SóProvas


ID
2508895
Banca
IF-TO
Órgão
IF-TO
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto I

                            O gigolô das palavras


Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com as suas afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa (“Culpa da revisão! Culpa a revisão!”). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então, vamos em frente. Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são indispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Certo? O importante é comunicar. (E quando possível, surpreender, iluminar, divertir, comover... Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática). A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua, mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.

Claro que não disse tudo isso para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em português. Mas – isto eu disse – vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão dispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas a exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que os outros já fizeram com elas. Se bem que não tenha também o mínimo de escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem um mínimo de respeito.

Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou com a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria sua patroa! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção de lexicógrafos, etimologistas e colegas? Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias para saber quem é que manda. 


VERÍSSIMO, Luís Fernando. O gigolô das palavras. In: LUFT, Celso Pedro. Língua e Liberdade. 4. ed. São Paulo: Ática, 1995. p. 14-15. 

Um texto não é uma sequência de frases isoladas, mas uma unidade linguística (KOCH, 2005). Para que uma sequência de frases se torne um texto, alguns elementos ou fatores são imprescindíveis, tais como a coerência e a coesão. Sobre isso, marque a alternativa correta.


I. Coeso é o texto em que as partes estão interligadas pelo emprego de conectivos linguísticos adequados.

II. Coerência está diretamente ligada à possiblidade de estabelecer um sentido para o texto.

III. Um texto sem coesão é um texto incoerente, pois a coesão é condição única para se estabelecer a coerência.

IV. Coesão indica a relação, a ligação ou conexão entre as palavras, frases ou partes do texto.

V. O nosso conhecimento de mundo desempenha papel decisivo no estabelecimento da coesão.

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: A

     

    I. Coeso é o texto em que as partes estão interligadas pelo emprego de conectivos linguísticos adequados. Correta. Uma das formas de estabelecer a coesão textual é justamente a partir do emprego dos conectivos adequados (preposições, conjunções etc).

     

    II. Coerência está diretamente ligada à possiblidade de estabelecer um sentido para o texto.Correta. A coerência diz respeito à relação de compatibilidade, de adequação, de não contradição entre os enunciados do texto.

     

    III. Um texto sem coesão é um texto incoerente, pois a coesão é condição única para se estabelecer a coerência.Errada. Um texto pode não estar com suas partes devidamente integradas e mesmo assim apresentar uma ideia com clareza, com sentido. 

     

    IV. Coesão indica a relação, a ligação ou conexão entre as palavras, frases ou partes do texto. Correta. A coesão textual pode se estabelecer de diversas formas, entre elas: Por referenciação (anafórica ou catafórica) , por substituição (uso de sinônimos, de antônimos ou de hiperônimos), por uso de conectivos, por reiteração  e por elipse.

     

    V. O nosso conhecimento de mundo desempenha papel decisivo no estabelecimento da coesão.Errada. O nosso conhecimento de mundo desempenha papel decisivo no estabelecimento da coerência, que é o que nos possibilita dar um sentido àquilo que está sendo redigido.

  • Coerência textual

     

    Na gramática, a coerência textual é responsável por dar um sentido lógico ao texto.

    Para que um texto seja compreensível e faça sentido para quem está lendo, este precisa apresentar uma continuação lógica das ideias que são apresentadas ao longo da narrativa.

    Cada palavra tem um significado individual, porém quando estão juntas em uma frase ou texto, formam um significado diferente. Se a construção das palavras não forem feitas de modo correto, o sentido geral da oração fica incompreensível.

    A coerência textual consiste justamente no modo como aplicar cada palavra em um texto para que este tenha a intencionalidade pretendida.

     

    Coesão

     

    é a ligação harmônica entre duas partes, utilizada na gramática como forma de obter um texto claro e compreensível.

    Nos estudos linguísticos, a coesão textual consiste no uso correto das articulações gramaticais e conectivos, que permitem a ligação harmoniosa entre as frases, orações, termos, períodos e parágrafos de um texto.

     

    Então, o seu conhecimento a respeito de mundo não necessariamente está ligado ao que vc sabe a respeito de aspectos gramaticais, tanto que existem muitos poetas analfabetos rsrs