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ID
2327122
Banca
IBGP
Órgão
CISSUL - MG
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A questão diz  respeito ao conteúdo do TEXTO 1. Leia-o atentamente ante de respondê-la.
TEXTO I
Nossos dias melhores nunca virão?
Ando em crise, mas não é muito grave: ando em crise com o tempo. Que estranho “presente” é este que vivemos hoje, correndo sempre por nada, como se o tempo tivesse ficado mais rápido do que a vida (da maneira que seria se o tempo...).
As utopias liberais do século 20 diziam que teríamos mais ócio, mais paz com a tecnologia. Acontece que a tecnologia não está aí para distribuir sossego, mas para incrementar competição e produtividade, não só das empresas, mas a produtividade dos humanos. Tudo sugere velocidade, urgência, nossa vida está sempre aquém de alguma tarefa. A tecnologia nos enfiou uma lógica produtiva de fábricas, fábricas vivas, chips, pílulas para tudo. Temos de funcionar, não de viver. Por que tudo tão rápido? Para chegar aonde? Antes, tínhamos passado e futuro; agora, tudo é um “enorme presente”. E este “enorme presente” é reproduzido com perfeição técnica cada vez maior, nos fazendo boiar num tempo parado, mas incessante, num futuro que “não para de não chegar”.
Antes, tínhamos os velhos filmes em preto-e-branco, fora de foco, as fotos amareladas, que nos davam a sensação de que o passado era precário e o futuro seria luminoso. Nada. Nunca estaremos no futuro. E, sem o sentido da passagem dos dias, da sucessibilidade de momentos, de começo e fim, ficamos também sem presente, vamos perdendo a noção de nosso desejo, que fica sem sossego, sem noite e sem dia. Estamos cada vez mais em trânsito, como carros, somos celulares, somos circuitos sem pausa, e cada vez mais nossa identidade vai sendo programada. O tempo é uma invenção da produção. Não há tempo para os bichos.
Há alguns anos, eu vi um documentário do cineasta Mika Kaurismaki e do Jim Jarmusch sobre um filme que o Samuel Fuller ia fazer no Brasil, em 1951. Ele veio, na época, e filmou uma aldeia de índios no interior do Mato Grosso. A produção não rolou e, em 92, Samuel Fuller, já com 83 anos, voltou à aldeia e exibiu para os índios o material colorido de 50 anos atrás. E também registrou os índios vendo seu passado na tela. Eles nunca tinham visto um filme e o resultado é das coisas mais lindas e assustadoras que já vi. Eu vi os índios descobrindo o tempo. Eles se viam crianças, viam seus mortos, ainda vivos e dançando. Seus rostos viam um milagre. A partir desse momento, eles passaram a ter passado e futuro. Foram incluídos num decorrer, num “devir” que não havia. Hoje, esses índios estão em trânsito entre algo que foram e algo que nunca serão. O tempo foi uma doença que passamos para eles, como a gripe. E pior: as imagens de 50 anos é que pareciam mostrar o “presente” verdadeiro deles. Eram mais naturais, mais selvagens, mais puros naquela época. Agora, de calção e sandália, pareciam estar numa espécie de “passado” daquele presente. Algo decaiu, piorou, algo involuiu neles.
Fui atrás de velhos filmes de 8mm que meu pai rodou há 50 anos também. Queria ver o meu passado, ver se havia ali alguma chave que explicasse meu presente hoje, que prenunciasse minha identidade ou denunciasse algo que perdi, ou que o Brasil perdeu. Em meio às imagens trêmulas, riscadas, fora de foco, vi a precariedade de minha pobre família de classe média, tentando exibir uma felicidade familiar que até existia, mas precária, constrangida; e eu ali, menino comprido feito um bambu no vento, já denotando a insegurança que até hoje me alarma. Minha crise de identidade já estava traçada. E não eram imagens de um passado bom que decaiu, como entre os índios. Era um presente atrasado, aquém de si mesmo.
Vendo filmes americanos dos anos 40, não sentimos falta de nada. Com suas geladeiras brancas e telefones pretos, tudo já funcionava como hoje. O “hoje” deles é apenas uma decorrência contínua daqueles anos. Mudaram as formas, o corte das roupas, mas eles, no passado, estavam à altura de sua época. A Depressão econômica tinha passado, como um trauma, e não aparecia como o nosso subdesenvolvimento endêmico. Para os americanos, o passado estava de acordo com sua época. Em 42, éramos carentes de alguma coisa que não percebíamos. Olhando nosso passado é que vemos como somos atrasados no presente. Nos filmes brasileiros antigos, parece que todos morreram sem conhecer seus melhores dias.
E nós, hoje, continuamos nesta transição entre o atraso e uma modernização que não chega nunca? Quando o Brasil vai crescer? Quando cairão afinal os “juros” da vida? [...] Nosso atraso cria a utopia de que, um dia, chegaremos a algo definitivo. Mas, ser subdesenvolvido não é “não ter futuro”; é nunca estar no presente.
JABOR, Arnaldo. Disponível em: http://www.paralerepensar.com.br/a_jabor_nossodias.htm>. Acesso em: 6 set. 2016. (Fragmento adaptado)

