SóProvas


ID
2355715
Banca
CONSULPLAN
Órgão
TRF - 2ª REGIÃO
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Medo e preconceito

      O tema é espinhoso. Todos somos por ele atingidos de uma forma ou de outra, como autores ou como objetos dele. O preconceito nasce do medo, sua raiz cultural, psíquica, antropológica está nos tempos mais primitivos – por isso é uma postura primitiva –, em que todo diferente era um provável inimigo. Precisávamos atacar antes que ele nos destruísse. Assim, se de um lado aniquilava, de outro esse medo nos protegia – a perpetuação da espécie era o impulso primeiro. Hoje, quando de trogloditas passamos a ditos civilizados, o medo se revela no preconceito e continua atacando, mas não para nossa sobrevivência natural; para expressar nossa inferioridade assustada, vestida de arrogância. Que mata sob muitas formas, em guerras frequentes, por questões de raça, crença e outras, e na agressão a pessoas vitimadas pela calúnia, injustiça, isolamento e desonra. Às vezes, por um gesto fatal.

      Que medo é esse que nos mostra tão destrutivos? Talvez a ideia de que “ele é diferente, pode me ameaçar”, estimulada pela inata maldade do nosso lado de sombra (ele existe, sim).

     Nossa agressividade de animais predadores se oculta sob uma camada de civilização, mas está à espreita – e explode num insulto, na perseguição a um adversário que enxovalhamos porque não podemos vencê-lo com honra, ou numa bala nada perdida. Nessa guerra ou guerrilha usamos muitas armas: uma delas, poderosa e sutil, é a palavra. Paradoxais são as palavras, que podem ser carícias ou punhais. Minha profissão lida com elas, que desde sempre me encantam e me assombram: houve um tempo, recente, em que não podíamos usar a palavra “negro”. Tinha de ser “afrodescendente”, ou cometíamos um crime. Ora, ao mesmo tempo havia uma banda Raça Negra, congressos de Negritude... e afinal descobrimos que, em lugar de evitar a palavra, podíamos honrá-la. Lembremos que termos usados para agredir também podem ser expressões de afeto. “Meu nego”, “minha neguinha”, podem chamar uma pessoa amada, ainda que loura. “Gordo”, tanto usado para bullying, frequentemente é o apelido carinhoso de um amigo, que assim vai assinar bilhetes a pessoas queridas. Ao mesmo tempo, palavras como “judeu, turco, alemão” carregam, mais do que ignorância, um odioso preconceito.

      De momento está em evidência a agressão racial em campos esportivos: “negro”, “macaco” e outros termos, usados como chibata para massacrar alguém, revelam nosso lado pior, que em outras circunstâncias gostaríamos de disfarçar – a grosseria, e a nossa própria inferioridade. Nesses casos, como em agressões devidas à orientação sexual, a atitude é crime, e precisamos da lei. No país da impunidade, necessitamos de punição imediata, severa e radical. Me perdoem os seguidores da ideia de que até na escola devemos eliminar punições do “sem limites”. Não vale a desculpa habitual de “não foi com má intenção, foi no calor da hora, não deem importância”. Temos de nos importar, sim, e de cuidar da nossa turma, grupo, comunidade, equipe ou país. Algumas doenças precisam de remédios fortes: preconceito é uma delas.

      “Isso não tem jeito mesmo”, me dizem também. Acho que tem. É possível conviver de forma honrada com o diferente: minha família, de imigrantes alemães aqui chegados há quase 200 anos, hoje inclui italianos, negros, libaneses, portugueses. Não nos ocorreria amar ou respeitar a uns menos do que a outros: somos todos da velha raça humana. Isso ocorre em incontáveis famílias, grupos, povos. Porque são especiais? Não. Simplesmente entenderam que as diferenças podem enriquecer.

