SóProvas


ID
2361388
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
EBSERH
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

SOLIDÃO INTERATIVA

     Ronaldo Coelho Teixeira

      A primeira vez que vi esse termo foi por meio de um jeca superjóia: Juraildes da Cruz. Tocantino de Aurora, radicado em Goiânia, Goiás e um dos maiores compositores contemporâneos brasileiros. Não seria pra menos! Afinal, foi ele quem criou o hit que Genésio Tocantins espalhou pelo Brasil por meio do Domingão do Faustão, na TV Globo, em 1999. “Nóis é jeca, mas é joia”, aquele da farinhada, feita da mandioca, da macaxeira ou do aipim, a depender da região brasileira. Sacada de mestre, de quem está sempre antenado ao mundo e aos seus. Juraíldes da Cruz em sua letra, visionária – como tudo o que os gênios, as antenas da raça fazem – já arrepiava: “Tiro o bicho de pé com canivete, mas já tô na internet”. E isso quando a www ainda engatinhava.

      Mas com esse achado que agora evoco aqui, o artista quer mesmo é alertar para o mau uso das tecnologias, sobre coisas que o homem cria, mas que geralmente acaba escravo delas. Solidão interativa foi cunhado pelo sociólogo francês Dominique Wolton. Em sua tese, o autor alerta quanto ao cuidado para com o uso da internet, principalmente das redes sociais, chamando a atenção para um detalhe vital no avanço das tecnologias de comunicação: não importam formas e meios de expressão, a comunicação humana não foi, não é e nunca será algo tão simples, sempre vai conter grandeza e dificuldade. Wolton justifica-se dizendo que a internet é incrível para a comunicação entre pessoas e grupos que tenham os mesmos interesses, mas está longe de ser uma ferramenta de comunicação de coesão entre pessoas e grupos diferentes. E que por isso, a internet não é uma mídia, mas um sistema de comunicação comunitário. Ele prova isso afirmando que podemos passar horas, dias na internet e sermos incapazes de ter uma verdadeira relação humana com quer que seja.

      A solidão interativa grassa nas redes sociais, especialmente no facebook. São fotos e fotos postadas – a maioria – forjando uma felicidade quando, na verdade, é tudo fake. As mais usuais são aquelas em que o autor se autofotografa – as famosas selfies – e sai espalhando-as de um dia para o outro, quando não, de uma hora para outra.

      Tem as gastronômicas. Aquelas em que o autor antes de comer um prato ou uma iguaria especial, fotografa e já a lança na rede como a dizer que está podendo. Mas aquela comidinha do dia a dia, a da vida real, ele jamais vai postar. Ovo frito? Nem pensar! E aquelas dos momentos felizes? Sim, tem gente que acha que os seus instantes de lazer e diversão têm que, obrigatoriamente, ser vistos por todos. E lá vai um post ao lado do namorado ou namorada, dos amigos, geralmente com ares de forçação de barra. Porque a gaiola do tempo, forjada por nós mesmos, só pode ser aberta pela chave da felicidade plena.

      E tem aquela que é emblemática: a mensagem em que o internauta revela o status do seu sentimento. Mas o ápice da solidão interativa está naquela figura que posta alguma coisa e ela mesma vai lá e a curte. De dar dó, não? Temos milhares de ‘amigos’ nessa cornucópia virtual. Nessa Caixa de Pandora do Século XXI, eis-nos diante de uma incoerente quimera: o autoengano. [...]

      O autoengano é peça-chave para a nossa sobrevivência. Mentimos – a partir dos dois meses de idade – não só para os outros, mas, principalmente, para nós mesmos. Mesmo protegidos na redoma da interatividade, continuamos sós, ali, onde apenas a solidão nos alcança. Enquanto teclamos a torto e a direito, sugerindo que estamos sempre ON, a vida verdadeira continua OFF. E nunca nos damos conta de que, no fim, toda a solidão que nos rodeia, essa sim, é real. Porque bytes, bits e pixels não transmitem calor. E o verbo sem o hálito quente é apenas palavra morta.

Adaptado de:< http://lounge.obviousmag.org/espantalho_lirico/2016/08/solidao-interativa.html >.

Assinale a alternativa correta.

Alternativas
Comentários
  • No excerto, “(...) os seus instantes de lazer e diversão têm que, obrigatoriamente, ser vistos por todos.”, o verbo destacado está acentuado, pois concorda com o sujeito, cujo núcleo está no plural (Núcleo = instantes)

    Gabarito alternativa a)

  • Letra A.

