“Quando o passado é um pesadelo”. Tomado pela costumeira pressa de repórter, eu tinha que fazer, a toque de
caixa, imagens do museu para compor a minha matéria.
Quando chegamos ao primeiro corredor, o eixo da continuidade, tentei pedir algo a Bárbara, funcionária do museu
que nos acompanhava. Não consegui falar. Tudo foi se desfazendo, todos os sentimentos e emoções, e também
as racionalizações, reflexões ou desalentos mediados pelo intelecto. Tudo foi se desvanecendo dentro de mim e
um grande vazio, um vácuo que sugava a si próprio, se formou qual redemoinho em meu peito, até explodir num
jorro de pranto, num colapso incontrolável.
Não tive condições de prosseguir com o cinegrafista Fernando Calixto. Procurei um lugar onde esgotar as lágrimas
e tentava me explicar, repetindo aos soluços: “Pela metade, não. Não vou conseguir fazer meia visita. Pela
metade, não. Ou encaro todo o périplo ou vou embora”.
Não consegui nem uma coisa nem outra. Nem parei de chorar, nem me recompus; não me atrevi a percorrer todos
os corredores, nem tampouco resisti a penetrar nos espaços desconcertantes do Museu Judaico de Berlim. (Pedro
Bial).
Função emotiva ou expressiva.