SóProvas


ID
2354959
Banca
CONSULPLAN
Órgão
TRF - 2ª REGIÃO
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Medo e preconceito

      O tema é espinhoso. Todos somos por ele atingidos de uma forma ou de outra, como autores ou como objetos dele. O preconceito nasce do medo, sua raiz cultural, psíquica, antropológica está nos tempos mais primitivos – por isso é uma postura primitiva –, em que todo diferente era um provável inimigo. Precisávamos atacar antes que ele nos destruísse. Assim, se de um lado aniquilava, de outro esse medo nos protegia – a perpetuação da espécie era o impulso primeiro. Hoje, quando de trogloditas passamos a ditos civilizados, o medo se revela no preconceito e continua atacando, mas não para nossa sobrevivência natural; para expressar nossa inferioridade assustada, vestida de arrogância. Que mata sob muitas formas, em guerras frequentes, por questões de raça, crença e outras, e na agressão a pessoas vitimadas pela calúnia, injustiça, isolamento e desonra. Às vezes, por um gesto fatal.

      Que medo é esse que nos mostra tão destrutivos? Talvez a ideia de que “ele é diferente, pode me ameaçar”, estimulada pela inata maldade do nosso lado de sombra (ele existe, sim).

     Nossa agressividade de animais predadores se oculta sob uma camada de civilização, mas está à espreita – e explode num insulto, na perseguição a um adversário que enxovalhamos porque não podemos vencê-lo com honra, ou numa bala nada perdida. Nessa guerra ou guerrilha usamos muitas armas: uma delas, poderosa e sutil, é a palavra. Paradoxais são as palavras, que podem ser carícias ou punhais. Minha profissão lida com elas, que desde sempre me encantam e me assombram: houve um tempo, recente, em que não podíamos usar a palavra “negro”. Tinha de ser “afrodescendente”, ou cometíamos um crime. Ora, ao mesmo tempo havia uma banda Raça Negra, congressos de Negritude... e afinal descobrimos que, em lugar de evitar a palavra, podíamos honrá-la. Lembremos que termos usados para agredir também podem ser expressões de afeto. “Meu nego”, “minha neguinha”, podem chamar uma pessoa amada, ainda que loura. “Gordo”, tanto usado para bullying, frequentemente é o apelido carinhoso de um amigo, que assim vai assinar bilhetes a pessoas queridas. Ao mesmo tempo, palavras como “judeu, turco, alemão” carregam, mais do que ignorância, um odioso preconceito.

      De momento está em evidência a agressão racial em campos esportivos: “negro”, “macaco” e outros termos, usados como chibata para massacrar alguém, revelam nosso lado pior, que em outras circunstâncias gostaríamos de disfarçar – a grosseria, e a nossa própria inferioridade. Nesses casos, como em agressões devidas à orientação sexual, a atitude é crime, e precisamos da lei. No país da impunidade, necessitamos de punição imediata, severa e radical. Me perdoem os seguidores da ideia de que até na escola devemos eliminar punições do “sem limites”. Não vale a desculpa habitual de “não foi com má intenção, foi no calor da hora, não deem importância”. Temos de nos importar, sim, e de cuidar da nossa turma, grupo, comunidade, equipe ou país. Algumas doenças precisam de remédios fortes: preconceito é uma delas.

      “Isso não tem jeito mesmo”, me dizem também. Acho que tem. É possível conviver de forma honrada com o diferente: minha família, de imigrantes alemães aqui chegados há quase 200 anos, hoje inclui italianos, negros, libaneses, portugueses. Não nos ocorreria amar ou respeitar a uns menos do que a outros: somos todos da velha raça humana. Isso ocorre em incontáveis famílias, grupos, povos. Porque são especiais? Não. Simplesmente entenderam que as diferenças podem enriquecer.

      Num país que sofre de tamanhas carências em coisas essenciais, não devíamos ter energia e tempo para perseguir o outro, causando-lhe sofrimento e vexame, por suas ideias, pela cor de sua pele, formato dos olhos, deuses que venera ou pessoa que ama. Nossa energia precisa se devotar a mudanças importantes que o povo reclama. Nestes tempos de perseguição, calúnia, impunidade e desculpas tolas, só o rigor da lei pode nos impedir de recair rapidamente na velha selvageria. Mudar é preciso.

                                             (LUFT, Lya. 10 de setembro, 2014 – Revista Veja.)