      Num país que sofre de tamanhas carências em coisas essenciais, não devíamos ter energia e tempo para perseguir o outro, causando-lhe sofrimento e vexame, por suas ideias, pela cor de sua pele, formato dos olhos, deuses que venera ou pessoa que ama. Nossa energia precisa se devotar a mudanças importantes que o povo reclama. Nestes tempos de perseguição, calúnia, impunidade e desculpas tolas, só o rigor da lei pode nos impedir de recair rapidamente na velha selvageria. Mudar é preciso.

                                             (LUFT, Lya. 10 de setembro, 2014 – Revista Veja.)

No período “O preconceito, é em muitos de nós que ele existe”, foi utilizado o recurso semântico da figura de linguagem, que consiste no emprego de um sentido figurado que surge de uma intenção ou da necessidade de expressão de forma criativa, inovadora. Assinale a alternativa correspondente à figura utilizada no trecho e sua definição correta.

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: C

     

    Anacoluto ---> é a quebra da estruturação sintática, de que resulta ficar um termo sem função sintática no período.

     

    “O preconceito, é em muitos de nós que ele existe"

    perceba que o termo preconceito não tem função sintática nenhuma no período

  • a) Hipérbato: TROCA DA ORDEM DOS TERMOS.

    b) Apóstrofe INVOCAR COISA PERSONIFICADA

    c) Anacoluto que consiste na interrupção do plano sintático com que se inicia uma frase, alterando-lhe a sequência do processo lógico.

    d) Silepse   OMISSÃO DE TERMO

     

  • Simone Vieira, desculpa, mas você confundiiu SILEPSE com ELIPSE:

    ELIPSE: é sim a OMISSÃO de termo facilmente identificado (se assemelha à zeugma tbm). Ex.: A cada um o que é seu. (Deve se dar a cada um o que é seu.)

    SILEPSE: A silepse é a concordância que se faz com o termo que não está expresso no texto, mas sim com a ideia que ele representa. É uma concordância anormal, psicológica, espiritual, latente, porque se faz com um termo oculto, facilmente subentendido. Há três tipos de silepse: de gênero, número e pessoa.

    Gênero:  A bonita Porto Velho sofreu mais uma vez com o calor intenso.

    Número: A procissão saiu. Andaram por todas as ruas da cidade de Salvador.

    Pessoa: O que não compreendo é como os brasileiros persistamos em aceitar essa situação.

  • A Consulplan foi boazinha nessa, pois se não botasse as definições ia derrubar 99% dos candidatos.

  • HIPÉRBATO - Em sentido corrente, é termo genérico para designar toda inversão da ordem normal das palavras na oração, ou da ordem das orações no período, com finalidade expressiva.

    Ex.: [As crianças] [acho] [que brincam melhor em grupo]. Ordem direta:[Acho] [que as crianças brincam melhor em grupo].

    APÓSTROFE

    - interrupção súbita do discurso que o orador ou o escritor faz, para dirigir-se a alguém ou a algo, real ou fictício (p.ex.: a seguir, leitor amigo, contarei a história tal como sucedeu).

    - palavra ou sintagma nominal que iniciam um enunciado, para indicar o destinatário da mensagem (p.ex.: bom dia, doutor; você , venha cá ; meu Deus , que devo fazer? ).

    ANACOLUTO - período iniciado por uma palavra ou locução, seguida de pausa, que tem como continuação uma oração em que essa palavra ou locução não se integra sintaticamente, embora esteja integrada pelo sentido; p.ex., no provérbio quem ama o feio, bonito lhe parece (que corresponde à frase canônica o feio parece bonito a quem o ama ); anacolutia, frase quebrada.

    SILEPSE - É a concordância que se faz não com a forma gramatical das palavras, mas com o seu sentido, com a ideia que elas expressam (concordância ideológica).

