SóProvas


ID
2229142
Banca
IBFC
Órgão
MGS
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto

Uma Vela para Dario

                                             (Dalton Trevisan)

    Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva, e descansou na pedra o cachimbo.

    Dois ou três passantes rodearam-no e indagaram se não se sentia bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta. O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque.

    Ele reclina-se mais um pouco, estendido agora na calçada, e o cachimbo tinha apagado. O rapaz de bigode pediu aos outros que se afastassem e o deixassem respirar. Abre-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe tiram os sapatos, Dario rouqueja feio, bolhas de espuma surgiram no canto da boca.

    Cada pessoa que chega ergue-se na ponta dos pés, não o pode ver. Os moradores da rua conversam de uma porta à outra, as crianças de pijama acodem à janela. O senhor gordo repete que Dario sentou-se na calçada, soprando a fumaça do cachimbo, encostava o guarda-chuva na parede. Mas não se vê guarda-chuva ou cachimbo ao seu lado.

    A velhinha de cabeça grisalha grita que ele está morrendo. Um grupo o arrasta para o táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protesta o motorista: quem pagaria a corrida? Concordam chamar a ambulância. Dario conduzido de volta e recostado à parede - não tem os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata.

    Alguém informa da farmácia na outra rua. Não carregam Dario além da esquina; a farmácia é no fim do quarteirão e, além do mais, muito peso. É largado na porta de uma peixaria. Enxame de moscas lhe cobre o rosto, sem que faça um gesto para espantá-las.

    Ocupado o café próximo pelas pessoas que apreciam o incidente e, agora, comendo e bebendo, gozam as delícias da noite. Dario em sossego e torto no degrau da peixaria, sem o relógio de pulso.

    Um terceiro sugere lhe examinem os papéis, retirados - com vários objetos - de seus bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficam sabendo do nome, idade; sinal de nascença. O endereço na carteira é de outra cidade.

    Registra-se correria de uns duzentos curiosos que, a essa hora, ocupam toda a rua e as calçadas: era a polícia. O carro negro investe a multidão. Várias pessoas tropeçam no corpo de Dario, pisoteado dezessete vezes.

    O guarda aproxima-se do cadáver, não pode identificá- lo — os bolsos vazios. Resta na mão esquerda a aliança de ouro, que ele próprio quando vivo - só destacava molhando no sabonete. A polícia decide chamar o rabecão.

    A última boca repete — Ele morreu, ele morreu. A gente começa a se dispersar. Dario levou duas horas para morrer, ninguém acreditava estivesse no fim. Agora, aos que alcançam vê-lo, todo o ar de um defunto.

    Um senhor piedoso dobra o paletó de Dario para lhe apoiar a cabeça. Cruza as mãos no peito. Não consegue fechar olho nem boca, onde a espuma sumiu. Apenas um homem morto e a multidão se espalha, as mesas do café ficam vazias. Na janela alguns moradores com almofadas para descansar os cotovelos.

    Um menino de cor e descalço veio com uma vela, que acende ao lado do cadáver. Parece morto há muitos anos, quase o retrato de um morto desbotado pela chuva.

    Fecham-se uma a uma as janelas. Três horas depois, lá está Dario à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó. E o dedo sem a aliança. O toco de vela apaga-se às primeiras gotas da chuva, que volta a cair.

Considere o fragmento abaixo para responder à questão seguinte.

“Apenas um homem morto e a multidão se espalha, as mesas do café ficam vazias.” (12°§)


Em função da necessidade de concordância do verbo com o sujeito a que se refere, pode-se afirmar o seguinte sobre o sujeito da forma “espalha” é:

Alternativas
Comentários
  • (C)

    “Apenas um homem morto e a multidão se espalha, as mesas do café ficam vazias."

    Quem ou o quê se espalha?

    Logo, a multidão.

  • “Apenas um homem morto e a multidão se espalha, as mesas do café ficam vazias.”    OBS.  Quem se espalha? A multidão,logo é o sujeito simples.

     

    Gabarito:C

  • QC por favor retira as questões repetidas!!!

    mais comentários na Q662276

  • PERGUNTA BÁSICA QUEM SE ESPALHA? LOGO A MULTIDÃO GAB C

  • Em 21/05/2018, às 20:17:47, você respondeu a opção C.Certa!

    Em 16/05/2018, às 22:15:10, você respondeu a opção C.Certa!

  • GAB: C

    #PMSE

  • LETRA C) Uma dessa nao cai na minha prova hahahahaha -> VEN ni Min BB PMSE

  • Nesta frase, o verbo "espalhar" é VTD.
    Como temos um VTD + "SE", temos um sujeito determinado.

      

    Regra geral: O verbo concorda com o núcleo do sujeito em número e pessoa. 

      

    Como "espalha" está na 3º pessoa do singular, o sujeito é simples.
    Logo, é "a multidão".

     

    Letra C

  • GABARITO LETRA C.

    O segredo do item é acha a função do "se" na passagem.

    Nesse caso, o "se" é partícula apassivadora, logo o tem sujeito sendo ele simples marcado pela construção "a multidão"

  • Eu reescrevi a frase assim:

    A multidão se espalha / por causa de um homem morto

    Quem se espalha? A multidão. (sujeito)

    Resposta letra C

  • fui resolver a questão e agora to me sentindo mal pelo Dario. Humanidade podre! lkkkk

  • QUEM ESPALHA, ESPALHA ALGUMA COISA - LOGO É UM VTD + SE ---> SUJEITO DETERMINADO

  • acertei pensando da seguinte forma

    O HOMEM ESTÁ MORTO E A MULTIDÃO SE ESPALHA ...

  • SE acompanhando VTD ou VTDI = o SE é partícula apassivadora e a oração possui sujeito.

    "a multidão (Suj simples) se espalha (VTD)"

    O verbo concorda com o sujeito.

  • analisou a oração, corta na conjunção. Quem se espalha? a multidão.

  • vibraaaaaaaaaaaaaaaaa