SóProvas


ID
2498092
Banca
IBFC
Órgão
EMBASA
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Para a questão, considere o texto a seguir, escrito por Clarice Lispector, com o pseudônimo de Tereza Quadros, no jornal Comício, em 1952.

                           

                                       Lar, engenharia de mulher

                                                                              Tereza Quadros


      A notícia curtinha veio em forma de anedota e não descrevia o tipo do homem, o que é um mal. O leitor gosta de ver o personagem e dá menos trabalho quando a fotografia já vem revelada. Negativo é sempre negativo. Em todo o caso, devia ser mais pra baixo do que pra alto, menos magro do que gordo, mas necessitado de um preparado à base de petróleo do que uma boa escova de nylon, para cabelo. É assim que a gente imagina os homens de bom coração e devia ter um de manteiga o que passou a mão pela cabeça arrepiadinha de cachos da menina e falou com bondade:

      - Que pena vocês não terem um lar.

      - Lar nós temos, o que não temos é uma casa pra botar o lar dentro - respondeu a menina, que tinha cinco anos e morava com o pai, a mãe e dois irmãozinhos em um apertadíssimo quarto de hotel. Naturalmente, espantada com a ignorância do amigo barbado. E sem saber a felicidade que tinha, sem saber que era dona dessa coisa maravilhosa, que vai desaparecendo nesta época ultracivilizada de discos voadores corvejando por cima da cabeça dos homens. Dá até pra desconfiar que são os homens que não têm lar, que inventam essas geringonças complicadas. Porque o lar é tão gostoso, tão bom, que quem tem um não deve ter lá muita vontade de andar atolado em ferro, em metais, em ácidos corrosivos, fervendo os miolos em altas matemáticas numa fábrica ou num laboratório. O que muitos têm é casa - e são os felizardos, já que a maioria não tem uma coisa nem outra - mas uma casa tão vazia de lar, como a lata de biscoitos, depois que as crianças avançam em cima dela no café da manhã. Casa é difícil, mas ainda se pode arranjar: quem compra bilhete pode ver chegando o seu dia: o funcionário público dorme na fila de uma autarquia e o bancário vai alimentando a esperança de cair nas graças do patrão e numa tabela Price a juros de 7%. Mas lar, lar mesmo, só com muita sorte. Até porque ninguém tem fórmula de “lar”. A rigor, não se sabe bem o que é que faz o lar. Sabe-se que ele pode ser feito, muitas vezes desfeito e, algumas, também refeito. É uma coisa parecida com eletricidade; não se entende a sua origem, mas se faltar a luz dentro de casa todo o mundo sabe que está no escuro. Então lar é isso. É aquilo que a garotinha de cinco anos sentiu com tanta força e que nós todos sabemos quando ele está presente, como sabemos quando houve desarranjo sério nas turbinas ou simples curto circuito num fusível qualquer.

      Há pessoas práticas e previdentes que costumam ter uma espécie de lar em conserva; num canto do armário, ao lado de outras coisas enlatadas e que é, como estas, servido às visitas esperadas. Mas a gente percebe logo a diferença daquele outro que tem, como o palmito fresco, o sabor de substância simples e natural. Parece que ficou estabelecido, nos princípios da criação, que o homem faria a casa, para dar um lar à mulher. E que a mulher construiria o lar, para dar casa e lar ao homem. Sim, porque o homem tinha que levar vantagem, não podia ser por menos. Pois então é isso: casa é arquitetura de homem e lar, essa coisa simples e complexa, evidente e misteriosa, que depende de tudo e não depende de nada, essa coisa sutil, fluídica, envolvente é simplesmente engenharia da mulher.

Com base na leitura, analise as afirmativas a seguir.


I. A cronista é contra a participação das mulheres no mercado de trabalho, pois elas devem se dedicar ao lar.

II. Segundo a autora, as mulheres são incapazes de compreender os fenômenos elétricos e científicos, por isso elas devem se dedicar a uma atividade em que predomina a intuição, característica tipicamente feminina.


Está correto o que se afirma em:

Alternativas
Comentários
  • Sem ler o texto dava pra responder, afinal, qual organizadora colocaria em um prova um texto que diminuisse as mulheres como nas afirmativas dadas? É questão de bom senso. 

  • Quem conhece  Clarice Lispector nem precisa ler o texto pra resolver e acertar essa questão.

  • Natália B, até poderia ter uma texto assim, mas como disse Joabe hahah vindo da Clarice aí sim seria impossível.

    “Eu era uma mulher casada. Agora sou uma mulher.”

    Fonte: Delas - iG @ http://delas.ig.com.br/comportamento/a-mulher-segundo-clarice-lispector/n1597697340447.html

     

  • Eu nem precisei ler o texto, Clarice Lispector nunca falaria isso.

  • GABARITO: D

  • Em nenhum momento ela diz que as mulheres não devem trabalhar tampouco de serem incapazes de compreender os fenômenos ..

  • leitura o caminho de uma boa interpretação. 

  • houve extrapolação, o texto não faz menção a nenhuma das alternativas: 

     

    I. A cronista é contra a participação das mulheres no mercado de trabalho, pois elas devem se dedicar ao lar.

    II. Segundo a autora, as mulheres são incapazes de compreender os fenômenos elétricos e científicos, por isso elas devem se dedicar a uma atividade em que predomina a intuição, característica tipicamente feminina.

    GAB: D

  • Um textão pra duas alternativas mixurucas dessas.

  • "E que a mulher construiria o lar, para dar casa e lar ao homem. Sim, porque o homem tinha que levar vantagem, não podia ser por menos."

    Neste trecho, fica evidente que a mulher ela não só tem a responsabilidade de se dedicar as coisas do lar, bem como, de se dedicar para "dar casa" (ajudar o marido nas despesas da casa). Por isso, o homem leva vantagem, pois ele na maioria das vezes só tem a responsabilidade de trabalhar "fora" para sustentar a casa.

  • Macete:

    Politicamente incorreto: Provavelmente está errado.

  • Extrapolação !!

    GAB = B

  • Clarice despencou no conceito que eu tinha dela com esse final de texto.

  • Mas no final do texto a Clarice (ou a pseudônima dela) tá criticando justamente essa noção de que um lar "feliz" (missão bem subjetiva e complexa) é responsabilidade da mulher, enquanto ao homem ficaria o trabalho de prover "a casa" (prover a casa seria uma tarefa mais simples)

  • Só tendo o conhecimento da autora Clarisse Lispector já pode-se deduzir que a mesma é uma mulher que acredita na independência feminina.

  • a pegadinha dessa questão foi:

    o cara ver a resposta antes de ler o texto e ver que AMBAS ESTÃO ERRADAS. Mas, por garantinha o cara comeca a ler o texto e não quer mais parar.

    Moral: perdeu tempo precioso lendo esse belo texto ate o final.Mesmo sabendo que não precisava ler.

    foi o que aconteceu comigo! Risos