SóProvas


ID
2203654
Banca
MS CONCURSOS
Órgão
IF-AC
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Faça a leitura do texto seguinte e responda à próxima questão.

Complexo de vira-latas

    Hoje vou fazer do escrete o meu numeroso personagem da semana. Os jogadores já partiram e o Brasil vacila entre o pessimismo mais obtuso e a esperança mais frenética. Nas esquinas, nos botecos, por toda parte, há quem esbraveje: “O Brasil não vai nem se classificar!”. E, aqui, eu pergunto:
    — Não será esta atitude negativa o disfarce de um otimismo inconfesso e envergonhado?
    Eis a verdade, amigos: — desde 50 que o nosso futebol tem pudor de acreditar em si mesmo. A derrota frente aos uruguaios, na última batalha, ainda faz sofrer, na cara e na alma, qualquer brasileiro. Foi uma humilhação nacional que nada, absolutamente nada, pode curar. Dizem que tudo passa, mas eu vos digo: menos a dor-de-cotovelo que nos ficou dos 2 x 1. E custa crer que um escore tão pequeno possa causar uma dor tão grande. O tempo passou em vão sobre a derrota. Dir-se-ia que foi ontem, e não há oito anos, que, aos berros, Obdulio arrancou, de nós, o título. Eu disse “arrancou” como poderia dizer: “extraiu” de nós o título como se fosse um dente.
    E hoje, se negamos o escrete de 58, não tenhamos dúvida: — é ainda a frustração de 50 que funciona. Gostaríamos talvez de acreditar na seleção. Mas o que nos trava é o seguinte: — o pânico de uma nova e irremediável desilusão. E guardamos, para nós mesmos, qualquer esperança. Só imagino uma coisa: — se o Brasil vence na Suécia, se volta campeão do mundo! Ah, a fé que escondemos, a fé que negamos, rebentaria todas as comportas e 60 milhões de brasileiros iam acabar no hospício.
    Mas vejamos: — o escrete brasileiro tem, realmente, possibilidades concretas? Eu poderia responder, simplesmente, “não”. Mas eis a verdade:
    — eu acredito no brasileiro, e pior do que isso: — sou de um patriotismo inatual e agressivo, digno de um granadeiro bigodudo. Tenho visto joga dores de outros países, inclusive os ex-fabulosos húngaros, que apanharam, aqui, do aspirante-enxertado do Flamengo. Pois bem: — não vi ninguém que se comparasse aos nossos. Fala-se num Puskas. Eu contra-argumento com um Ademir, um Didi, um Leônidas, um Jair, um Zizinho.
    A pura, a santa verdade é a seguinte: — qualquer jogador brasileiro, quando se desamarra de suas inibições e se põe em estado de graça, é algo de único em matéria de fantasia, de improvisação, de invenção. Em suma:
    — temos dons em excesso. E só uma coisa nos atrapalha e, por vezes, invalida as nossas qualidades. Quero aludir ao que eu poderia chamar de “complexo de vira-latas”. Estou a imaginar o espanto do leitor: — “O que vem a ser isso?” Eu explico.
    Por “complexo de vira-latas” entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol. Dizer que nós nos julgamos “os maiores” é uma cínica inverdade. Em Wembley, por que perdemos? Por que, diante do quadro inglês, louro e sardento, a equipe brasileira ganiu de humildade. Jamais foi tão evidente e, eu diria mesmo, espetacular o nosso vira-latismo. Na já citada vergonha de 50, éramos superiores aos adversários. Além disso, levávamos a vantagem do empate. Pois bem: — e perdemos da maneira mais abjeta. Por um motivo muito simples: — porque Obdulio nos tratou a pontapés, como se vira-latas fôssemos.
    Eu vos digo: — o problema do escrete não é mais de futebol, nem de técnica, nem de tática. Absolutamente. É um problema de fé em si mesmo.
    O brasileiro precisa se convencer de que não é um vira-latas e que tem futebol para dar e vender, lá na Suécia. Uma vez que ele se convença disso, ponham-no para correr em campo e ele precisará de dez para segurar, como o chinês da anedota.
    Insisto: — para o escrete, ser ou não ser vira-latas, eis a questão.

Nelson Rodrigues
Texto extraído do livro “As cem melhores crônicas brasileiras”, editora Objetiva, Rio de Janeiro (RJ), p. 118/119, e do livro “À sombra das chuteiras imortais: crônicas de chutava”, seleção de notas de Ruy Castro – Companhia das Letras – 1993.

No fragmento “É um problema de fé em si mesmo.”, o pronome sublinhado classifica-se corretamente em qual alternativa?

