SóProvas


ID
2191597
Banca
RHS Consult
Órgão
Prefeitura de Porto Feliz - SP
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia a crônica a seguir para responder a questão.


    Certas palavras têm significado errado. Falácia, por exemplo, devia ser o nome de alguma coisa vagamente vegetal. As pessoas deveriam criar falácias em todas as suas variedades. A Falácia Amazônica. A misteriosa Falácia Negra. 

    Hermeneuta deveria ser o membro de uma seita de andarilhos herméticos. Onde eles chegassem, tudo se complicaria.

 - Os hermeneutas estão chegando! 

    - Ih, agora é que ninguém vai entender mais nada...

    Os hermeneutas ocupariam a cidade e paralisariam todas as atividades produtivas com seus enigmas e frases ambíguas. Ao se retirarem deixariam a população prostrada pela confusão. Levaria semanas até que as coisas recuperassem seu sentido óbvio. Antes disso, tudo pareceria ter sentido oculto. 

    - Alô...

    - O que é que você quer dizer com isso?

    Traquinagem devia ser uma peça mecânica.

    - Vamos ter que trocar a traquinagem. E o vetor está gasto.

    Plúmbeo devia ser o barulho que um corpo faz ao cair na água.

    Mas nenhuma palavra me fascinava tanto quanto defenestração.

    A princípio foi o fascínio da ignorância. Eu não sabia o seu significado, nunca me lembrava de procurar no dicionário e imaginava coisas. Defenestrar devia ser um ato exótico praticado por poucas pessoas. Tinha até um certo tom lúbrico. Galanteadores de calçada deviam sussurrar no ouvido das mulheres:

    - Defenestras?

    A resposta seria um tapa na cara. Mas algumas... Ah, algumas defenestravam.

    Também podia ser algo contra pragas e insetos. As pessoas talvez mandassem defenestrar a casa. Haveria, assim, defenestradores profissionais.

    Ou quem sabe seria uma daquelas misteriosas palavras que encerravam os documentos formais?

    “Nestes termos, pede defenestração...”. Era uma palavra cheia de implicações. Devo até tê-lo usado uma ou outra vez, como em:

    - Aquele é um defenestrado.

    Dando a entender que era uma pessoa, assim, como dizer? Defenestrada. Mesmo errada, era a palavra exata.

    Um dia, finalmente, procurei no dicionário. E aí está o Aurelião que não me deixa mentir. “Defenestração” vem do francês “defenestration”. Substantivo feminino. Ato de atirar alguém ou algo pela janela.

    Ato de atirar alguém ou algo pela janela!

    Acabou a minha ignorância mas não a minha fascinação. Um ato como este só tem nome próprio e lugar nos dicionários por alguma razão muito forte. Afinal, não existe, que eu saiba, nenhuma palavra para o ato de atirar alguém ou algo pela porta, ou escada abaixo. Por que, então, defenestração?

    [...]

    - Com prédios de três, quatro andares, ainda era admissível. Até divertido. Mas daí para cima vira crime. Todas as janelas do quarto andar para cima devem ter um cartaz: “Interdit de defenestrer”. Os transgressores serão multados. Os reincidentes serão presos.

    Na Bastilha, o Marquês de Sade deve ter convivido com notórios defenestreurs. E a compulsão, mesmo suprimida, talvez ainda persista no homem, como persiste na sua linguagem. O mundo pode estar cheio de defenestradores latentes.

    - É esta estranha vontade de atirar alguém ou algo pela janela, doutor...

    - Hmm. O impulsus defenestrex de que nos fala Freud. Algo a ver com a mãe. Nada com o que se preocupar – diz o analista, afastando-se da janela.

    Quem entre nós nunca sentiu a compulsão de atirar alguém ou algo pela janela? A basculante foi inventada para desencorajar a defenestração. Toda a arquitetura moderna, com suas paredes externas de vidro reforçado e sem aberturas, pode ser uma reação inconsciente a esta volúpia humana, nunca totalmente dominada.

    [...]

    Uma multidão cerca o homem que acaba de cair na calçada. Entre gemidos, ele aponta para cima e balbucia:

    - Fui defenestrado...

    Alguém comenta:

    - Coitado. E depois ainda atiraram ele pela janela!

