SóProvas


ID
2509288
Banca
UTFPR
Órgão
UTFPR
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                         CISÃO


        Há alguns anos havia uma clara separação entre cultura humanística e cultura científica. As duas não se falavam, tinham vocabulários diferentes. Nenhuma comunicação era possível entre elas, nem por sinais metafóricos: seus códigos simplesmente não combinavam. A divisão continuou até há pouco. Hoje as duas culturas estão na internet e usam a linguagem universal dos impulsos eletrônicos. Conversa-se, pelo menos, entre os dois lados do abismo.

      Mas há uma separação que se agrava, entre facções de uma mesma ciência, ou pseudociência: facções com o mesmo vocabulário e os mesmos códigos, mas que não se entendem. Economistas de um lado e de outro do abismo lidam com os mesmos números, recebem os mesmos dados, analisam as mesmas estatísticas – e veem e preveem coisas diferentes. Há dias o Elio Gaspari escreveu sobre a controvérsia que está havendo a respeito das taxas de juros entre economistas brasileiros, todos da mesma escola, com a mesma formação e a mesma informação, e nenhum deles adepto de qualquer heresia econômica. A cisão é inexplicável, a não ser que se procure sua causa no terreno movediço dos egos em choque.

      Ou então a explicação é antiga: o mundo da ciência econômica, como todos os mundos, também está dividido entre humanistas e seus contrários. Antes de divergirem nas suas interpretações e receitas, os economistas divergem no seu coeficiente de consciência social. Não é o caso da polêmica citada pelo Gaspari, em que nenhum dos contendores pode remotamente ser chamado “de esquerda”. Mas o menor desafio à ortodoxia vigente já vale como um ponto para o humanismo.

      “Consciência social” é um termo escorregadio. Não se trata de compaixão, ou de ter ou não ter coração. Nenhum lado tem monopólio dos bons sentimentos, todos têm consciência da desigualdade crescente, no país e no mundo, entre os poucos que têm dinheiro e poder e a maioria de despossuídos, e da explosão a que pode levar. Ou a que, segundo alguns, já levou. A doença é clara, discute-se a cura. Ela certamente não virá com a insistência num pensamento liberal único e a vassalagem irreversível ao capital financeiro, A divisão reportada por Gaspari é, entre outras coisas, sobre a persistência de um conservadorismo econômico que ainda não se deu conta de que a prancha acabou, e os tubarões estão esperando lá embaixo.

VERÍSSIMO, Luis Fernando. Cisão. Gazeta do Povo, Curitiba, p. 24. 11 e 12 fev 2017. 

Analise as assertivas abaixo.


I) Conversa-se, pelo menos entre os dois lados do abismo.

II) Mas há uma separação que se agrava.

III) A cisão é inexplicável, a não ser que se procure sua causa no terreno movediço dos egos em choque.

IV) Não se trata de compaixão ou de ter ou não ter coração.

V) A doença é clara, discute-se a cura.


Assinale a alternativa que explica a colocação pronominal nos períodos acima, segundo a norma culta.

Alternativas
Comentários
  •  

    Macete:

    Verbo antes--> o "que"  é conjunção integrante

    Nome antes--> o "que" é pronome relativo

  • VIRGULA NÃO ENCERRA PERIODO. OS SINAIS DE PONTUAÇÃO QUE ENCERRAM PERIODO SÃO. PONTO, PONTO DE EXCLAMAÇÃO, PONTO DE INTERROGAÇÃO E RETICÊNCIAS.  DISCORDO DO GABARITO. NA MINHA OPINIÃO É LETRA E. POR SER INÍCIO DE ORAÇÃO.

     

  • Muito boa esta explicação acima, mais um detalhe a observar.

  • Vamos ao que segue.....

     

    I) Conversa-se, pelo menos entre os dois lados do abismo. 

    USA-SE ÊNCLISE NO INÍCIO DE FRASE..

     

    II) Mas há uma separação que se agrava.

    PRONOME "QUE" FORÇA A PRÓCLISE

     

    III) A cisão é inexplicável, a não ser que se procure sua causa no terreno movediço dos egos em choque.

    CONJUNÇÃO INTEGRANTE "QUE" ATRAI O PRONOME. PARA SABER SE É CONJUÇÃO INTEGRANTE, BASTA TROCAR POR ISSO, DISSO.

     

    IV) Não se trata de compaixão ou de ter ou não ter coração.

    ADVÉRBIO DE NEGAÇÃO ATRAI O PRONOME.

     

    V) A doença é clara, discute-se a cura.

    ÊNCLISE NO INÍCIO DE FRASE.

     

    Espero ter ajudado

     

    Abraço

  • Apenas para esclarecer o gabarito (letra D), complementando o que os nobres colegas já sustentaram:

     

    A alternativa "V) A doença é clara, discute-se a cura." traz duas orações coordenadas (independentes entre si) assindéticas (sem sindeto; sem qualquer conjunção); poderiam, aliás, ser separadas, sem qualquer prejuízo sintático ou semântico, do seguinte modo: "A doença é clara. Discute-se a cura.". Vale mencionar que não há qualquer erro em querer juntar, reunir orações coordenadas e separá-las por vírgula. Isso é até muito comum em textos escritos... É de bom alvitre, entretanto, observar que para cada verbo há uma oração correspondente. Há tantas orações quantos verbos houver. E há tantos períodos quantas orações houver.

     

    2 verbos ou locuções verbais = 2 orações = 2 períodos (períodos compostos)

     

    Um só período: período simples. Dois ou mais: período composto. Os períodos, nesta hipótese, são compostos por uma relação de coordenação, isto é, de independência. Deste modo, "ênclise, por ser início de oração" é a alternativa que explica corretamente a colocação pronominal nos períodos acima, segundo a norma culta.

  • O que me deixou confuso na V foi a questão de dizer que era início de período. Não seria oração? Notei apenas um verbo após a vírgula, logo, na minha concepção, seria oração. Á palavra período confundiu tudo.
  • Não pode ser a alternativa E, pois ''discute-se'' é caso de ênclise e não de próclise. Além disso, por causa da vírgula, não poderia ser ''se discute'' já que é proibido usar pronome oblíquo átono após pontuação.

  • Depois de ler todos os comentários procurando onde eu errei em relação a alternativa (E), percebi que li errado a entendendo que era :

     d) Ênclise, por ser início de oração (I); próclise pela atração do pronome (II); próclise pela atração da conjunção (III); próclise pela atração do advérbio (IV); ênclise, por ser início de período (V).

     e) Ênclise, por ser início de oração (I); próclise pela atração do pronome (II); próclise pela atração da conjunção (III); próclise pela atração do advérbio (IV); próclise, por ser início de oração (V).  ... Li como ênclise !!!! 

    Faltou-me Atenção!!!!!  

    Obrigado "sam", só percebi porque vi seu comentário!

     

  • SEM resposta certa, anulável. A vírgula não encerra o período, logo, não há resposta certa.

  • A banca considerou que a vírgula encerra um período?

    Pode isso, Arnaldo?