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ID
2267689
Banca
IBFC
Órgão
EBSERH
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                               O Sudoeste e a Casuarina

                                                                        (Joel Silveira)

Entre a fuga do vento Nordeste e o primeiro sopro frio do Sudoeste, há um instante vazio e ansioso: as cigarras calam, se eriçam as águas da lagoa e as casuarinas, que se balançavam indolentes, imobilizam-se na rigidez morta e reta dos ciprestes. Os urubus debandam das palmeiras, os pescadores recolhem as velas, e daqui da varanda vejo os lagartos procurarem medrosos os seus esconderijos. “É o sudoeste”, penso, e logo ele chega carpindo penas e desgraças que não são suas.

“Estou vindo do mar alto, trago histórias”, diz ele com a sua voz agourenta. Ao que responde, enfastiada, a Casuarina: “Detesto as tuas histórias”.

Também eu, porque sei o que signifca pra mim o pranto desatado e frio. Logo esta varanda, que o Nordeste amornara para o meu sono, estará tomada por tudo o que o vento ruim traz consigo: a baba do oceano doente, a escuma amarela e pútrida, o calhau sangrento, o grito derradeiro dos náufragos, os olhos esbugalhados das crianças afogadas que não entenderam o último instante, o hálito pesado do marinheiro que morreu bêbado e blasfemo, o lamento do grumete que o mastaréu partido matou e atirou ao mar.

Assim são as histórias do Sudoeste. Ouvindo-as (e tenho de ouvi-las, como se elas viessem de dentro de mim, como se por dentro eu tivesse mil frinchas por entre as quais o Sudoeste passa e geme) ressuscito os meus mortos e minhas tristezas e a eles incorporo a amargura dos incertos e a angústia sobressaltada dos que têm medo – tão minhas agora. E vejo, destacada na escuridão como uma medusa no mar, a mão lívida do meu pai morto, imobilizada no gesto, talvez amigo, que não chegou a ser feito; e os pequenos dentes do meu irmão Francisco, que morreu sorrindo; e escuto, nos soluços do vento, aquele terrível convulso regougar de Maria que a morte levou num mar de sangue e vômito; e tremo e me apavoro, não por receio de não ter enterrado para sempre meus mortos, mas por medo de tê-los enterrado antes de ter pago tudo o que lhes devia.

Vocabulário:

Casuarina – espécie de árvores e arbustos

Cipreste – planta usada para arranjos às quais se associa a ideia de tristeza

Carpindo – capinar

Calhau – pedra de pequena dimensão

Grumete – graduação mais inferior da Marinha

Mastaréu – mastro pequeno

Regougar – soltar a voz

O texto estabelece uma relação entre elementos da natureza e os sentimentos do narrador. Isso porque:

Alternativas
Comentários
  • "(...)Logo esta varanda, que o Nordeste amornara para o meu sono, estará tomada por tudo o que o vento ruim traz consigo: a baba do oceano doente, a escuma amarela e pútrida, o calhau sangrento, o grito derradeiro dos náufragos, os olhos esbugalhados das crianças afogadas que não entenderam o último instante, o hálito pesado do marinheiro que morreu bêbado e blasfemo, o lamento do grumete que o mastaréu partido matou e atirou ao mar.

    Assim são as histórias do Sudoeste. Ouvindo-as (e tenho de ouvi-las, como se elas viessem de dentro de mim, como se por dentro eu tivesse mil frinchas por entre as quais o Sudoeste passa e geme) ressuscito os meus mortos e minhas tristezas(...)"

    Esses trechos que destaquei permitem concluir que a alternatica correta é a C.

  • " ressuscito os meus mortos e minhas tristezas". Marquei C;

  • Ressicito meus mortos e minhas tristezas parágrafo 3.

  • Em relação a letra B, a natureza nem SEMPRE ressuscita lembranças ruins....

  •  ressuscito os meus mortos e minhas tristezas e a eles incorporo a amargura dos incertos e a angústia sobressaltada dos que têm medo – tão minhas agora.

    letra: c

  • Estou vindo do mar alto, trago histórias”, diz ele com a sua voz agourenta. Ao que responde, enfastiada, a Casuarina: “Detesto as tuas histórias”.

    Também eu, porque sei o que signifca pra mim o pranto desatado e frio.

     

    Assim são as histórias do Sudoeste. Ouvindo-as ressuscito os meus mortos e minhas tristezas [...]

  • A) O texto implica que o vento Sudoeste é o "vento ruim", visto que traz consigo uma carga negativa. Por conseguinte, o texto vai se prosseguindo no rumo de o "vento ruim", juntamente com suas histórias, não necessariamente gerar medo no narrador-personagem, mas sim uma espécie de angústia; o vento Sudoeste é uma espécie de gatilho para as recordações tristes que, anualmente, com a vinda do "vento ruim", o assolam. No final, ao dizer que treme e apavora, ele explica de maneira a dar entender que não tem relação alguma com o vento Sudoeste.

     

    B) A generalização não se faz bem-vinda, já que ele deixa claro que, antes de o vento Sudoeste chegar, ele estava tranquilo, já que o vento Nordeste amornara seu sono, por exemplo.

     

    C) Este é o nosso Gabarito. Logo após citar as histórias do "vento ruim", ele diz que, ouvindo-as, remete aos seus próprios mortos e tristezas. Ou seja, remete às suas próprias perdas. Acredito que as aspas tiram a atenção do candidato despreparado, que lê rápido e sem prestar atenção.

     

    D) O vento Sudoeste não é o responsável pelas mortes na família dele. Ele é apenas um gatilho para as recordações.

     

    E) "Entre a fuga do vento Nordeste e o primeiro sopro frio do Sudoeste". Ou seja, o Nordeste não traz consigo lembranças do vento Sudoeste.

     

  • "(...) Logo esta varanda, que o Nordeste (o vento que vem do Nordeste) amornara para o meu sono, estará tomada por tudo o que o vento ruim traz consigo: a baba do oceano doente, a escuma amarela e pútrida, o calhau sangrento, o grito derradeiro dos náufragos, os olhos esbugalhados das crianças afogadas que não entenderam o último instante, o hálito pesado do marinheiro que morreu bêbado e blasfemo, o lamento do grumete que o mastaréu partido matou e atirou ao mar. 
       Assim são as histórias do Sudoeste (O VENTO QUE VEM DO SUDOESTE). Ouvindo-as (e tenho de ouvi-las, como se elas viessem de dentro de mim, como se por dentro eu tivesse mil frinchas por entre as quais o Sudoeste passa e geme) RESSUSCITO MEUS MORTOS E MINHAS TRISTEZAS (...)"

  • Como saber na letra C que ele fala do vendo do sudoeste e nao do nordeste, isso causou uma confusão e por issoa chei que a C estava errada. Pq nao é qualquer vento que tras esses lembranças

  • Um texto enorme desse, em uma prova, deixa o cara doido perde muito tempo.

  • Tenho muita dificuldade de interpretar esse texto