Alternativas
Comentários
  • Achei estranho, se  não é pronome reflexivo?

  • Os pronomes oblíquos tônicos são sempre precedidos por preposições, em geral as preposições aparade ecom. Por esse motivo, os pronomes tônicos exercem a função de objeto indireto da oração. Possuem acentuação tônica  forte.

    O quadro dos pronomes oblíquos tônicos é assim configurado:

    - 1ª pessoa do singular (eu): mim, comigo

    - 2ª pessoa do singular (tu): ti, contigo

    - 3ª pessoa do singular (ele, ela): ele, ela

    - 1ª pessoa do plural (nós): nós, conosco

    - 2ª pessoa do plural (vós): vós, convosco

    - 3ª pessoa do plural (eles, elas): eles, elas

    - Observe que as únicas formas próprias do pronome tônico são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa (ti). As demais repetem a forma do pronome pessoal do caso reto.

    - As preposições essenciais introduzem sempre pronomes pessoais do caso oblíquo e nunca pronome do caso reto. Nos contextos interlocutivos que exigem o uso da língua formal, os pronomes costumam ser usados desta forma:

    Não há mais nada entre mim e ti.

    Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela.

    Não há nenhuma acusação contra mim.

    Não vá sem mim.

    Atenção:

    Há construções em que a preposição, apesar de surgir anteposta a um pronome, serve para introduzir uma oração cujo verbo está no infinitivo. Nesses casos, o verbo pode ter sujeito expresso; se esse sujeito for um pronome, deverá ser do caso reto.

    Por exemplo:

    Trouxeram vários vestidos para eu experimentar.

    Não vá sem eu mandar.

    - A combinação da preposição "com" e alguns pronomes originou as formas especiais comigo, contigo, consigo, conosco e convosco. Tais pronomes oblíquos tônicos frequentemente exercem a função de adjunto adverbial de companhia.

    Por exemplo: Ele carregava o documento consigo.

    - As formas "conosco" e "convosco" são substituídas por "com nós" e "com vós" quando os pronomes pessoais são reforçados por palavras como outrosmesmosprópriostodosambos ou algum numeral.

    Por exemplo:

    Você terá de viajar com nós todos.

    Estávamos com vós outros quando chegaram as más notícias.

    Ele disse que iria com nós três.

    Pronome Reflexivo

    São pronomes pessoais oblíquos que, embora funcionem como objetos direto ou indireto, referem-se ao sujeito da oração. Indicam que o sujeito pratica e recebe a ação expressa pelo verbo.

    O quadro dos pronomes reflexivos é assim configurado:

    - 1ª pessoa do singular (eu): me, mim.

    Por exemplo:

    Eu não me vanglorio disso.

    Olhei para mim no espelho e não gostei do que vi.

    - 2ª pessoa do singular (tu): te, ti.

    Por exemplo:

    Assim tu te prejudicas.

    Conhece a ti mesmo.

    - 3ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo.

    Por exemplo:

    Guilherme já se preparou.

    Ela deu a si um presente.

    Antônio conversou consigo mesmo.

    - 1ª pessoa do plural (nós): nos.

    Por exemplo:

    Lavamo-nos no rio.

    - 2ª pessoa do plural (vós): vos.

    Por exemplo:

    Vós vos beneficiastes com a esta conquista.

    Por exemplo:

    - 3ª pessoa do plural (eles, elas): sesi, consigo.

    Por exemplo:

    Eles se conheceram.

    Elas deram a si um dia de folga

     

     

    Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf45.php

  • Adriana o enunciado nao é "se" é "si". Ambos são reflexivos. O "se" é oblíquo reflexivo átono e o "si" é oblíquo reflexivo tônico

    GAB.C

  • Os pronomes oblíquos tônicos são sempre precedidos por preposições.

    “É um problema de fé em si mesmo.”

    Letra: C.

  • Os pronomes oblíquos tônicos "mim", "ti", "nós", "vós", "ele", "eles", "ela", "elas" e "si" são usados a seguir de qualquer preposição, exceto "com". Os pronomes oblíquos tônicos "comigo", "contigo", "connosco", "convosco" e "consigo" indicam o caso comitativo, substituindo o uso da preposição com.

    São chamados átonos os pronomes oblíquos que não são precedidos de preposição.

    - 1ª pessoa do singular (eu): me

    - 2ª pessoa do singular (tu): te

    - 3ª pessoa do singular (ele, ela): se, o, a, lhe

    - 1ª pessoa do plural (nós): nos

    - 2ª pessoa do plural (vós): vos

    - 3ª pessoa do plural (eles, elas): se, os, as, lhes