Segundo pode-se apreender do texto, a agressividade humana

Alternativas
Comentários
  • Gabarito B

     "Nossa agressividade de animais predadores se oculta sob uma camada de civilização, mas está à espreita – e explode num insulto, na perseguição a um adversário que enxovalhamos porque não podemos vencê-lo com honra, ou numa bala nada perdida." (3º§)

  • não concordei com o gabarito: não entendi que a agressividade humana se desarmoniza com a civilização, mas sim, que usa o manto da civilização para ocultar-se.. esconder...

    sei não.. to é doida

  • Desarmonizar e ocultar são palavras bem distintas. Estranho esse gabarito. Gostaria de uma explicação!

  • Acho que seria essa alternativa, pois, a agressividade humana vai de encontro a todos os princípios de uma sociedade que se diz democratica, miscigenada. Fato evidenciado no texto..

  • Outra coisa, esse enunciado da questão não parece correto o.O
    "segundo" é uma conjunção subordinada, logo é um fator atrativo de próclise. O correto não seria: "segundo se pode aprender..." ou "segundo pode aprender-se" , ficando o pronome antes ou depois da locução? Alguém se habilita a comentar ? xD

  • Comenta aí professor!!!!! Questão mais doida....

  • O gabarito é b) [a agressividade humana] desarmoniza-se com o manto de civilização com que nos vestimos

    Observem o seguinte trecho do terceiro parágrafo:

    "Nossa agressividade de animais predadores se oculta sob uma camada de civilização, mas está à espreita". 

    Ou seja, a "nossa agressividade" (agressividade humana) está escondida por trás de uma camada (ou um "manto") de civilização, mas (porém) está à espreita (escondida porém latente, pronta para agir). O manto de civilização esconde a agressividade mas ela está lá, prestes a sair. Então, essa agressividade não está em harmonia com tal camada de civilização, para isso deveria estar calma, apaziguada, mas não, está "à espreita", logo, em desarmonia. 

    A presença da conjunção coordenativa adversativa mas na frase citada acima, é essencial para compreender essa ideia de desarmonia: se oculta (aparentando harmonia) MAS está à espreita (portanto, em desarmonia).

     

     

  • A princípio discordei do gabarito.

    Porém, lendo com cuidado, vemos que a agressividade primitiva é tratada como natural, porque tinha uma finalidade: a própria proteção.
     "Precisávamos atacar antes que ele nos destruísse. Assim, se de um lado aniquilava, de outro esse medo nos protegia."

     

    Então, a partir do momento em que nos cobrimos com o "manto de civilização", deturpamos essa agressividade antiga que, apesar de primitiva, tinha um fim, e aplicamos em violências de diversas formas, injustificáveis. Ela perdeu sua razão de ser:
    "Hoje, quando de trogloditas passamos a ditos civilizados, o medo se revela no preconceito e continua atacando, mas não para nossa sobrevivência natural; para expressar nossa inferioridade assustada, vestida de arrogância."

     

    Então, nós desarmonizamos (tiramos a harmonia, desequilibramos) a agressividade primitiva, que antes tinha um propósito natural, uma razão de ser que a justificava naquele tempo.

    Por isso a resposta:



    b) Desarmoniza-se com o manto de civilização com que nos vestimos

  • Que texto, hein!!!!

  • A desarmonia se deve a duas palvras: Civilização X Predadores. Isso é desarmonico. Paradoxal.

    Vi algumas pessoas citando a discordancia do gabarito. Eu tambem discordo, mas... Pra hoje é o que temos.

    Gabarito: A

  • Um adendo: "apreender" está no campo da "compreensão" ou da "interpretação"? Pois estamos mais acostumados com os famigerados "infere-se... Depreende-se... etc". Pelo menos eu!

     

    Repararam que a autora inicou  frase com pronome oblíquo átono kkkk (Me perdoem os seguidores) , ou ela está protegida pela "licença poética"?

     

    Até mais.

     

  • Alguém aí sabe dizer se o comando é de interpretação? "Segundo pode-se apreender do texto..."

  • APREENDER: Captar, assimilar (ideia, pensamento, conhecimento etc.); COMPREENDER [td. : "Essas leis são simples, fáceis de apreender..."

     

    FONTE: Aulete Digital

  • desarmonizar foi foda

  •  b) desarmoniza-se com o manto de civilização com que nos vestimos. 

    Que forçado Consulplan!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

  • Você fica meia hora lendo o texto, consulta palavra por palavra e ERRA a questão.

  • FDP CONSULPLAN

  • É isso Guilherme Ribeiro.

