SóProvas


ID
2498089
Banca
IBFC
Órgão
EMBASA
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Para a questão, considere o texto a seguir, escrito por Clarice Lispector, com o pseudônimo de Tereza Quadros, no jornal Comício, em 1952.

                           

                                       Lar, engenharia de mulher

                                                                              Tereza Quadros


      A notícia curtinha veio em forma de anedota e não descrevia o tipo do homem, o que é um mal. O leitor gosta de ver o personagem e dá menos trabalho quando a fotografia já vem revelada. Negativo é sempre negativo. Em todo o caso, devia ser mais pra baixo do que pra alto, menos magro do que gordo, mas necessitado de um preparado à base de petróleo do que uma boa escova de nylon, para cabelo. É assim que a gente imagina os homens de bom coração e devia ter um de manteiga o que passou a mão pela cabeça arrepiadinha de cachos da menina e falou com bondade:

      - Que pena vocês não terem um lar.

      - Lar nós temos, o que não temos é uma casa pra botar o lar dentro - respondeu a menina, que tinha cinco anos e morava com o pai, a mãe e dois irmãozinhos em um apertadíssimo quarto de hotel. Naturalmente, espantada com a ignorância do amigo barbado. E sem saber a felicidade que tinha, sem saber que era dona dessa coisa maravilhosa, que vai desaparecendo nesta época ultracivilizada de discos voadores corvejando por cima da cabeça dos homens. Dá até pra desconfiar que são os homens que não têm lar, que inventam essas geringonças complicadas. Porque o lar é tão gostoso, tão bom, que quem tem um não deve ter lá muita vontade de andar atolado em ferro, em metais, em ácidos corrosivos, fervendo os miolos em altas matemáticas numa fábrica ou num laboratório. O que muitos têm é casa - e são os felizardos, já que a maioria não tem uma coisa nem outra - mas uma casa tão vazia de lar, como a lata de biscoitos, depois que as crianças avançam em cima dela no café da manhã. Casa é difícil, mas ainda se pode arranjar: quem compra bilhete pode ver chegando o seu dia: o funcionário público dorme na fila de uma autarquia e o bancário vai alimentando a esperança de cair nas graças do patrão e numa tabela Price a juros de 7%. Mas lar, lar mesmo, só com muita sorte. Até porque ninguém tem fórmula de “lar”. A rigor, não se sabe bem o que é que faz o lar. Sabe-se que ele pode ser feito, muitas vezes desfeito e, algumas, também refeito. É uma coisa parecida com eletricidade; não se entende a sua origem, mas se faltar a luz dentro de casa todo o mundo sabe que está no escuro. Então lar é isso. É aquilo que a garotinha de cinco anos sentiu com tanta força e que nós todos sabemos quando ele está presente, como sabemos quando houve desarranjo sério nas turbinas ou simples curto circuito num fusível qualquer.

      Há pessoas práticas e previdentes que costumam ter uma espécie de lar em conserva; num canto do armário, ao lado de outras coisas enlatadas e que é, como estas, servido às visitas esperadas. Mas a gente percebe logo a diferença daquele outro que tem, como o palmito fresco, o sabor de substância simples e natural. Parece que ficou estabelecido, nos princípios da criação, que o homem faria a casa, para dar um lar à mulher. E que a mulher construiria o lar, para dar casa e lar ao homem. Sim, porque o homem tinha que levar vantagem, não podia ser por menos. Pois então é isso: casa é arquitetura de homem e lar, essa coisa simples e complexa, evidente e misteriosa, que depende de tudo e não depende de nada, essa coisa sutil, fluídica, envolvente é simplesmente engenharia da mulher.

Considere o período e as afirmativas a seguir.


Há pessoas práticas e previdentes que costumam ter uma espécie de lar em conserva; num canto do armário, ao lado de outras coisas enlatadas e que é, como estas, servido às visitas esperadas.

I. Trata-se de um período composto apenas por coordenação.

II. O pronome relativo “que” (em destaque) refere-se a pessoas e exerce a função de sujeito do verbo “costumam”.


Está correto o que se afirma em:

Alternativas
Comentários
  • II- "Que" é um pronome relativo e retoma a pessoa.

     

  • Gab B 

    Classe morfológica do "Que" pronome relativo, mas também, a função sintática é de sujeito. 

    Espero ter  ajudado!

    Bons estudos!

  • GAB  B

     

    DICA:   

     

     

    Síntese Teórica – Classificações.

     

    A oração coordenada é aquela que se liga a outra oração da mesma natureza sintática. Em um período composto por coordenação, as orações são sintaticamente independentes.

     

    Veja: [A jovem falou com Agras] [e tirou as dúvidas].

     

                                                     1ª oração  2ª oração

     

    Observe que a 2ª oração não exerce função sintática em relação à 1ª.

     

     

    As orações coordenadas podem ser:

     

    I)            Assindéticas: Não apresentam conectivo.

     

    Ex.: [Agras foi ao curso], [conversou com o diretor], [esclareceu as dúvidas].

     

    II) Sindéticas: Apresentam CONECTIVO.

