SóProvas


ID
2494378
Banca
UTFPR
Órgão
UTFPR
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                         A CARNE


    Temos, ai de nós, uma Polícia Federal satírica. Não sei se existe alguém na PF encarregado de dar codinomes aos seus investigados e nomes às suas operações. Se tiver, é um novo Jonathan Swift, um Voltaire redivivo. Deveria se identificar, para receber nossos aplausos. Essa de chamar de Carne Fraca a operação contra a corrupção nos frigoríficos e o escândalo dos fiscais da indústria de alimentos que recebiam propina para não fiscalizar nada é genial. A ação poderia se chamar Carne Podre, ou Nome aos Bois, mas aí não teria o mesmo valor literário e irônico. Carne Fraca é perfeito. Serviria mesmo para todo o conjunto das ações policiais e jurídicas a partir do começo da Lava Jato.

     A corrupção existe, afinal, porque a carne é fraca. Como disse o Oscar Wilde – outro que teria emprego garantido como frasista na Polícia Federal –, “eu resisto a tudo menos à tentação”. A tentação é demais. Somos pobres almas inocentes reféns da nossa própria carne e das suas fraquezas. De certa maneira, Carne Fraca é quase uma absolvição da corrupção epidêmica que assola o país. Rouba-se tanto porque a carne não se satisfaz com pouco, é incapaz de se contentar com o que já tem. Porque a carne é insaciável.

     Nenhum corrupto racionaliza a sua fome de ter mais, sempre mais. Nenhum decide: quero tanto e chega. Tenho um Lanborghini e dois Porsches, um para cada pé, piscina aquecida em forma de trevo, uma mulher com menos dedos e orelhas do que o necessário para usar todas as joias que lhe dou, contas na Suíça e em Liechtenstein, apartamento em Palm Beach – e pronto. Não preciso de nem um centavo a mais.

      O centavo a mais é a perdição dos nossos corruptos.O centavo a mais é a tentação irresistível de Wilde resumida numa frase. O centavo a mais é uma metáfora para o excesso., para não saber quando parar. É difícil identificar o momento em que a ganância transborda e o centavo a mais bate na porta do corrupto e o leva coercitivamente para a cadeia, o corte zero do seu cabelo, as manchetes dos jornais e a execração pública. É um pouco como o paradoxo do balão: só se descobre a capacidade máxima de um balão, o ponto em que um sopro a mais o estouraria, quando o sopro a mais é dado e ele estoura. Só se descobre quando era o momento de parar de roubar quando o momento já passou.

      “Carne Fraca” tem algo até de carinhoso, na sua ironia. A Polícia Federal, ou o autor do nome da operação, reconhece que não é fácil deixar de roubar, com tanto dinheiro voando por aí, com tantas oportunidades que o Brasil oferece para a maracutaia e o molha a mão. O que Carne Fraca diz é que a Polícia Federal não perdoa, mas entende.

VERÍSSIMO, Luis Fernando. A carne. Gazeta do Povo, Curitiba, p. 14. 23 março 2017.

Sobre os vocábulos redivivo, epidêmica, insaciável, coercitivamente e execração, destacados do texto, pode-se afirmar que:

Alternativas
Comentários
  •  a) se tratam todos de adjetivos.
    Incorreto. Coercitivamente é advérbio.

     

     b) os três primeiro podem ser substituídos sem alteração de sentido do texto, respectivamente, por remoçado, contagiante e satisfeito.
    Incorreto. redivivo = ressucitado;  epidêmica =  contagioso; insaciável = não se satisfaz.

     

     c) o advérbio em -mente denota modo, de maneira, no caso, amistosa ou voluntária.
    Incorreto. Advérbio do modo, que significa imposto, forçado.

     

     d) o último pode ser substituído no texto, sem alteração de sentido, por maldição, praga.
    Incorreto. Execrar, neste contexto, tem sentido de odiar.

     

     e)  o primeiro, no texto, têm o sentido de ressuscitado.
    Correta!

  • GABARITO: E

     

    REDIVIVO: 

     1 Que retornou à vida; ressuscitado.

    2 Que remoçou; rejuvenescido, remoçado.

    3 Que se manifestou novamente; renovado

     

    No controle, Deus está!

  • Gab.: E

    o primeiro, no texto, têm o sentido de ressuscitado.