  • JEOVÁ

  •  "Hoje, quando de trogloditas passamos a ditos civilizados, o medo se revela no preconceito e continua atacando, mas não para nossa sobrevivência natural"

     

     Nossa agressividade de animais predadores se oculta sob uma camada de civilização, mas está à espreita – e explode num insulto, na perseguição a um adversário que enxovalhamos porque não podemos vencê-lo com honra, ou numa bala nada perdida.

     

     

    COMENTÁRIO: É possível perceber uma DESARMONIA nos trechos que destaquei em que percebemos que apesar de o ser humano ter se camuflado atrás da dita civilização a agressividade, medo e preconceito ainda estão à espreita e continuam atacando, existindo em nós.

  • Vou conversar com dona Lya Luft pra ver se é isso mesmo o.o

  •  Alguém sabe por que a a) está errada?

     a) é tanto pior quanto física numa bala nada perdida.

     

    Nossa agressividade de animais predadores se oculta sob uma camada de civilização, mas está à espreita – e explode num insulto, na perseguição a um adversário que enxovalhamos porque não podemos vencê-lo com honra, ou numa bala nada perdida. 

     

    A impressão que tive é que havia uma gradação, isto é, a agressividade podia ser um insulto (leve), perseguição (mediana) e bala nada perdida (pior agressividade).

  • POR CAUSA DESSA MERDA DE MATERIA QUE NAO PASSO NOS CONCURSOS....AINDA MAIS COM ESSA TAL CONSULPLAN AI FERRA TUDO!

  • Tales Barreto, pelo o que entendi a alternativa (A) traz uma ideia de comparação - TANTO...QUANTO.... quando na verdade a ideia foi de ALTERNÂNCIA: "...e explode num insulto, na perseguição a um adversário que enxovalhamos porque não podemos vencê-lo com honra, OU numa bala nada perdida"

     

    Ou seja, a AGRESSIVIDADE pode se manifestar em um INSULTO, PERSEGUIÇÃO OU ATRAVÉS DE UM TIRO, porém o autor não disse qual manifestação da agressividade é a pior e por isso não dá para concluir que seja a (A)

  •  Italo, obrigado pela resposta. Porém, ainda acho que o autor vá intensificando a agressividade por meio dos exemplos: insulto -> perseguição -> assassinato. Porém, refletindo melhor, talvez não exista a ideia de ser "tanto pior quanto física", pois, por exemplo, o insulto não é algo físico. Concorda?

    Abraço

  • Pessoal,tenho aprendido depois de apanhar muito em Interpretação de Textos que "SE NÃO TIVER COMO COMPROVAR NO TEXTO, ENTÃO A ALTERNATIVA ESTÁ ERRADA". Muitas das vezes erramos porque,inconscientemente,nós DEDUZIMOS certas coisas.Não podemos deduzir nada.Então,vou deixar aqui como tenho feito e tem dado certo.

     a)é tanto pior quanto física numa bala nada perdida. ERRADO

    Está no 3º parágrafo,apesar de ter usado a expressão dita no texto "numa bala nada perdida",a primeira parte não está dita no texto.Se não se pode comprovar,então não é o gabarito.

     b)desarmoniza-se com o manto de civilização com que nos vestimos. CORRETA.

    Nossa agressividade de animais predadores se oculta sob uma camada de civilização...

    ...mas está à espreitae explode num insulto, na perseguição ...

    Está correto pois no texto diz que nos escondemos sob uma camada de civilização,entretanto está a espreita,explodimos num insulto,por exemplo.Ou seja,se somos civilizados essa tal agressividade não poderia aparecer em dadas situaçoes.

     c)é uma instância urdida como fator necessário e insubstituível para a sobrevivência. ERRADO

    Em nenhum parágrafo é possivel achar essas palavras ou frases que expliquem o sentido dessa alternativa.

     d)atenua-se por uma ansiedade irracional que tem sua gênese nas relações interpessoais.ERRADO

    No texto não fala em nenhum parágrafo a palavra ansiedade ou insinua ou mostra algum sinonimo.

    Espero ter ajudado!

    "Corpo no pasto,alma e coração no trono."

  • Tales Barreto, concordo sim! ;)

  • Texto: Nossa agressividade de animais predadores se oculta sob uma camada de civilização, mas está à espreitae explode num insulto (...) ou numa bala nada perdida.

     

    Questão: b) A agressividade humana desarmoniza-se com o manto de civilização com que nos vestimos.

     

    Dicionário michaelis.uol.com.br: ...3 Pôr(-se) em desacordo; discordar, divergir:

     

    Obs.: Realmente a agressividade está em desacordo com o manto da civilização, ou seja, diverge da mesma.