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ID
2353762
Banca
COMPERVE
Órgão
UFRN
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Na corrida contra a demência

Gláucia Leal

        “Sorte daqueles que não têm de morrer”, diz um provérbio tibetano que, volta e meia, me vem à cabeça. A frase – ligeiramente irônica, já que a finitude é inevitável – tem, como contexto, a crença na lei de causas e consequências, segundo a qual teremos de nos haver com as repercussões de nossos atos, nossas intenções e nossas palavras – nesta ou em outras existências. E não porque tenhamos de ser castigados, mas sim porque prevalece a ideia de que nada nos acontece sem que, em algum momento, tenhamos criado as causas para isso. Fazendo uma releitura do ditado oriental, tomo a liberdade de dizer que teríamos sorte se não tivéssemos de envelhecer. Esse desfecho não é inevitável, claro, mas a alternativa também não parece nada atraente. Na maioria absoluta, ansiamos pela vida. Com o aumento dessa expectativa, o problema é chegarem também os “males” dos desgastes impostos pelo tempo. A demência, que nos rouba de nós mesmos, talvez seja um dos mais temidos.
        O mais prevalente desses quadros é a doença de Alzheimer. A patologia pode ter evoluído concomitantemente com a inteligência humana. Em artigo publicado no periódico científico bioRxiv, cientistas afirmaram ter encontrado evidências de que, entre 50 mil e 200 mil anos atrás, a seleção natural impulsionou mudanças em seis genes envolvidos no desenvolvimento cerebral, o que pode ter contribuído para aumentar a conectividade neuronal, tornando os humanos modernos mais inteligentes à medida que evoluíram de seus ancestrais hominídeos. Essa nova capacidade intelectual, porém, não veio sem custo: os mesmos genes estão implicados no Alzheimer. O geneticista Kun Tang, do Instituto de Ciências Biológicas de Xangai, na China, que liderou a pesquisa, especula que o distúrbio de memória se desenvolveu à medida que cérebros em processo de envelhecimento lutavam com novas demandas metabólicas impostas pela crescente inteligência.
        Mas essa é só uma parte da história: se a capacidade de aprender e memorizar nos penaliza, ela também acena com a possibilidade de afastar a manifestação do Alzheimer, às vezes por vários anos ou até por toda a vida. O neurocientista David A. Bennett, diretor do Centro Rush da Doença de Alzheimer em Chicago, um dos mais renomados pesquisadores na área, revela uma descoberta surpreendente: pessoas com a mesma condição cerebral podem apresentar estado mental completamente diferente. Enquanto uma perde a memória, outra se mostra lúcida e capaz. Ou seja, mais importante do que o estado físico dos tecidos é o uso que se faz deles, apesar dos danos.
        Para ganhar a corrida contra a demência, duas armas são fundamentais: afeto e exercício intelectual. Apostar no que faz bem, manter pessoas queridas por perto, cultivar relações de intimidade, cuidar de animais e se divertir, movimentar o corpo, passear, falar mais de um idioma e aprender coisas contribui para postergar o surgimento do Alzheimer e diminuir o número de anos que se passa doente no fim da vida. Curiosamente, parece que a prevenção está justamente no que tende a nos tornar mais felizes. 

Disponível em: <https://www.uol.com.br/ > . Acesso em:10 set. 2016. [Texto adaptado] 

Considere o trecho:

“Sorte daqueles que não têm de morrer”, diz um provérbio tibetano que, volta e meia, me vem à cabeça. A frase (1º) – ligeiramente irônica, já que a finitude é inevitável – tem, como contexto, a crença na lei de causas e consequências, segundo a qual teremos de nos haver com as repercussões de nossos atos, nossas intenções e nossas palavras – nesta ou em outras existências. E não porque tenhamos de ser castigados, mas sim porque prevalece a ideia de que nada nos acontece sem que, em algum momento, tenhamos criado as causas para isso (2º). Fazendo uma releitura do ditado oriental (3º), tomo a liberdade de dizer que teríamos sorte se não tivéssemos de envelhecer. Esse desfecho (4º) não é inevitável, claro, mas a alternativa também não parece nada atraente. Na maioria absoluta, ansiamos pela vida.

