SóProvas


ID
2491078
Banca
FUNCAB
Órgão
MDA
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      No primeiro dia, foi o gesto genial. Era um domingo. Ao se curvar no campo do estádio espanhol, descascar a banana, comê-la de uma abocanhada e cobrar o escanteio, Daniel Alves assombrou o mundo. Não só o mundo do futebol, esse que chama juiz de “veado” e negro de “macaco”. O baiano Daniel, mestiço de pele escura e olhos claros, assombrou o mundo inteiro extracampo. Vimos e revimos a cena várias vezes. “Foi natural e intuitivo”, disse Daniel, o lateral direito responsável pelo início da virada do Barcelona no jogo contra o Vilarreal. Por isso mesmo, por um gesto mudo, simples, rápido e aparentemente sem raiva, Daniel foi pop, simbólico, político e eficaz.

      Só que, hoje, ninguém, nem Daniel Alves, consegue ser original por mais de 15 segundos. Andy Warhol previa, na década de 1960, que no futuro todos seríamos famosos por 15 minutos. Pois o futuro chegou e banalizou os atos geniais, transformando tudo numa lata de sopa de tomate Campbell’s. A banana do Daniel primeiro reapareceu na mão de Neymar, também vítima de episódios de racismo em estádios. Neymar escreveu na rede em defesa do colega e dele próprio: “Tomaaaaa bando de racistas, #somostodosmacacos e daí?” Uma reação legítima, mas sem a maturidade do Daniel. Natural. Há quase dez anos de estrada de vida entre um e outro.

      Imediatamente a banana passou a ser triturada por milhares de “selfies”. O casal Luciano Huck-Angélica lançou uma camiseta #somostodosmacacos. Branco, o casal que jamais correu o risco de ser chamado de macaco apropriou-se do gesto genial, por isso foi bombardeado por ovos e tomates na rede, chamado de oportunista. A presidente Dilma Rousseff, em seu perfil no Twitter, também pegou carona no gesto de Daniel “contra o racismo” e chamou de “ousada” a atitude dele. Depois de ler muitas manifestações, acho que #somostodosbobos, a não ser, claro, quem sente na pele o peso do preconceito.

      “Estou há onze anos na Espanha, e há onze é igual... Tem de rir desses atrasados”, disse Daniel ao sair do gramado no domingo. Depois precisou explicar que não quis generalizar. “Não quis dizer que a Espanha seja racista. Mas sim que há racismo na Espanha, porque sofro isso em campos (de futebol) diferentes. Não foi um caso isolado. Não sou vítima, nem estou abatido. Isso só me fortalece, e continuarei denunciando atitudes racistas”.

      Tudo que se seguiu àquele centésimo de segundo em que Daniel pegou a fruta e a comeu, com a mesma naturalidade do espanhol Rafael Nadai em intervalo técnico de torneios mundiais de tênis, como se fizesse parte do script, tudo o que se seguiu àquele gesto é banal. Os “selfies”, a camiseta do casal 1.000, o tuíte de Dilma, as explicações de Daniel após o jogo, esta coluna. Até a nota oficial do Vilarreal, dizendo que identificou o torcedor racista e o baniu do estádio El Madrigal “para o resto da vida”. Daniel continuou a evitar as cascas de banana. Disse que o ideal, para conscientizar sobre o racismo, seria fazer o torcedor “pagar o mal com o bem”.

                                                     AQUINO, Ruth de. Rev. Época: 05 maio 2014

Em: tudo o que se seguiu àquele gesto é banal”. (§ 5), a próclise do pronome átono SE é exigência, no português padrão, da mesma norma que determina a próclise do pronome destacado em:

Alternativas
Comentários
  • Qualquer conjunção com "Q" (quando, que, quem) antes puxará o pronome para próclise.

    gabarito C)

  • Alguém sabe o erro da letra E?

  • Lucas Taylor o Erro é que não há erro.

  • Não entendi também. Não encontrei o erro da letra C.

  • Vamos pedir comentário do professor!

  • Lucas Taylor, não tem erro na letra E, porém a questão pediu a alternativa com a mesma norma do exemplo dado, ou seja, ele queria uma alternativa com colocação em pronome relativo e na alternativa E foi usado com palavras ou expressões negativas.

    Espero ter ajudado!

  • A questao nao esta pedindo pela alternativa errada, mas pela alternativa em que é empregada a mesma regra do enunciado.

    a do enunciado justifica-se pela conjução integrante que é atrativa, assim como ocorre na letra C

    os outros itens justicam-se por adverbios, pronomes etc..

    se eu estiver errado, me corrijam.

  • Pessoal, cuidado!

    No enunciado, temos um caso de próclise obrigatória em função de palavra atrativa "QUE" com função de pronome relativo, e não conjunção como alguns colegas sugeriram.

    Logo, na alternativa a ser marcada:

    c) O relatório que V. S.ª NOS pediu está pronto.

    O relatório (o qual) V. S.ª NOS pediu está pronto.

    Temos, também, um pronome relativo.

  • Na letra D, o quem também não seria um pronome relativo, assim como o que (o qual) da letra C?

    Alguém poderia explicar essa dúvida?

  • Questão dá recurso certo. Acertei porque entendi que a banca queria o pronome relativo. Mas o que temos é: O relatório que V. S.ª NOS pediu está pronto. O pronome V. Sa. é pronome de tratamento, formando sujeito explícito. É o pronome de tratamento que está ao lado do verbo e que poderia justificar a atração. Se a banca me disser que o pronome abreviado não conta, eu pediria para que eles me apontassem em qual gramática leram isso. Viagem da banca. Os caras não entendem nada de gramática e querem seguir regrinhas de manual, por isso as questões saem tão ruins. Li as gramáticas que eles citam a partir de sites de internet. Ridículo!!!