     

     a) No excerto, “(...) os seus instantes de lazer e diversão têm que, obrigatoriamente, ser vistos por todos.”, o verbo destacado está acentuado, pois concorda com o sujeito, cujo núcleo está no plural. - Certo, concorda com "instantes".

     b) A conjugação do verbo destacado a seguir está incorreta, pois ele deveria estar no singular, por concordar com “a comunicação”: “[...] a internet é incrível para a comunicação entre pessoas e grupos que tenham os mesmos interesses [...]” - Errado, pois concorda com "pessoas e grupos".

     c) Em “Aquelas em que o autor antes de comer um prato ou uma iguaria especial, fotografa e já a lança na rede como a dizer que está podendo.”, o verbo destacado está no singular, porque concorda com “iguaria especial” - Errado, pois concorda com o pronome oblíquo "a", a qual se refere a "fotografia" de forma elíptica/oculta. 

     d) O termo em destaque no excerto a seguir deveria estar no gênero feminino (comunitária), para concordar com “mídia”; “[...] a internet não é uma mídia, mas um sistema de comunicação comunitário.”. - Errado, pois está concordando com "sistema".

     e) No trecho, “Mesmo protegidos na redoma da interatividade, continuamos sós, ali, onde apenas a solidão nos alcança.”, o termo destacado deveria estar no plural, pois, sintaticamente, concorda com o pronome oblíquo “nos”. - Errado, pois está concordando com o sujeito singular "a solidão".

  • Ele tem

    Eles têm

     

    Seu instante tem

    Seus instantes têm

  • a)CORRETA

    No excerto, “(...) os seus instantes de lazer e diversão têm que, obrigatoriamente, ser vistos por todos.”, o verbo destacado está acentuado, pois concorda com o sujeito, cujo núcleo está no plural.

     b) ERRADA - POIS CONCORDA COM GRUPOS

    A conjugação do verbo destacado a seguir está incorreta, pois ele deveria estar no singular, por concordar com “a comunicação”: “[...] a internet é incrível para a comunicação entre pessoas e grupos que tenham os mesmos interesses [...]”

     c) ERRADA ESTÁ CONCORDANDO TANTO COM PRATO COMO COM IGUARIA ESPECIAL

    Em “Aquelas em que o autor antes de comer um prato ou uma iguaria especial, fotografa e já a lança na rede como a dizer que está podendo.”, o verbo destacado está no singular, porque concorda com “iguaria especial”

     d) ERRADO - POIS CONCORDA COM COMUNICAÇÃO QUE É SUBSTANTIVO FEMININO ASSIM COMO MÍDIA.

    O termo em destaque no excerto a seguir deveria estar no gênero feminino (comunitária), para concordar com “mídia”; “[...] a internet não é uma mídia, mas um sistema de comunicação comunitário.”.

     e) ERRADO POIS ALCANÇA CONCORDA COM SOLIDÃO

     No trecho, “Mesmo protegidos na redoma da interatividade, continuamos sós, ali, onde apenas a solidão nos alcança.”, o termo destacado deveria estar no plural, pois, sintaticamente, concorda com o pronome oblíquo “nos”.

  • Letra também estaria correta de haver um "sujeito composto", não só pelo "nucleo instantes". 

  • Dicas sobre o SUJEITO:

    1) Para identificá-lo pergunte : O QUE? ou QUEM?

    2) Analise se o sujeito está posposto ao verbo. Se estiver o verbo pode estabelecer concordância com o núcleo do sujeito mais próximo (concordância por atração)

    ex: Faltaram coragem e competência.
          Faltou coragem e competência.

    3) O núcleo do sujeito NÃO PODE SER PREPOSICIONADO (essa ajuda muitxooo);

    4) Nem sempre o verbo estabelecerá concordância com o núcleo do sujeito, o que a gramática denomina como concordância atrativa (o que ocorre no caso de sujeito posposto ao verbo)

  • Magali Melancia, 

    Na letra C, 

    Em “Aquelas em que o autor antes de comer um prato ou uma iguaria especial, fotografa e já a lança na rede como a dizer que está podendo.”, o verbo destacado está no singular, porque concorda com “iguaria especial”

    LANÇA NAO PODE CONCORDAR COM OS DOIS.. 

