SóProvas


ID
2520088
Banca
FCC
Órgão
DPE-RR
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Já tive muitas capas e infinitos guarda-chuvas, mas acabei me cansando de tê-los e perdê-los; há anos vivo sem nenhum desses abrigos, e também, como toda gente, sem chapéu. Tenho apanhado muita chuva, dado muita corrida, me plantado debaixo de muita marquise, mas resistido.

      Ontem, porém, choveu demais, e eu precisava ir a três pontos diferentes do bairro. Pedi ao moço de recados, quando veio apanhar a crônica para o jornal, que me comprasse um chapéu-de-chuva que não fosse vagabundo demais, mas também não muito caro. Ele me comprou um de pouco mais de trezentos cruzeiros.

      Depois de cumprir meus afazeres voltei para casa, pendurei o guarda-chuva a um canto e me pus a contemplá-lo. Senti então uma certa simpatia por ele; meu velho rancor contra os guarda-chuvas cedeu a um estranho carinho, e eu mesmo fiquei curioso de saber qual a origem desse carinho.

      Pensando bem, ele talvez derive do fato de ser o guarda-chuva o objeto do mundo moderno mais infenso a mudanças. Sou apenas um quarentão, e praticamente nenhum objeto de minha infância existe mais em sua forma primitiva.

      O guarda-chuva tem resistido. Suas irmãs, as sombrinhas, já se entregaram aos piores desregramentos futuristas e tanto abusaram que até caíram de moda. Ele permaneceu austero, negro, com seu cabo e suas invariáveis varetas.

      Reparem que é um dos engenhos mais curiosos que o homem já inventou; tem ao mesmo tempo algo de ridículo e algo de fúnebre, essa pequena barraca ambulante.

      Já na minha infância era um objeto de ares antiquados, que parecia vindo de épocas remotas, e uma de suas características era ser muito usado em enterros. Por outro lado, esse grande acompanhador de defuntos sempre teve, apesar de seu feitio grave, o costume leviano de se perder, de sumir, de mudar de dono. Ele na verdade só é fiel a seus amigos cem por cento, que com ele saem todo dia, faça chuva ou sol, apesar dos motejos alheios; a estes, respeita. O freguês vulgar e ocasional, este o irrita, e ele se aproveita da primeira distração para sumir.

(Adaptado de: BRAGA, Rubem. Coisas antigas. In: 200 Crônicas escolhidas. 13. ed. Rio de Janeiro: Record, 1998, p.217-9) 

A substituição do elemento grifado pelo pronome correspondente, com os necessários ajustes, foi feita corretamente em:

Alternativas
Comentários
  • Gab: E
     

    a) VTD - apanhá-lo

    b) VTD - cumprir-lo

    c) VTD - os tive

    d) VTD - Pendurei-o

    e) VTI - Pedi-lhe

    Caso eu esteja errado, peço para que me corrijam. Espero ter ajudado! Bom estudo para todos.

  • e)Pedi ao moço de recados = Pedi-lhe 

    Quem pede, pede algo(OD) a alguém(OI). VTDI

    Alguém= moços, logo, por se tratar de complemento indireto devemos colocar o lhe.

  • Em questões como essa, deve-se analisar a TRANSITIVIDADE DO VERBO.

    Dica: quando o verbo é transitivo direto e termina em R, S ou Z, fazemos a substituição por L. 

    Quando o verbo é transitivo DIRETO, não se usa LHE.

     

    Vejamos:

     

    a) Quando veio apanhar a crônica --> apanhá-la 

    Quem apanha, apanha algo = a crônica. Logo, o verbo é transitivo direto. Nesse caso, por ser verbo terminado em R, substitui-se por L. 

     

    b) Depois de cumprir meus afazeres --> cumpri-los

    Mesma situação da letra A. Verbo transitivo direto, terminado em R. 

     

    c) Já tive muitas capas e infinitos guarda-chuvas --> os tive   

    O verbo também é transitivo direto.  A próclise - pronome antes do verbo - ocorre por causa do advérbio "já", que é atrativo.

     

    d) Pendurei o guarda-chuva --> pendurei-o     

    Mesmo caso de verbo transitivo direto. Não pode ser "o pendurei" porque o verbo está no início da frase.

     

    e) Pedi ao moço de recados --> pedi-lhe 

    Essa é a alternativa correta, pois temos um VTDI, acompanhado da preposição "ao"; logo, usamos o "LHE".

     

     

    Espero ter ajudado!

    Bons estudos!!

  • Alternativa a: o verbo é transitivo direto. Logo, o emprego do lhe não se justifica;

    Alternativa b: o correto seria cumpri-los (verbo transitivo direto terminado em r);

    Alternativa c: mesma justificativa da letra a;

    Alternativa d: o correto seria "pendurei-o";

    Alternativa e: gabarito

  • MACETE

    1) Em verbos terminados em vogal ou ditongo oral, os pronomes: o, a, os, as não se alteram.

    Ex: Chame-o agora.

         Deixei-a mais tranquila.

    2) Em verbos terminados em r, s ou z, estas consoantes finais alteram-se para lo, la, los, las.

    Ex: (Encontrar) Encontrá-lo é o meu maior sonho.

         (Fiz) Fi-lo porque não tinha alternativa.

    3) Em verbos terminados em ditongos nasais (am, em, ão, õe, õe,), os pronomes o, a, os, as alteram-se para no, na, nos, nas.

    Ex: Chamem-no agora. 

          Põe-na sobre a mesa.

    DICA

    lhe = usaremos APENAS quando for OBJETO INDIRETO

    o, a, os, as, lo, la, los, las, no, na, nos, nas = usaremos quando for OBJETO DIRETO