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ID
2486134
Banca
FCC
Órgão
PM-MG
Ano
2012
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                           Texto I

                      Os animais e a linguagem dos homens

      Essa mania que tem o homem de distribuir pela escala zoológica medidas de valor e índices de comportamento que, na escala humana, sim, é que podem ser aferidos com justeza!

      Por que chamamos de zebra a uma pessoa estúpida, que não tem as qualidades da zebra? Esta sabe muito bem defender-se dos perigos pela vista, pelo olfato e pela velocidade, sem esquecer a graça mimética de suas listas, úteis para a dissimulação entre folhas. Se ela não é dócil às ordens do treinador, se não aprende o que este quer ensinar-lhe, tem suas razões. É um ensino que não lhe convém e que a humilha em sua espontaneidade. Repele a escravidão, que torna lamentáveis os mais belos e inteligentes animais de circo, tão superiores a seus donos.

      Gosto muito de La Fontaine*, não nego; a graça de seus versos vende as fábulas, que são entretanto uma injúria revoltante à natureza dos animais, acusados de todos os defeitos humanos. O moralista procura corrigir falhas características de nossa espécie, atribuindo-as a bichos que, não sabendo ler, escrever ou falar as línguas literárias, não têm como defender-se, repelindo falsas imputações. O peru, o burro, a toupeira, a cobra, o ouriço e toda a multidão de seres supostamente irracionais, mas acusados de todos os vícios da razão humana, teriam muito que retrucar, se lhes fosse concedida a palavra num sistema verdadeiramente representativo, ainda por ser inventado.

      Sem aprofundar a matéria, inclino-me a crer que o nosso conhecimento dos animais é bem menos preciso do que o conhecimento que eles têm de nós. Não é à toa que nos temem e procuram sempre manter distância ou mesmo botar sebo nas canelas (ou asas ou barbatanas ou ...) quando o bicho-homem se aproxima. Muitas vezes nosso desejo de comunicação e até de repartir carinho lhes cheira muito mal. A memória milenar adverte-lhes que com gente não se brinca. Homens e mulheres que sentem piedade pelos animais, e até amor, constituem uma santa minoria, e eles salvarão a Terra. Mas será que os outros, a volumosa maioria, os caçadores, os torturadores, os mercadores de vidas, vão deixar?

* La Fontaine − fabulista francês do século XVII.

(Carlos Drummond de Andrade. Moça deitada na grama. Rio de Janeiro: Record, 1987, pp. 139-141, crônica transcrita com adaptações) 

Considere o que está sendo afirmado com base em cada um dos segmentos abaixo. Está correto o que consta em:

Alternativas
Comentários
  • a) Sem muito segredo, basta substituir a palavra "esta" por "zebra" e ver se há sentido.

    b) Fiquei meio em dúvida nessa, acertei porque tinha certeza da a). "Vende" concorda com "graça", estando correta a sua forma no singular. Sobre a palavra "seus", bem, o uso da palavra "seu" geralmente gera ambiguidade quando há vários núcleos na frase, mas acho que nesse caso não há nenhuma ambiguidade. Ex. de ambiguidade: "Tício encontrou Mévio e falou sobre seu resultado na prova de soldado da PMMG". Vejam que nesse caso há ambiguidade, pois o "seu" pode se referir tanto ao resultado do Mévio quanto do Tício.

    c) o "que" faz referência aos "bichos", "bichos que.... não sabem defender-se".

    d) Primeiro que "os" e "lhes" não são a mesma coisa, não manjo muito desse assunto mas sei que "os" é pra objeto direto e "lhes" para objeto indireto (comenta aí galera, não sei se está certa essa parte). De qualquer forma, daria pra acertar porque o "lhes" não faz referência aos "vícios da razão humana", mas sim aos bichos citados no começo da frase.

    gab a.