    POIS QUANDO É POSPOSTO, OBRIGATORIAMENTE, SE CONCORDASSE COM OS DOIS... FICARIA NO PLURAL. 

  • Acertei, mas fiquei em dúvida em ralação a letra C. 

  • têm plural

    tem singular

  • Me corrijam se eu estiver errada, mas no novo acordo ortográfico não existe mais acentos diferencias. Tipo em tem e têm, em vêem e vêem, em para e pára etc.
  • Só corrigindo o excelente comentário da colega. Na verdade, na letra C, o verbo concorda com o sujeito "o autor", pois o pronome oblíquo "a" aí funciona como objeto direto da oração. Basta perguntar antes do verbo. Quem lança? O autor.

  • errei, marquei letra c, pois ela achei que a letra A estava errada.

    núcleo composto: dois núcleos ---> seus instantes de lazer e "seus instantes" de diversão.

    aí o enunciado fala " cujo núcleo está no plural" ,mas há dois núcleos ---> acredito que essa o enunciado deveria falar

    "cujos núcleos estão no plural.

    QUESTÃO CABULOSA

    TÍPICO DE BANCA FULERA

  • A) " os seus instantes de lazer e diversão têm que, obrigatoriamente, ser visto por todos".

    Observe que quando perguntamos ao verbo ter "quem/o que tem que ser visto por todos?" O que encontramos é: os seus instantes de lazer e diversão, que, por sua vez, é um sujeito simples. "(...) De lazer e diversão..." está especificando quais são os instantes. O pronome possessivo "seu" está empregado como pronome possessivo adjetivo, pois acompanha o substantivo "instantes". O artigo "Os" está determinando e introduzindo o sujeito, aquele funciona como adjunto adnominal do núcleo do sujeito, assim como o pronome "seus" e a expressão especificativa "de lazer e diversão". Logo, posto todos estes argumentos, é possível afirmar que a resposta correta é a "Letra A"

    A letra "C" que é uma das assertivas que deixa a duvidar, está incorreta. O verbo lança é transitivo direto e pede objeto direto, e o pronome "a" que encontra-se posposto ao verbo é o seu objeto direto. Quando perguntamos "quem lança?" Encontramos isto: O autor. Logo, o verbo não está concordando com iguarias e sim com "O autor". Observando o parágrafo terceiro e quarto para não restar dúvidas, é perceptível que o pronome "A" retoma o pronome "aquelas" que retoma o termo "foto" que, por sua vez, encontra-se omisso (zeugma) no 4° parágrafo, mas, o pronome demonstrativo "aquela" retoma o termo distante anteriormente citado.

  • Errei porque classifiquei lazer e diversão como núcleos do sujeito, e ambas as palavras estão no singular.

  • A) No excerto, “(...) os seus instantes de lazer e diversão têm que, obrigatoriamente, ser vistos por todos.”, o verbo destacado está acentuado, pois concorda com o sujeito, cujo núcleo está no plural. CERTO!

    Mas aquela comidinha do dia a dia, a da vida real, ele jamais vai postar. Ovo frito? Nem pensar! E aquelas dos momentos felizes? Sim, tem gente que acha (acha o quê? Isso!) que os seus instantes de lazer e diversão têm que, obrigatoriamente, ser vistos por todos. O sublinhado é predicado do sujeito. Porém, dentro desse predicado, o sujeito do verbo TER são os seus instantes de lazer e diversão, cujo núcleo é “instantes”.

    C) Em “Aquelas em que o autor antes de comer um prato ou uma iguaria especial, fotografa e já a lança na rede como a dizer que está podendo.”, o verbo destacado está no singular, porque concorda com “iguaria especial” ERRADA!

    O autor fotografa o quê? A foto... Percebam que o autor logo a lança na rede. Lança o quê? A fotografia. É necessário ler o texto e não se ater apenas aos quesitos:

    (...) A solidão interativa grassa nas redes sociais, especialmente no facebook. São fotos e fotos postadas – a maioria – forjando uma felicidade quando, na verdade, é tudo fake. As (fotos – sujeito oculto) mais usuais são aquelas em que o autor se autofotografa – as famosas selfies – e sai espalhando-as de um dia para o outro, quando não, de uma hora para outra.

    Tem as (fotos – sujeito oculto) gastronômicas. Aquelas em que o autor antes de comer um prato ou uma iguaria especial, fotografa (O quê? A foto – sujeito oculto) e já a lança (a foto) na rede como a dizer que está podendo. (...).