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ID
2390881
Banca
VUNESP
Órgão
ODAC
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                  O resgate do casaco

      Já entrávamos no restaurante quando minha amiga deu um grito. Tinha esquecido seu casaco no táxi. Vi no seu olho o tamanho da perda. Mulher sabe.

      Não era um casaco qualquer. Era daqueles que jamais poderão ser substituídos, roupas energéticas que serão lembradas para todo o sempre. Nem pestanejei. Corri para a rua. O táxi ainda estava parado no semáforo da esquina. Me concentrei na atleta que poderia existir oculta dentro de mim e fiz minha melhor performance nos cem metros rasos.

      Quando estava bem perto, o sinal abriu e o táxi acelerou. Tive vontade de chorar. Eu estava quase.

      Por muito pouco não o alcancei. Desisti por um momento, ofegante, mas um pequeno engarrafamento parou o carro novamente. Inflei mais uma vez minha esperança atlética e dei o melhor de mim.

      Não reconhecia minhas pernas se alternando em tamanha velocidade e agora eu já pensava muito mais na minha capacidade de atingir o que me parecia impossível do que no casaco da minha amiga.

      Inacreditavelmente, o carro se pôs de novo em movimento a apenas alguns passos de minhas potentes pernas. Não parei. Não sei o que me deu. Não sei como, mas continuei a correr. Não pude engolir dois fracassos. Fui além. Corri no limite do impossível.

      O resgate do casaco virou uma questão de honra, de exercício da esperança duas vezes desafiada. Agora eu corria gritando a plenos pulmões:

      — Pare este táxi! Pare este táxi!

      Deu certo. Pararam o táxi e eu, quase morrendo, recuperei o precioso casaco de minha amiga.

      Quando o coloquei em suas mãos, ela me abraçou e caiu numa crise de choro. Não parava de chorar. Entendi que o casaco não era o que mais importava também para ela, e juntas choramos abraçadas sob os olhares curiosos de nossos maridos.

      Tínhamos ambas nos transformado pelo que tinha acontecido. Tão banal e tão revelador.

      Minha amiga sempre me fala da história do casaco. Diz que sempre se lembra dela e que já chegou a vesti-lo quando estava prestes a desistir de uma empreitada sem ao menos ter tentado.

      Quanto a mim, sei o quanto foi especial aquele momento. Minha esperança em vaivém, tornando-se elástica quando tudo parecia perdido. Uma heroína desconhecida se fazendo valer à minha revelia, desafiada pela frustração de sucessivos quases.

                               (Denise Fraga. www.folha.uol.com.br. 08.05.2016. Adaptado)

Com base no segundo parágrafo, é correto concluir que a autora

Alternativas
Comentários
  • Não era um casaco qualquer. Era daqueles que jamais poderão ser substituídos, roupas energéticas que serão lembradas para todo o sempre. Nem pestanejei. Corri para a rua. O táxi ainda estava parado no semáforo da esquina. Me concentrei na atleta que poderia existir oculta dentro de mim e fiz minha melhor performance nos cem metros rasos.
    letra C

  • Pestanejar: movimentar as pestanas; abrir e fechar os olhos.

  • " O táxi ainda estava parado no semáforo da esquina. Me concentrei na atleta que poderia..."  Não deveria ser ÉNCLISE

  • Está corretíssimo, Victor! Muito bem observado.

     

    Em início de período, a ênclise é obrigatória.

     

    Concentrei-me na atleta que poderia...

     

  • Alguns textos literários se atentam mais na ênfase que determinada palavra poderá provocar no texto que a prontidão da grámatica em si.