Em relação à construção dos pontos de vista defendidos por Jabor, assinale a alternativa INCORRETA.

Alternativas
Comentários
  • Ué. Na B os eletrodomésticos não eram dos americanos? Não entendi

  • Esse gabarito D está esquisito.

     

    Marquei B.

  • Gabarito da banca é letra B

  • Essa banca está com algumas respostas confusas, concordo com a Bia Reis, os eletrodomesticos eram dos americanos.

  • GABARITO  B

    Vendo filmes americanos dos anos 40, não sentimos falta de nada. Com suas geladeiras brancas e telefones pretos, tudo já funcionava como hoje.

     

    Ao comentar que “não sentimos falta de nada”, o autor faz referência aos eletrodomésticos dos brasileiros. 

     

    A meu ver, a banca está querendo dizer que nós, brasileiros, não sentimos falta de nada (eletrodomésticos dos americanos da década de 40, comparados com os letrodomésticos brasileiros ), que utilizamos nos dias atuais.

     

    Mas o erro está especificamente nos "eletrodomésticos". A falta de nada aparentada nos vídeos, pra mim é do estilo de vida e não com os eletrodomésticos. ou seja, eles viviam o presente, completo, sem esperar por algo a mais, como nós vivemos. 

  • A “B” também está errada, mas o erro da “D” é facilmente percebido.

     

    d) Ao fazer menção a “uma modernização que não chega nunca”, o autor expressa uma opinião pessoal sobre o país.

    Último parágrafo: “E nós, hoje, continuamos nesta transição entre o atraso e uma modernização que não chega nunca?” O ponto de interrogação deixa claro que não é a opinião dele, mas uma indagação que ele faz ao leitor.

     

    Erro da “B”:

    b) Ao comentar que “não sentimos falta de nada”, o autor faz referência aos eletrodomésticos dos brasileiros.

    Texto:

    Vendo filmes americanos dos anos 40 (adj. Adverbial de lugar: no filme americano), não sentimos falta de nada (até aqui não é possível saber do que ele está dizendo). Com suas geladeiras brancas e telefones pretos, tudo já funcionava COMO hoje (compara os anos 40 com hoje do americano). O “hoje” deles é apenas uma decorrência contínua daqueles anos. Mudaram as formas, o corte das roupas, mas eles, no passado, estavam à altura de sua época. A Depressão econômica tinha passado, como um trauma, e não aparecia como o nosso subdesenvolvimento endêmico. PARA OS AMERICANOS, o passado estava de acordo com sua época.” Até aqui o parágrafo não faz qualquer referência ao Brasil.

     

    Última parte do parágrafo: “Em 42, ÉRAMOS carentes de alguma coisa que não percebíamos. Olhando NOSSO PASSADO é que vemos COMO (o autor compara o nosso passado com o nosso presente) SOMOS atrasados NO PRESENTE. Nos filmes brasileiros antigos, PARECE (aqui o autor deixa claro que para ele que o passado do brasileiro não era bom) que todos morreram sem conhecer seus melhores dias.”

    Resumindo: nesse parágrafo o autor faz uma compara entre o americano nos anos 40 e hoje e uma segunda comparação entre o brasileiro de 42 e hoje.

  • NA LETRA D O AUTOR FAZ UM QUESTIONAMENTO ASSIM COMO NA LETRA C , OU SEJA, NÃO DÁ UMA OPINIÃO.

  • eita banquinha.....

  • BANCA CONFUSA DEMAIS, OS ELETRODOMÉSTICOS É DOS AMERICANOS E N DOS BRASILEIROSSSSSS.