    Agora mesmo me deu uma estranha compulsão de arrancar o papel da máquina, amassá-lo e defenestrar esta crônica. Se ela sair é porque resisti.


VERÍSSIMO, Luís Fernando. Para gostar de ler – v.14. 3 Ed. São Paulo: Ática, 1995, p.82

Tendo em vista a norma-padrão da língua portuguesa, assinale a alternativa incorreta quanto à regência nominal.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: A

     

    Parece imbuído para sua responsabilidade.

    O adjetivo imbuído rege a preposição de;

     

     

  • Imbuído = convencido

     

    Complementando, pode reger além da preposição "de", "em".

  • Daqui a alguns anos, teremos que estudar o dicionário todo. É cada palavra.

  •  Imbuído - adjetivo   =  mergulhado ou penetrado, compenetrado, convicto, sugestionado, convencido, 

     

    [Figurado] Que se deixa persuadir com facilidade;

     

    Eles estavam imbuídos   (mergulhados / penetrados)   DE / EM   preconceitos.

     

     

    REGÊNCIA NOMINAL   

     

    Substantivos

    Admiração a, por    

    Devoção a, para, com, por    São Jorge

    Medo de 

    Aversão a, para, por 

    Doutor em

    Obediência a

    Atentado a, contra

    Dúvida acerca de, em, sobre

    Ojeriza a, por

    Bacharel em

    Horror a

    Proeminência sobre

    Capacidade de, para

    Impaciência com

    Respeito a, com, para com, por    religiões

     

    Adjetivos

    Acessível a

    Entendido em

    Necessário a

    Acostumado a, com

    Equivalente a

    Nocivo a

    Agradável a

    Escasso de    recursos hídricos

    Paralelo a    isso

    Alheio a, de 

    Essencial a, para

    Passível de

    Análogo a

    Fácil de

    Preferível a

    Ansioso de, para, por

    Fanático por

    Prejudicial a

    Apto a, para

    Favorável a

    Prestes a

    Ávido de

    Generoso com

    Propício a

    Benéfico a

    Grato a, por

    Próximo a

    Capaz de, para

    Hábil em

    Relacionado com

    Compatível com

    Habituado a

    Relativo a

    Contemporâneo a, de

    Idêntico a

    Satisfeito com, de, em, por

    Contíguo a

    Impróprio para

    Semelhante a

    Contrário a

    Indeciso em

    Sensível a

    Descontente com

    Insensível a

    Sito em

    Desejoso de     venecer!

    Liberal com

    Suspeito de      praticar

    Diferente de

    Natural de

    Vazio de

     

    Advérbios

    Longe de

    Perto de

     

     

     

  •  

    REGÊNCIA NOMINAL  

     

    Substantivos

    Admiração a, por   

    Devoção a, para, com, por  São Jorge

    Medo de 

    Aversão a, para, por 

    Doutor em

    Obediência a

    Atentado a, contra

    Dúvida acerca de, em, sobre

    Ojeriza a, por

    Bacharel em

    Horror a

    Proeminência sobre

    Capacidade de, para

    Impaciência com

    Respeito a, com, para com, por  religiões

     

    Adjetivos

    Acessível a

    Entendido em

    Necessário a

    Acostumado a, com

    Equivalente a

    Nocivo a

    Agradável a

    Escasso de  recursos hídricos

    Paralelo a  isso

    Alheio a, de 

    Essencial a, para

    Passível de

    Análogo a

    Fácil de

    Preferível a

    Ansioso de, para, por

    Fanático por

    Prejudicial a

    Apto a, para

    Favorável a

    Prestes a

    Ávido de

    Generoso com

    Propício a

    Benéfico a

    Grato a, por

    Próximo a

    Capaz de, para

    Hábil em

    Relacionado com

    Compatível com

    Habituado a

    Relativo a

    Contemporâneo a, de

    Idêntico a

    Satisfeito com, de, em, por

    Contíguo a

    Impróprio para

    Semelhante a

    Contrário a

    Indeciso em

    Sensível a

    Descontente com

    Insensível a

    Sito em

    Desejoso de   venecer!

    Liberal com

    Suspeito de   praticar

    Diferente de

    Natural de

    Vazio de

     

    Advérbios

    Longe de

    Perto de