    Ex.: [Chegue cedo], [pois preciso falar com você].

     

    ..........

     

    PRONOME RELATIVO: pode ser substituído por outro relativo.

     

    QUE   =   O QUAL/ A QUAL/  AO QUAL/OS QUAIS/ AS QUAIS

     

    -             INICIAM A ORAÇÃO   SUBORDINADA      ADJETIVA

     

    -               RETOMA UMA IDEIA ANTECEDENTE

     

           ****      Oração Subordinada ADJETIVA, RESTRIÇÃO    =     SEM  VÍRGULA

     

           ****     Oração Subordinada ADJETIVA,    EXPLICAÇÃO       =     VÍRGULA

     

     

    Q802974

    RETOMA UMA IDEIA ANTECEDENTE

     

                               ****      EXPLICAÇÃO =     VÍRGULA

     

                                 ****   RESTRIÇÃO   =     SEM  VÍRGULA

     

     

  • QUE quando é Particula expletiva ou de realce pode ser suprimido , não tem função sintática nem semântica e é empregado para melhorar a sonoridade da frase .

     

    QUE quando é pronome relativo retoma o termo antecedente , introduz oração subordinada adjetiva .

     

    QUE quando é conjunção integrante apenas une orações , não retoma termos , não tem carga semântica e introduz oração subordinada subastantiva.

    Muita fé e muita luta !

     

  • https://www.youtube.com/watch?v=PgWbGxm9pyA

  • I - Período composto por subordinação - Oração Subordinada Adjetiva

  • pessoas práticas e previdentes que costumam ter uma espécie de lar em conserva; num canto do armário, ao lado de outras coisas enlatadas e que é, como estas, servido às visitas esperadas.

     

    pessoas práticas e previdentes ===> Sujeito

    que ===> pronome relativo

    costumam ter uma espécie de lar em conserva ===> locução verbal + predicado

     

    ====> ORAÇÃO SUBORDINADA OU SUBORDINATIVA ADJETIVA RESTRITIVA (restritiva porque não está entre vígulas, senão seria EXPLICATIVA)

     

    Gabarito: B

     

    Que Deus esteja sempre conosco! ;)

  • Alguem explica porque pessoas é o sujeito? Já que o verbo haver ta no sentido de existir e pede OD, não sujeito,

  • Letra B.

    pessoas práticas e previdentes que costumam ter uma espécie de lar em conserva; num canto do armário, ao lado de outras coisas enlatadas e que é, como estas, servido às visitas esperadas.

     

    Na primeira oração, pessoas é objeto direto do verbo HAVER (impessoal). Todavia, na segunda oração (oração subordinada adjetiva restritiva), o pronome relativo QUE retoma pessoas, funcionando como sujeito do verbo costumar (Pessoas práticas e previdentes costumam ter uma espécie de lar em conserva).

  • Item I: Trata-se de um período composto por subordinação e não por Coordenação. Isso se dar por causa do QUE que é um pronome relativo e os pronomes relativos retomam algo dito anteriormente, logo é uma subordinação pois, como o nome já diz, as orações se subordinam. Na Coordenação, elas são independentes. 

    Subordinada Substantiva Adjetiva Restritiva 
    CCCCom vírgula, expliCCCCa. SSSem vírgula, reSSStringe. 

    Item II: Para se resolver este item iremos retirar o QUE da frase e ficará: "pessoas práticas e previdentes costumam ter..." Pergunta ao verbo: Quem costuma ter?? Resposta: Pessoas práticas = Sujeito. 

     

  • O QUE retoma pessoas práticas e previdentes. Se essa questão fosse do CESPE, com certeza daria como errado o item II

    Temos que aprender a lidar com o "estilo" de cada banca.. complicado..  ;(

     

    Deus no comando!

  • B: Composto por subordinação, olhe o danadinho do QUE ali. #PMSE

  • Concurseira resiliente, sei qual tipo de questão você se refere.

    Mas acredito que nesse caso também estaria certo, pois o " e " da idéia de soma na oração, se referindo ao que, o que torna correta pois o mesmo é o sujeito da oração.


    Me corrija se estiver errado.

  • Há pessoas práticas e previdentes que costumam ter uma espécie de lar em conserva; num canto do armário, ao lado de outras coisas enlatadas e que é, como estas, servido às visitas esperadas.

    QUE = PESSOAS

    QUEM costumam ter uma espécie de lar em conserva ? AS PESSOAS = QUE

    RESUMINDO QUE = PRONOME RELATIVO QUE SUBSTITUI O SUJEITO PESSOAS

  • Há pessoas práticas e previdentes que costumam ter uma espécie de lar em conserva; num canto do armário, ao lado de outras coisas enlatadas e que é, como estas, servido às visitas esperadas.

    I. Trata-se de um período composto apenas por coordenação. (Errada) - O pronome relativo "que" determina que estamos diante de uma oração subordinada.

    II. O pronome relativo “que” (em destaque) refere-se a pessoas e exerce a função de sujeito do verbo “costumam”. (Certo) - Quem costuma ter uma espécie de lar em conserva? As pessoas. Função de sujeito da oração.