    ▪Silepse de número: Ex.: Na rua, o povo manifestava-se. Gritavam por justiça. singular plural
    ▪Silepse de gênero: Ex.: Vossa Excelência parece muito indignado! feminino masculino

     

  • Hipérbato ou Inversão é uma figura de construção ou sintaxe caracterizada pela troca na sequência normal dos termos da oração. Neste caso, ocorre uma inversão ocasionando uma mudança, onde a ordem direta destes termos é alterada.

    Isto quer dizer que, a disposição usual do sujeito, verbo, complementos e adjuntos, fica diferenciada. O arranjo padrão destes elementos na oração não é considerado.

     

    Exemplos de Hipérbato

    Alguns exemplos típicos de Hipérbato são   encontrados na letra   do Hino Nacional   Brasileiro.

    Observe:

    “Ouviram do Ipiranga às margens plácidas, de um povo heroico o brado retumbante …”

     

    Notamos que houve troca na ordem de alguns dos elementos da oração. A sequência lógica seria:

    “Ouviram o brado retumbante de um povo heroico, às margens plácidas do Ipiranga.     

     

    Apóstrofe é a figura do chamamento, da invocação. É a forma de exteriorizar a voz que chama, que grita, que fala, enfatizando seu chamado. Dentre as figuras de Linguagem é uma das mais fáceis de se identificar, pois, não deixa dúvidas. Revela-se por meio do vocativo.

     

    Apóstrofe: Invocação, chamamento,  Interpelação.

    Observe o quanto de apelo e indagação, há no poema Vozes d’África, de Castro Alves, que evoca Deus em socorro da África, terra que sofre a invasão de mercadores de escravos.

     

    Vozes d’África

    “…Ó Deus! Onde estás que não respondes?

    Em que mundo, em que estrela, Tu t’escondes?

    […]Há dois mil anos te mandei meu grito,

    […]

    …Onde estás, Senhor Deus?”

    O poeta clama, apela, grita por Deus, implora que Ele venha em socorro da África e de seus filhos escravizados. No vocativo “Ó Deus” – temos Apóstrofe.

     

    ANACOLUTO - período iniciado por uma palavra ou locução, seguida de pausa, que tem como continuação uma oração em que essa palavra ou locução não se integra sintaticamente, embora esteja integrada pelo sentido; p.ex., no provérbio quem ama o feio, bonito lhe parece (que corresponde à frase canônica o feio parece bonito a quem o ama ); anacolutia, frase quebrada.

     

     

    SILEPSE - É a concordância que se faz não com a forma gramatical das palavras, mas com o seu sentido, com a ideia que elas expressam (concordância ideológica).

    ▪Silepse de número: Ex.: Na rua, o povo manifestava-se. Gritavam por justiça. singular plural
    ▪Silepse de gênero: Ex.: Vossa Excelência parece muito indignado! feminino masculino

     

     

     

     

     

  • PARA FIXAR DE FORMA OBJETIVA:

    HIPÉRBATO - INVERSÃO DE ORDEM DA FRASE

    APÓSTROFE - CHAMAMENTO/VOCATIVO

    SILEPSE - AUSÊNCIA DE CONCORDÂNCIA

    GABARITO: C


    FONTE: FLÁVIA RITA

  • Anacoluto <3

  • Anacoluto que consiste na interrupção do plano sintático com que se inicia uma frase, alterando-lhe a sequência do processo lógico.

  • GABARITO: LETRA C

    Anacoluto:
    É a quebra da estrutura lógico-sintática, ficando um termo sem função sintática na frase; normalmente no início dela, como um tópico.
    - A lua, os poetas sempre cantaram esse tema.
    - Nosso amor, tudo não passou de frenesi efêmero.
    - Revolução Francesa, hoje falaremos sobre insurreições ocorridas na França.
    - “O homem, chamar-lhe mito não passa de anacoluto.” (Carlos Drummond de Andrade).

    FONTE: A gramática para concursos públicos / Fernando Pestana. – 2. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2015.

  • Anacoluto é o tal do objeto direto/indireto pleonástico =)