter um cartaz: “Interdit de defenestrer”. Os transgressores serão multados. Os reincidentes serão presos.

    Na Bastilha, o Marquês de Sade deve ter convivido com notórios defenestreurs. E a compulsão, mesmo suprimida, talvez ainda persista no homem, como persiste na sua linguagem. O mundo pode estar cheio de defenestradores latentes.

    - É esta estranha vontade de atirar alguém ou algo pela janela, doutor...

    - Hmm. O impulsus defenestrex de que nos fala Freud. Algo a ver com a mãe. Nada com o que se preocupar – diz o analista, afastando-se da janela.

    Quem entre nós nunca sentiu a compulsão de atirar alguém ou algo pela janela? A basculante foi inventada para desencorajar a defenestração. Toda a arquitetura moderna, com suas paredes externas de vidro reforçado e sem aberturas, pode ser uma reação inconsciente a esta volúpia humana, nunca totalmente dominada.

    [...]

    Uma multidão cerca o homem que acaba de cair na calçada. Entre gemidos, ele aponta para cima e balbucia:

    - Fui defenestrado...

    Alguém comenta:

    - Coitado. E depois ainda atiraram ele pela janela!

    Agora mesmo me deu uma estranha compulsão de arrancar o papel da máquina, amassá-lo e defenestrar esta crônica. Se ela sair é porque resisti.


VERÍSSIMO, Luís Fernando. Para gostar de ler – v.14. 3 Ed. São Paulo: Ática, 1995, p.82

Assinale a alternativa em que as palavras apresentadas são acentuadas em virtude da mesma regra que determina a acentuação da palavra “volúpia”.

Alternativas
Comentários
  • Alternativa A: regra das paroxítonas terminadas em ditongo crescente.

  • Gabarito letra a).

     

     

    REGRA: PAROXÍTONAS TERMINADAS EM DITONGO SÃO ACENTUDAS.

     

    Demais regras de acentuação: http://www.soportugues.com.br/secoes/fono/fono9.php

     

     

    Porém, ATENÇÂO com o novo acordo ortográfico. Não deverão ser acentuados os ditongos abertos “ei/oi” nas paroxítonas, mas não confunda, são os ditongos abertos na sílaba que caracteriza as paroxítonas e não paroxítonas terminadas com a letra “i”.

    Sendo assim, não se acentuam: heroico, jiboia, ideia, assembleia, aldeia, baleia etc. Para não errar, no momento em que ler uma paroxítona, note se na sílaba tônica há os ditongos abertos “ei/oi”, se os tiverem, é só não os acentuar.

     

    Fonte: http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=1350

     

     

    Ordem das vogais de modo crescente: u (sempre semivogal), i, e, o, a (sempre vogal)

     

    Ditongo Crescente (D.C.) = Semivogal + Vogal

     

    Ditongo Decrecente (D.D.) = Vogal + Semivogal

     

     

    Palavra: vo-lú-pia (D.D.)

     

    a) cor-pó-reo (D.D.); má-goa (D.D.); fa-mí-lia (D.D.)

     

    b) á-ra-be (Proparóxitona); -li-ca (Proparóxitona); á-geis (D.D.)

     

    c) a-má-vel (Paroxítona terminada em "l"); dó-cil (Paroxítona terminada em "l"); é-den (Paroxítona terminada em "n")

     

    d) ú-teis (D.D.); fós-seis (D.D.); a-fá-vel (Paroxítona terminada em "l")

     

    e) i-mó-veis (D.D.); hí-fen (Paroxítona terminada em "n"); ím-par (Paroxítona terminada em "r")

     

     

    * Ohar estes sites para entender sobre a flutuação prosódica (palavras possuírem duas formas de separação silábica).

     

    Ex: in-dús-tria/in-dús-tri-a.

     

    http://portuguescomentado.blogspot.com.br/2015/01/cespe-unb-acentuacao-grafica.html

     

    http://portuguescomentado.blogspot.com.br/2015/06/cespeunb-acentuacao-grafica.html

     

     

    ** Obs: Recomendo a resolução da Q519861 para aprimorar os conhecimentos sobre acentuação.

     

    Link: https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questao/72934520-19

     

     

     

    => Meu Instagram para concursos: https://www.instagram.com/qdconcursos/

  • GABARITO A

    PAROXÍTONAS

    Recebem acento gráfico se terminadas em:

    LAmável;

    I(s): Lápis;

    R: Repórter;

    N: Pólen, Próton; CUIDADO: Hífen => hifens, Pólen => polens;

    UM ou US: Álbum, lúpus;

    X: Córtex,índex;

    Ã ou ÃO: Órfão;

    PS: fórceps;

    DITONGO: colégio.

    ---------------------------------------------------------------------------------

    L I R N U M X Ã O O P S! D I T O N G O

    bons estudos

  • GABARITO: LETRA A

    Regra de Acentuação para Paroxítonas

    Acentuam-se as terminadas em ditongo crescente ou decrescente (seguido ou não de s), -ão(s) e -ã(s), tritongo e qualquer outra terminação (l, n, um, r, ns, x, i, is, us, ps), exceto as terminadas em -a(s), -e(s), -o(s), -em(-ens).

    Ex.: história, cáries, jóquei(s); órgão(s), órfã, ímãs; águam, enxáguem;fácil, glúten, fórum, caráter, prótons, tórax, júri, lápis, vírus,fórceps.

    FONTE: A GRAMÁTICA PARA CONCURSOS PÚBLICOS 3ª EDIÇÃO FERNANDO PESTANA