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ID
247066
Banca
FCC
Órgão
TRT - 12ª Região (SC)
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

O humor e o "politicamente correto"

Tem sido marca de nossa época (não se sabe exatamente
a partir de quando, nem por que começou) adotar extrema
cautela quanto a formas de expressão, ao vocabulário, ao
emprego de certos conceitos. Trata-se de evitar que seja ferida
a susceptibilidade de quem pertence a determinada etnia, ou
professe certa religião, ou se oriente por determinada opção
sexual, ou que surja representando toda uma nacionalidade. Tal
preocupação traria a vantagem de impedir (ou ao menos tentar
impedir) a propagação de qualquer preconceito. Mas, no que diz
respeito à criação e à prática do humor, os efeitos dessa cautela
podem ser desastrosos.

É que o humor vive, exatamente, do desmesuramento,
do excesso, do arbítrio, da caricatura, do estereótipo ... e do
preconceito. Este último é o vilão da história: o preconceito é o
argumento final para quem cultiva o politicamente correto e
abomina quem dê um passo fora desse território bem comportado
e muito bem controlado.

Desde sempre o humor serviu como compensação
simbólica para as tantas desventuras que afligem o homem. É
quando o pobre se ri do rico, o ingênuo do esperto, o fraco do
poderoso; ou então, é quando ser pobre, ingênuo ou fraco já é
razão para um riso que explora o peso do infortúnio e da
desgraça. De fato, o humor não pede a ninguém o direito de
agir: sua liberdade é a sua razão de ser, é o sentido final de
quem ri - ainda que seja para não chorar.

O advento do "politicamente correto" parte da convicção
de que, para sermos todos felizes, temos que ser todos, ao
mesmo tempo e inteiramente, justos e honestos uns com os
outros, respeitando-nos uns aos outros sem qualquer possibilidade
de desvio. Ora, às vezes isso é extremamente chato:
ou porque não conseguimos ser justos e honestos o tempo
todo, ou porque a falta do riso acaba por nos tornar tão
distantes uns em relação ao outros que nos sentimos quase
desumanos... Por alguma razão, o riso é parte de nós. Sem ele,
perderemos a criancice, mataremos todos os palhaços do
mundo, eliminaremos todas as gargalhadas. Ou, como disse
uma vez um humorista, "se o mundo chegar a ser inteiramente
sério, que graça terá?".


(Abelardo Siqueira, inédito)

É correto deduzir-se da leitura do último parágrafo que o humor

Alternativas
Comentários
  • a frase do texto

    ...ou porque a falta do riso acaba por nos tornar tão distantes uns em relação ao outros que nos sentimos quase desumanos...

    é similar à

    o humor
    nos aproxima a todos, uma vez que participa da nossa própria humanidade.

    Resp. letra B

  • Tenho uma dúvida: o que faz do item "e" não ser o gabarito???

    Ao resolver esta questão, fiquei na dúvida entre as alternativas "B" (que, de acordo com a explicação do colega abaixo, faz sentido em ser a resposta desejada) e "E".

    Quanto ao item "E": o equívoco, que a exclui de ser a resposta da questão, estaria na expressão "nos fazer sentir", o que não está em conformidade com o consignado no último parágrafo do texto: "O advento do "politicamente correto" parte da convicção de que, para sermos todos felizes, temos que ser todos, ao mesmo tempo e inteiramente, justos e honestos uns com os outros..."???

    A linha de raciocínio do item "E" seria enxergar que o significado do verbo "sentir" não é o mesmo contido no verbo "ser"? 

    Alguém poderia me sanar a dúvida? Desde já, agradeço.
  • Geraldo, na minha humilde opinião, o erro da alternativa "e" está em afirmar que o humor nos faz sentir mais justos uns com os outros. Isso em virtude do seguinte trecho do texto:

    " O advento do "politicamente correto" parte da convicção de que, para sermos todos felizes, temos que ser todos, ao mesmo tempo e inteiramente, justos e honestos uns com os outros, respeitando-nos uns aos outros sem qualquer possibilidade de desvio. Ora, às vezes isso é extremamente chato: ou porque não conseguimos ser justos e honestos o tempo todo..."

    Ou seja, segundo o texto, sermos justos uns com os outros está vinculado à ideia do "politicamente correto" que se contrapõe ao humor, segundo o pensamento do autor, evidenciado nessa outra passagem: "É que o humor vive, exatamente, do desmesuramento, do excesso, do arbítrio, da caricatura, do estereótipo ... e do preconceito."

    Dessa forma, para o autor, o humor, às vezes, necessita de algumas ferramentas incompatíveis com o sentimento de justiça, como por exemplo: o preconceito.

    Abraço e bons estudos!