SóProvas


ID
247078
Banca
FCC
Órgão
TRT - 12ª Região (SC)
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

O humor e o "politicamente correto"

Tem sido marca de nossa época (não se sabe exatamente
a partir de quando, nem por que começou) adotar extrema
cautela quanto a formas de expressão, ao vocabulário, ao
emprego de certos conceitos. Trata-se de evitar que seja ferida
a susceptibilidade de quem pertence a determinada etnia, ou
professe certa religião, ou se oriente por determinada opção
sexual, ou que surja representando toda uma nacionalidade. Tal
preocupação traria a vantagem de impedir (ou ao menos tentar
impedir) a propagação de qualquer preconceito. Mas, no que diz
respeito à criação e à prática do humor, os efeitos dessa cautela
podem ser desastrosos.

É que o humor vive, exatamente, do desmesuramento,
do excesso, do arbítrio, da caricatura, do estereótipo ... e do
preconceito. Este último é o vilão da história: o preconceito é o
argumento final para quem cultiva o politicamente correto e
abomina quem dê um passo fora desse território bem comportado
e muito bem controlado.

Desde sempre o humor serviu como compensação
simbólica para as tantas desventuras que afligem o homem. É
quando o pobre se ri do rico, o ingênuo do esperto, o fraco do
poderoso; ou então, é quando ser pobre, ingênuo ou fraco já é
razão para um riso que explora o peso do infortúnio e da
desgraça. De fato, o humor não pede a ninguém o direito de
agir: sua liberdade é a sua razão de ser, é o sentido final de
quem ri - ainda que seja para não chorar.

O advento do "politicamente correto" parte da convicção
de que, para sermos todos felizes, temos que ser todos, ao
mesmo tempo e inteiramente, justos e honestos uns com os
outros, respeitando-nos uns aos outros sem qualquer possibilidade
de desvio. Ora, às vezes isso é extremamente chato:
ou porque não conseguimos ser justos e honestos o tempo
todo, ou porque a falta do riso acaba por nos tornar tão
distantes uns em relação ao outros que nos sentimos quase
desumanos... Por alguma razão, o riso é parte de nós. Sem ele,
perderemos a criancice, mataremos todos os palhaços do
mundo, eliminaremos todas as gargalhadas. Ou, como disse
uma vez um humorista, "se o mundo chegar a ser inteiramente
sério, que graça terá?".


(Abelardo Siqueira, inédito)

Desde sempre o humor serviu como compensação simbólica para as tantas desventuras que afligem o homem.

Uma outra redação, que preserve a correção e o sentido da frase acima, será:

Alternativas
Comentários
  • a que melhor substitui é a alternativa "b"
  • Vamos tentar dissecar o porquê de as outras alternativas não responderem a questão:

    a) Equívoco na correção gramatical:  "As muitas desventuras ... tem (o correto é "TÊM", pois o verbo concorda com o sujeito: "AS MUITAS DESVENTURAS") servido sempre como uma compensação simbólica...".

    b) GABARITO

    c) O humor, na frase paradigma, é um meio de compensação (portanto o homem poderia se utilizar dele ou de outro meio para compensar os dissabores da vida). No item, a frase "A aflição do homem sempre se serviu do humor como compensação" não está em consonância com a inaugural, pois a aflição do homem pode ter-ser servido de outro meio de compensação, e não, necessariamente, do humor.

    d) O humor nem sempre serve ao homem para dirimir-lhe as aflições. O item afirma: "O humor é uma compensação simbólica que serve ao homem para dirimir-lhe...". Ficaria correto se estivesse escrito: "O humor pode ser uma compensação simbólica que serve ao homem para dirimir-lhe...".

    e) Nem sempre a compensação simbólica do humor vem agindo em face das aflições do homem, pode agir em face de outras realidades que envolvem o homem: lazer, descanso.
  • Quanto à letra A, notar que a questão usa o verbo "infringir", o que se mostrou inadequado para a substituição do verbo "afligir".

    Infringe > Infringir: desobedecer a; violar, transgredir, desrespeitar.
    Afligem > Afligir: causar aflição a (alguém) ou atormentar-se; torturar(-se), apoquentar(-se).
  • Amigos, o erro da alternativa "d" não seria a expressão "já há tempos"?
    Creio que seja, uma vez que o humor "desde sempre" serviu ao homem, dando ideia de princípio e conseguinte continuidade. "Já há tempos" dá ideia de algo que COMEÇOU há algum tempo, mas não está lá desde o princípio, desde o remoto iníci de tudo. 

    DESDE SEMPRE: DESDE O COMEÇO, DESDE O PRINCÍPIO;
    JÁ HÁ TEMPOS: JÁ FAZ ALGUM TEMPO, COMEÇOU EM UM TEMPO INDEPENDENTE DO INÍCIO.


    Opinem :D