SóProvas


ID
2267716
Banca
IBFC
Órgão
EBSERH
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                               O Sudoeste e a Casuarina

                                                                        (Joel Silveira)

Entre a fuga do vento Nordeste e o primeiro sopro frio do Sudoeste, há um instante vazio e ansioso: as cigarras calam, se eriçam as águas da lagoa e as casuarinas, que se balançavam indolentes, imobilizam-se na rigidez morta e reta dos ciprestes. Os urubus debandam das palmeiras, os pescadores recolhem as velas, e daqui da varanda vejo os lagartos procurarem medrosos os seus esconderijos. “É o sudoeste”, penso, e logo ele chega carpindo penas e desgraças que não são suas.

“Estou vindo do mar alto, trago histórias”, diz ele com a sua voz agourenta. Ao que responde, enfastiada, a Casuarina: “Detesto as tuas histórias”.

Também eu, porque sei o que signifca pra mim o pranto desatado e frio. Logo esta varanda, que o Nordeste amornara para o meu sono, estará tomada por tudo o que o vento ruim traz consigo: a baba do oceano doente, a escuma amarela e pútrida, o calhau sangrento, o grito derradeiro dos náufragos, os olhos esbugalhados das crianças afogadas que não entenderam o último instante, o hálito pesado do marinheiro que morreu bêbado e blasfemo, o lamento do grumete que o mastaréu partido matou e atirou ao mar.

Assim são as histórias do Sudoeste. Ouvindo-as (e tenho de ouvi-las, como se elas viessem de dentro de mim, como se por dentro eu tivesse mil frinchas por entre as quais o Sudoeste passa e geme) ressuscito os meus mortos e minhas tristezas e a eles incorporo a amargura dos incertos e a angústia sobressaltada dos que têm medo – tão minhas agora. E vejo, destacada na escuridão como uma medusa no mar, a mão lívida do meu pai morto, imobilizada no gesto, talvez amigo, que não chegou a ser feito; e os pequenos dentes do meu irmão Francisco, que morreu sorrindo; e escuto, nos soluços do vento, aquele terrível convulso regougar de Maria que a morte levou num mar de sangue e vômito; e tremo e me apavoro, não por receio de não ter enterrado para sempre meus mortos, mas por medo de tê-los enterrado antes de ter pago tudo o que lhes devia.

Vocabulário:

Casuarina – espécie de árvores e arbustos

Cipreste – planta usada para arranjos às quais se associa a ideia de tristeza

Carpindo – capinar

Calhau – pedra de pequena dimensão

Grumete – graduação mais inferior da Marinha

Mastaréu – mastro pequeno

Regougar – soltar a voz

Ao final do texto, pode-se inferir que o medo a que o narrador faz referência poderia ser provocado, especificamente, pelo seguinte sentimento:

Alternativas
Comentários
  • pq remorso?

  • "..e tremo e me apavoro, não por receio de não ter enterrado para sempre meus mortos, mas por medo de tê-los enterrado antes de ter pago tudo o que lhes devia."

     

    O trecho acima demonstra o temor do narrador diante da possibilidade de não ter "acertado as contas" com as pessoas falecidas. Ele tem medo de que isso possa causar algum tipo de arrependimento (ou remorso).

     

    Gabarito: E

  • Remorso porque não pagou as dívidas antes da morte dos parentes.

  • E que belo final de texto!

    Gab: (E)

    Veni Vidi Vici

  • Ele acredita que Ficou em falta..

     "não por receio de não ter enterrado para sempre meus mortos, mas por medo de tê-los enterrado antes de ter pago tudo o que lhes devia."

  • Podemos encontrar a resposta na pergunta, vejamos:

     

    Ao final do texto, pode-se inferir que o medo a que o narrador faz referência poderia ser provocado, especificamente, pelo seguinte sentimento: 

     

    mas por medo de tê-los enterrado antes de ter pago tudo o que lhes devia. Provocando assim, um remorso.

     

     

  • mas por medo de tê-los enterrado antes de ter pago tudo o que lhes devia.

    (REMORSO )

     

    GABA  E

  • Remorso: é um substantivo masculino que significa um sentimento de aflição ou tristeza causado pela prática de um ato reprovável. Também pode ser considerado um sinônimo de arrependimento.

    Letra E

  • Gabarito: E.

    inferi...depreende-se...o texto permite deduzir, Remorso...."não por receio de não ter enterrado para sempre meus mortos, mas por medo de tê-los enterrado antes de ter pago tudo o que lhes devia".

  • isso é questao para assistente adm ou p psicólogo?

  • "não por receio de não ter enterrado para sempre meus mortos, mas por medo de tê-los enterrado antes de ter pago tudo o que lhes devia."

     

     

  • Kkkkkkk, Dever aos outros é foda!  

  • Texto triste =(

  • A pergunta foi leve,porém o texto assusta de tão complexo ,bem interpretativo

  • mas por medo de tê-los enterrado antes de ter pago tudo o que lhes devia.

    E :)

    Força na peruca :) Deus é bom o tempo todo

  • não por receio de não ter enterrado para sempre meus mortos, mas por medo de tê-los enterrado antes de ter pago tudo o que lhes devia.

    GAB - E

    Jesus é bom!

  • TEXTO MEDONHO !!!!

  • Do jeito que o mundo está hoje em dia se a pessoa que alguém deve morre, quem está devendo fala: ufa! me livrei de mais uma dívida! nem para os outros morrerem tbm!

  • ... Tremo e me apavoro, não por receio de não ter enterrado para sempre meus mortos, mas por medo de tê-los enterrado antes de ter pago tudo o que lhes devia.

    REMORSO

    LETRA E