Texto 3
Do prescritivismo preconceituoso ao normativismo racional
O que aqui defendemos é um prescritivismo funcional e ilustrado, que caracterizamos por três traços: relativismo, gradação e elasticidade. Um prescritivismo relativista, que proclama a importância pragmática e simbólica da diversidade linguística, reconhece o valor de cada uma das variedades da língua e assume a convencionalidade dos padrões. Um prescritivismo graduado, que sustenta que as prescrições têm mais força e validade para certos estilos de comunicação que para outros, e inclusive que carecem de justificação para alguns, ao mesmo tempo em que defende que as exigências de conformidade à língua normativa não devem ser as mesmas para todos os falantes em todas as situações. Um prescritivismo elástico, que postula que as normas linguísticas devem se oferecer como orientações para o comportamento linguístico e não se impor como ditames imperativos para o comum dos falantes. Resumindo, um prescritivismo atento ao uso comum, e preocupado com que os padrões linguísticos não se afastem desnecessariamente dele.
Com tais pressupostos, talvez estejamos mais bem equipados para responder aos desafios de uma melhora significativa, equitativamente compartilhada, das competências linguístico-comunicativas do conjunto dos falantes, e da imprescindível e urgente democratização dos complexos instrumentos de poder e de saber que são as línguas.
MONTEAGUDO, Henrique. Variação e norma linguística: subsídios
para uma (re)visão. In: LAGARES, Xoán C.; G BAGNO, Marcos (orgs.)
Políticas da norma e conflitos linguísticos. São Paulo: Parábola
Editorial, 2011. p. 46. [Adaptado]