SóProvas


ID
2484655
Banca
IDECAN
Órgão
SEJUC-RN
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                          Sobre o ouvir

      O ato de ouvir exige humildade de quem ouve. E a humildade está nisso: saber, não com a cabeça mas com o coração, que é possível que o outro veja mundos que nós não vemos. Mas isso, admitir que o outro vê coisas que nós não vemos, implica reconhecer que somos meio cegos... Vemos pouco, vemos torto, vemos errado.

      Bernardo Soares diz que aquilo que vemos é aquilo que somos. Assim, para sair do círculo fechado de nós mesmos, em que só vemos nosso próprio rosto refletido nas coisas, é preciso que nos coloquemos fora de nós mesmos. Não somos o umbigo do mundo. E isso é muito difícil: reconhecer que não somos o umbigo do mundo!

      Para se ouvir de verdade, isso é, para nos colocarmos dentro do mundo do outro, é preciso colocar entre parêntesis, ainda que provisoriamente, as nossas opiniões. Minhas opiniões! É claro que eu acredito que as minhas opiniões são a expressão da verdade. Se eu não acreditasse na verdade daquilo que penso, trocaria meus pensamentos por outros. E se falo é para fazer com que aquele que me ouve acredite em mim, troque os seus pensamentos pelos meus. É norma de boa educação ficar em silêncio enquanto o outro fala. Mas esse silêncio não é verdadeiro.

      É apenas um tempo de espera: estou esperando que ele termine de falar para que eu, então, diga a verdade. A prova disto está no seguinte: se levo a sério o que o outro está dizendo, que é diferente do que penso, depois de terminada a sua fala eu ficaria em silêncio, para ruminar aquilo que ele disse, que me é estranho.

      Mas isso jamais acontece. A resposta vem sempre rápida e imediata. A resposta rápida quer dizer: “Não preciso ouvi-lo. Basta que eu me ouça a mim mesmo. Não vou perder tempo ruminando o que você disse. Aquilo que você disse não é o que eu diria, portanto está errado...”.

(ALVES, Rubem. Sobre o ouvir. Ostra feliz não faz pérola. São Paulo: Planeta do Brasil, 2008.) 

Para se ouvir de verdade, isso é, para nos colocarmos dentro do mundo do outro, é preciso colocar entre parêntesis, ainda que provisoriamente, as nossas opiniões.” (3º§) Em relação ao trecho destacado anteriormente, pode-se afirmar que as correções linguística e semântica estão preservadas na reescrita:

Alternativas
Comentários
  • Letra A. As outras ficaram mal formuladas por conter muitas pausas.

  • Erro da Letra D --->  Travessão com vírgula ao lado não existe

     

  • Diego Comper, em que gramática leu que não pode utilizar vírgula após travessão?

    Claro que pode, conquanto feio visualmente, é obrigatória em alguns casos.

     

    Uma dúvida mais que por vezes se levanta é a da colocação da vírgula a seguir a um travessão ou a um parêntese. Isso é correcto quando a palavra que imediatamente precede o primeiro travessão ou o primeiro parêntese deva ser seguida pela vírgula. Nesses casos, é só após o grupo de palavras isolado pelos travessões ou pelos parênteses que se põe a vírgula, dado que esse grupo de palavras se relaciona com o que está para trás: "Quem diria que o António Ouriço, depois de morto — excogitava o tio Romualdo —, havia de arregimentar toda aquela fúria!" (Urbano Tavares Rodrigues, AM**, 64)»

    ...a vírgula justifica-se, mesmo depois do segundo travessão, porque a oração «em se tratando de crime», a que se refere a sequência entre travessões, é uma oração subordinada adverbial de gerúndio que precede a sua subordinante e, como tal (especialmente neste caso), deve ser separada por vírgula. Por outras palavras, se a frase tivesse a forma «em se tratando de crime, não devemos ser lenientes», sem a oração entre travessões, seria obrigatória a vírgula; sendo assim, mantém-se a obrigatoriedade deste sinal, mesmo depois do segundo travessão que fecha uma sequência.

    Fonte: https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/a-virgula-depois-de-travessao/34379

     

    Devemos tomar cuidado com certos comentários daqui -duvide de tudo-, pesquise e tire suas próprias conclusões, senão pode perder questões da prova e ficar fora da tão sonhada vaga.

     

    Bons Estudos!!!

  • Enunciado: “Para se ouvir de verdade, isso é, para nos colocarmos dentro do mundo do outro, é preciso colocar entre parêntesis, ainda que provisoriamente, as nossas opiniões.”

    a) Para se ouvir de verdade, para nos colocarmos dentro do mundo do outro, é preciso colocar entre parêntesis nossos juízos, ainda que provisoriamente. Gabarito.

    A exclusão do termo “isso é” não modifica em nada a oração, pois continuamos tendo uma explicação.

     A segunda modificação fora a substituição de “as nossas opiniões” por “nossos juízos” o que mantem o sentido e correção;

     

    b) Para: ouvir de verdade, colocarmos dentro do mundo do outro; é preciso colocarmos entre parêntesis, ainda que provisoriamente, as nossas opiniões.

    “Para” é uma preposição seguido de um aposto explicativo. Não possui sentido. Errado.

     

    c) Para nos colocarmos dentro do mundo, do outro, para se ouvir de verdade, isso é, precisa-se colocar entre parêntesis, ainda que provisoriamente, nossos conceitos.

    Essa construção também não está correta, pois “do outro” como aposto explicativo não apresenta coerência com o termo mundo. Na oração original o termo do mundo tem sentido restritivo de “mundo”. Aqui explicativo. Errado.

     

    d) Para ouvir de verdade – deste modo –, para nos colocar dentro do mundo do outro, é preciso colocar entre parêntesis, ainda que temporariamente, as nossas opiniões.

    Na oração principal o termo “isso é” presenta a explicação do termo antecedente “ouvir de verdade”. Nessa construção o termo “deste modo” não inicia uma explicação do termo antecedente, mas faz uma afirmação. Errada.

     

    Se os comentários apresentarem erros, gentileza comentar.

  • Fui mais pela coerência dos itens!essa banca, o português dela é pior do que a FGV.

  • no caso, a menos errada, né? rapaz esse negócio de nossos juízos me pegou, hahaha

  • Na letra B, não faz sentido o emprego de dois-pontos após a preposição "Para".

    Na letra C, a vírgula após "mundo" isola nome e adjunto adnominal, o que configura erro gramatical.

    Na letra D, o acréscimo do trecho entre travessões "deste modo" altera os sentidos originais.

    A letra A mantém correção e sentidos intactos.