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ID
2341159
Banca
IDECAN
Órgão
CBM-DF
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                            Memória coletiva

      Em 1925, quando a era das comunicações começava a se acelerar, o filósofo francês Maurice Halbwachs aventou a ideia de uma “memória coletiva”: o conjunto de lembranças que um grupo de pessoas compartilha sobre um evento marcante e que, somado a fatos e imagens de domínio público, forma um tecido muito mais extenso e bem tramado do que a simples soma das recordações individuais. Esse tecido é tão forte, aliás, que pode ser compartilhado até mesmo por gerações que não assistiram aos acontecimentos. É um fenômeno presente na maneira como os judeus lembram o Holocausto ou os americanos revivem a Guerra do Vietnã. Na vida brasileira, o ano de 1970 é um desses polarizadores da memória coletiva: o ano em que o país reuniu a mais brilhante escalação da história do futebol, em que esse time derrotou de maneira quase heroica cada um dos seus adversários [...], em que a população experimentou, na Copa do Mundo, seu primeiro grande evento de mídia – e também um ano em que a ditadura militar arrancava as pessoas de suas casas e sumia com elas, em que tudo era dito aos sussurros e em que essa euforia de uma torcida nacional foi usada como cortina de fumaça para o desgoverno e se misturou a ele. [...] E está aí, em boa medida, a beleza de O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (Brasil, 2006) [...]: na maneira como ele ao mesmo tempo separa e une esses dois fios da memória.

      No começo de 1970, Mauro (Michel Joelsas), de 12 anos, é tirado às pressas de sua casa em Belo Horizonte e levado para o apartamento do avô, no bairro paulistano do Bom Retiro. Os pais, aflitos, dizem que estão saindo de férias e, quando puderem, voltarão para buscá-lo, de preferência a tempo de assistirem juntos à Copa. Vão-se embora sem conferir se o avô recebeu o menino em segurança. Mas ele não está em casa, nem vai voltar. Mauro vira então atribuição da vizinhança. Mora meio na casa vazia do avô, meio no apartamento ao lado, do velho Shlomo (Germano Haiut), zelador da sinagoga local – o Bom Retiro reunia então uma forte comunidade judaica, a que Mauro nem sabia pertencer. Janta com uma pessoa, almoça com outra, brinca com as crianças do bairro e, o tempo todo, mantém um olho grudado no futebol e o outro no telefone, à espera de uma ligação dos pais que não chega nunca.

      [...]

(BOSCOV, Isabela. Disponível em: http://arquivoetc.blogspot.com.br/2006/10/memria-coletiva.html.)

Acerca da articulação entre as ideias que se estabelece no texto através dos mecanismos de coesão textual, está correta a afirmativa:

Alternativas
Comentários
  • A alternativa (A) é a correta, pois, a coesão referencial é aquela em que uma palavra faz referência a outra, o que ocorre com o pronome relativo “que”, o qual retoma a expressão “o conjunto de lembranças”.

    A alternativa (B) está errada, pois a expressão “o filósofo francês Maurice Halbwachs” deu início a uma informação nova, não havendo uma retomada ou projeção de um referencial. Isso poderia ter ocorrido se num momento anterior houvesse sido mencionado no texto o nome “Maurice Halbwachs” e em seguida houvesse a retomada por meio, por exemplo, da expressão “esse o filósofo francês”. Como isso não ocorreu, não há elemento de coesão

    A alternativa (C) está errada, pois “Michel Joelsas” não substitui “Mauro”, não são palavras sinônimas. O que ocorreu, na verdade, foi a indicação do artista que interpretou o personagem “Mauro” na trama. Assim, não há elemento de coesão por substituição.

    A alternativa (D) está errada, pois a escolha vocabular de “país” no lugar de “técnico” não significa ter havido melhor ou pior coesão. Simplesmente, houve a substituição de um vocábulo por outro, num processo figurativo de linguagem chamado de metonímia. Mas veja bem: note que a palavra “técnico” não havia sido inserida no texto anteriormente. Assim, a palavra “país” não se encontra num processo de coesão por substituição, por ser a primeira vez que tal vocábulo é inserido neste sentido. 

    LETRA A

    Décio Terror Filho

  • Coesão referencial é aquela em que os recursos são utilizados para evitar repetições dentro do texto. Ela trabalha na base da retomada ou da antecipação de informações. São utilizadas inúmeras estratégias, como a reescritura (paráfrase), os pronomes, os advérbios e outras palavras remissivas.

    Coesão sequencial é responsável por estabelecer nexos (conexões) entre palavras, frases e parágrafos, com a finalidade de dar continuidade e lógica à estrutura de um texto. São utilizados as conjunções, as preposições e os pronome relativos, que dão sequência ao texto e estabelecem relações de “antes e depois”, “causa e consequência”

    Com base nas definições acima, a coesão na letra A) seria referencial ou sequencial?