SóProvas


ID
2463310
Banca
FUNDEP (Gestão de Concursos)
Órgão
CRM - MG
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO I

                         Que medicina nos espera amanhã?

Temos medicina primária que não necessita de minhas críticas. Basta consultar a imprensa diariamente. Essa endemia na saúde, que persiste há décadas, mata milhares de vezes mais que as epidemias virais que hoje nos acometem. Os órgãos oficiais fazem campanhas, muitas vezes demagogicamente, apenas na hora da desgraça, não entendendo, ou não querendo entender, o significado da palavra prevenção, que é o pilar fundamental de qualquer sistema de saúde.

Metade da população não é servida por saneamento básico. Em compensação, a medicina terciária, da qual nos orgulhamos pela qualidade atingida, deveria estar em centros especializados devidamente localizados, espalhados pelo país, de preferência perto de centros universitários, de acordo com as necessidades regionais. Os gastos com tecnologia se reduziriam muito e equipamentos caríssimos não ficariam encaixotados, deteriorando-se, ou em mãos inexperientes, sem condições de ser utilizados. Por que, então, foram encaminhados a esses locais?

Para agravar, a maioria das escolas forma profissionais especializados, geralmente mais interessados em técnicas e métodos, e não em clínica. O contato com o paciente, o ouvir, o olhar, o palpar, o auscultar foram substituídos pelos exames complementares. O indivíduo transformou-se em algo secundário, meio de fazer funcionar uma máquina de produzir dinheiro, pois a medicina se transformou num grande negócio, nas mãos de empresários com enorme poder econômico. Julgo precisarmos mais de ética que de técnica. Mas ética “não dá dinheiro”.

A tecnologia transformou-nos numa tecnocracia dominadora amoral, quando deveria estar a serviço do paciente, comequilíbriodeinteressesenecessidades.Ela nos dá poder material que, quando não contrabalançado por um poder intelectual, pode tornar-se destrutiva.

A ciência também é amoral e deve ser digerida pela moral social. Quanto de tecnologia inútil se produz e se utiliza diariamente e quanto de ciência se publica para apenas engrossar currículos, sendo colocadas logo após na biblioteca do esquecimento, das inutilidades, sem colaborar em nada para uma saudável evolução? Quantos artigos médicos, além de aulas e conferências, são fraudados para convencer os menos informados a assumir determinadas condutas? Essa cultura já impregnou as academias médicas e as piores consequências se fazem sentir na qualidade do ensino e da assistência.

Como dizia Karl Marx, os setores que dominam o sistema financeiro, “ao fundarem a produção econômica na exploração da ciência aplicada, e ao monopolizarem em seu proveito as invenções tecnológicas”, caminhariam a passos largos para um domínio sem escrúpulos, amoral, das ciências. O paciente tornou-se um meio, e não um fim. Mesmo não sendo marxista, admiro a antevisão que teve esse pensador.

Demorará para sairmos desse padrão, em direção a uma situação eticamente aceitável, pois a mudança depende dos responsáveis por essa situação.

[...]

MADY, Charles. Que medicina nos espera amanhã? Estadão. 5 abr. 2016. Disponível em:<https://goo.gl/OFL5vW> . Acesso em: 20 mar. 2017 (Fragmento adaptado).

De acordo com o texto, assinale a alternativa INCORRETA.

Alternativas
Comentários
  • "Os órgãos oficiais fazem campanhas, muitas vezes demagogicamente, apenas na hora da desgraça, não entendendo, ou não querendo entender, o significado da palavra prevenção, que é o pilar fundamental de qualquer sistema de saúde."

    D

  • Órgãos oficiais e não meios de comunicação.

  • Acredito que o pulo do gato dessa questão está em : (Os órgãos oficiais fazem campanhas, MUITAS VEZES  demagogicamente apenas na hora da desgraça)
     

    Os meios de comunicação fazem campanhas APENAS EM ÉPOCAS de epidemia, sem focar a prevenção.

  •  MUITAS VEZES  é diferente de APENAS EM ÉPOCAS  por isso a questão esta incorreta

     

  • Onde está a correção da questão C?

  • E endemia é diferente de epidemia.

  • OS ÓRGÃOS OFICIAIS e não os meios de comunicação. 

    MUITAS VEZES  é diferente de APENAS

     

  • Alguém saberia me informar a interpretação da letra C, por favor? Qual passagem do texto nos confirma essa informacão?

     

    Sobre a letra B, alguns estão justificando o gabarito com o termo muitas vezes x apenas. Está incorreto, pois o 'muitas vezes' no texto se refere à forma (demagogicamente) e não à frequência (que tanto no texto como na afirmativa tem mesmo sentido). O erro realmente está em órgão oficiais ser diferente de meios de comunicação.  

  • Gabarito "D"


    Em relação à alternativa "C" eu me baseei nesse período: "Metade da população não é servida por saneamento básico."


    Saneamento básico não é um problema específico da medicina, é um problema de infra estrutura urbana e que reflete na saúde.

  • Quanto à letra C, na minha humilde opinião, o trecho

    "A ciência também é amoral e deve ser digerida pela moral social. Quanto de tecnologia inútil se produz e se utiliza diariamente e quanto de ciência se publica para apenas engrossar currículos, sendo colocadas logo após na biblioteca do esquecimento, das inutilidades, sem colaborar em nada para uma saudável evolução?"

    mostra que há problemas nas ciências como um todo, não se limitando ao setor da medicina.

    Quanto à letra D, o que me levou a marcar como errada foi que meios de comunicação (rádio, tv, jornal, telefone etc.) órgão oficiais (Ministério da Saúde, por exemplo).

    Espero ter contribuído.

  • Os órgãos oficiais fazem campanhas, muitas vezes demagogicamente, apenas na hora da desgraça(...).

  • A alternativa C dá ideia que os "problemas da medicina" estão limitados ao universo de cuidar das questões de saúde da população. Ao decorrer do texto, o autor expõe que não só se limita a este universo. Os problemas também abrangem a ética e a monopolização do saber e da ciência, além do não interesse real do médico no paciente, tratando este como ser secundário nas praticas médicas.

  • Quando tiver palavras como "apenas", "somente", a alternativa tem muitas chances de estar errada.