No que diz respeito aos elementos coesivos destacados, é correto afirmar:

Alternativas
Comentários
  •  d)

    o terceiro e o quarto retomam referentes distintos. 

  • Elementos coesivos são palavras ou expressões cuja função é estabelecer relações lógicas entre as partes do texto – como os conectivos – ou fazer referência a outros elementos presentes no texto – pronomes, advérbios, sinônimos.

  •  d)

    o terceiro e o quarto retomam referentes distintos. 

    Bem bolada essa questão.

  • o ditado oriental remete a :

    “Sorte daqueles que não têm de morrer”

     

    Esse desfecho  remete a:

    ...teríamos sorte se não tivéssemos de envelhecer.

     

    LETRA D - REFERENTES DISTINTOS

     

     

  • Anáfora e catáfora são antecipações ou retomadas de termo presente ou não no texto. A diferença entre esses mecanismos depende da posição ocupada em relação ao item referido.

    Observe as frases:

    1 – O carro que comprei é automático.

    2 – A mãe olhou-o e disse: - Meu filho, estás com um olhar cansado.

    É possível notar que os termos destacados nas frases fazem referência a outras expressões que aparecem antes ou depois deles, não é mesmo? Em 1, o pronome relativo “que” retoma o substantivo“carro que o antecede. Já em 2, o pronome oblíquo “o” apresenta o referente que só aparecerá na sequência do enunciado.

    Esse tipo de mecanismo linguístico é chamado de coesão referencial e, dependendo da posição do termo a que faz referência, pode ser classificada em anáfora ou catáfora.

    Anáfora

    É um mecanismo linguístico por meio do qual um termo recupera um outro termo que o antecedeu no texto.

    Exemplos:

    Mariana comprou um novo carro. O veículo é o laçamento do ano.

    Perceba a retomada do substantivo “carro” por outro substantivo, “veículo”.

    doutor está de férias. Ele só retornará aos atendimentos no próximo mês.

    Nesse exemplo, houve a retomada do substantivo “doutor” pelo pronome “ele”.

    Catáfora

    É um mecanismo linguístico no qual o referente aparece depois do item coesivo.

    Exemplos:

    Só desejamos istoférias!

    Perceba que o pronome demonstrativo “isto antecede o referente “férias”, que aparece logo depois.

    Pedro comprou vários ingredientesaçúcar, farinha, ovos, chocolate em pó e leite.

    Note que a expressão “vários ingredientes” antecede o referente que apresenta quais itens Pedro comprou: “açúcar, farinha, ovos, chocolate em pó e leite.”

    Veja a abordagem desse conteúdo em uma questão da Uerj:

    Observe as formas sublinhadas em:

    “Morava então (1893) em uma casa de pensão no Catete. Já por esse tempo estegênero de residência florescia no Rio de Janeiro. Aquela era pequena e tranquila.” (l. 11-14)

    Esseeste e aquela são formas empregadas como recursos de coesão textual. Indique a classe gramatical a que pertencem essas palavras e justifique a escolha de cada uma no trecho de acordo com a respectiva função textual.

    Resposta:

    As palavras em destaque (esse, este, aquela) são pronomes demonstrativos e são utilizados para fazer referência a algum termo que já foi dito no texto (anáfora) ou que ainda será apresentado (catáfora). Assim, o pronome esse refere-se ao ano de 1983; o pronome este refere-se ao gênero de residência; e o pronome aquela refere-se à casa de pensão no Catete.

    Interessante notar também, nessa questão da Uerj, a noção de proximidade entre os pronomes e os seus respectivos referentes justificando o uso específico de cada. Porém, isso é assunto para um outro texto. Bons estudos e até a próxima!

  • 1° e 3° referem-se ao trecho oriental

    2° --> serem castigados

    4º --> envelhecer

     

    D) o terceiro e o quarto retomam referentes distintos.