SóProvas


ID
2364943
Banca
IBADE
Órgão
SEJUDH - MT
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto para responder às questões.
TE
        De todas as coisas pequenas, estava ali a menor de todas que eu já tinha visto. Não porque ela sofresse dessas severas desnutrições africanas - embora passasse fome mas pelo que eu saberia dela depois.
        Teria uns 4 anos de idade, estava inteiramente nua e suja, o nariz catarrento, o cabelo desgrenhado numa massa disforme, liso e sujo. Chorava alto, sentada no chão da sala escura. A casa de taipa tinha três cômodos pequenos. Isso que chamei de sala não passava de um espaço de 2 m por 2 m, sem janelas. Apenas a porta, aberta na parte de cima, jogava alguma luz no ambiente de teto baixo e chão batido.
        Isso aconteceu na semana passada, num distrito de Sertânia, cidade a 350 km de Recife, no sertão de Pernambuco. A mãe e os outros seis filhos ficaram na porta a nos espreitar, os visitantes estranhos. O marido, carregador de estrume, ganhava R$ 20 por semana, o que somava R$ 80 por mês. Essa a renda do casal analfabeto. Nenhum dos sete filhos frequentava a escola. Não havia água encanada. Compravam a R$ 4 o tambor de 24 litros. O choro da menina seguia atrapalhando a conversa.
        - Ei, por que você está chorando? perguntei, enfiando a cabeça no vão da porta. A menina não ouviu, largada no chão.
        - Ei! Vem cá, eu vou te dar um presente - repeti. Ela olhou para mim pela primeira vez. Mas não se mexeu, ainda chorando.
        - Como é o nome dela? - perguntei à mulher.
        - A gente chama ela de Te -disse, banguela. -Te? Mas qual o nome dela?-insisti. - A gente chama ela de Te, que ela ainda não foi batizada não.
        - Como assim? Ela não tem nome? Não foi registrada no cartório?
        - Não, porque eu ainda não fui atrás de fazer.
        Te. Olhei de novo para a menina. Era a menor coisa do mundo, uma pessoa sem nome. Um nada. “Te” era antes da sílaba - era apenas um fonema, um murmúrio, um gemido. Entendi o choro, o soluço, o grito ininterrupto no meio da sala. A falta de nome impressionava mais do que a falta de todo o resto.
        Te chorava de uma dor, de uma falta avassaladora. Só podia ser. Chorava de solidão, dessa solidão dos abandonados, dos que não contam para nada, dos que mal existem. Ela era o resultado concreto das políticas civilizadas (as econômicas, as sociais) e de todo o nosso comportamento animal: o de ir fazendo sexo e filhos como os bichos egoístas que somos, enfim.
      Era como se aquele agrupamento humano (uma família?) vivesse num estágio qualquer pré- linguagem, em que nomear as coisas e as pessoas pouco importava. Rousseau diz que o homem pré-histórico não precisava falar para se alimentar. Não foi por causa da comida que surgiu a linguagem. "O fruto não desaparece de nossas mãos”, explica. Por isso não era necessário denominá-lo.
        As primeiras palavras foram pronunciadas para exprimir o que não vemos, os sentimentos, as paixões, o amor, o ódio, a raiva, a comiseração. “Só chamamos as coisas por seus verdadeiros nomes quando as vemos em suas formas verdadeiras.” Só quando Te viu a coisa na minha mão se calou.
        - Ei, Te, olha o que eu tenho para te dar!
        Ela virou-se na minha direção. Fez-se um silêncio na sala. Era uma bala enrolada num papel verde, com letras vermelhas. Então ela se levantou, veio até a porta e pegou o doce, voltou para o mesmo lugar e recomeçou seu lamento.
        Nem a bala serviu de consolo. Era tudo amargura. Só restava chorar, chorar e chorar por essa morte em vida, por essa falta de nome, essa desolação.
FELINTO, Marilene. Te. Folha de S. Paulo, São Paulo, 30 jan. 2001. Brasil, Cotidiano, p. C2. 

Sobre a oração destacada em “As primeiras palavras foram pronunciadas para exprimir o QUE NÃO VEMOS” é correto afirmar que:

Alternativas
Comentários
  • " As primeiras palavras foram pronunciadas para exprimir o QUE NÃO VEMOS "

    LINHA 25

  • A) CORRETO. "que não vemos" é uma oração subordinada adjetiva restritiva, que exercem função adjetiva na oração.

    B) as orações não são independentes, pois trata-se de uma oração subordinada

    C) nem entendi essa alternativa

    D) sintagma adjetivo e não adverbial.

    E) não tem essa ideia. Teria, se fosse algo do tipo "estudei tanto que passei"

  • Só um psicólogo para responder essa questão!

  • Corrijam-me se estiver enganado, mas a oração O QUE NÃO VEMOS e uma oração subordinada substantiva objetiva direta, não?

    Em que o "QUE" exerce a função de conjunção integrante.

  • Não creio que seja uma oração subordinada adjetiva, pois o "que" não pode ser substituido pelo pronome relativo "qual". Bom seria se os professores comentassem essa questão. 

  • Para exprimir aquilo (o) o qual (que) não vemos. Adjetiva restritiva.

  • Repreende Senhor!! Que esse tipo de questão passe longe das minhas provar, Amém!!!

  • troque o QUE por O QUAL - A QUAL- OS QUAIS- AS QUAIS  se aceitar PRONOME RELATIVO= ORAÇÃO SUBORDINADA ADJETIVA  COM VIRGULA =EXPLICATIVA  - SEM VIRGULA = RESTRITIVA

  • Sobre a oração destacada em “As primeiras palavras foram pronunciadas para exprimir O QUE NÃO VEMOS” é correto afirmar que: 

    O - Pronome demonstrativo com Função de Sujeito

     QUE( pronome relativo) RETOMA a palavra anterior

     

    "Uma oração subordinada adjetiva é aquela que possui valor e função de adjetivo, ou seja, que a ele equivale. As orações vêm introduzidas por pronome relativo e exercem a função de adjunto adnominal do antecedente."  

     

    Fonte: Copiado de um colega no Qconcursos

     

  • oração subordinada substantiva objetiva direta ???

  • Não, Fernando. "Aquilo o qual não vemos" é um pronome relativo.

  • VAI QUEBRANDO, SENHOR, TODA MALDIÇÃO E FEITIÇARIA....

  • Vejo dessa forma, deslocando o "o que não vemos" para depois do objeto: "As primeiras palavras foram pronunciadas para exprimir os sentimentos, as paixões, o amor, o ódio (objeto direto)... os quais não vemos.

    No início também pensei ser uma conjunção integrante (isso), mas como não encontrei alternativa retornei ao texto. Se há entre as alternativas oração substantiva teria errado.