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ID
2521693
Banca
FCC
Órgão
DPE-RS
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                              [O invejável tédio europeu]


      Os filmes dos cineastas europeus Michelangelo Antonioni e Ingmar Bergman, que a gente via e discutia com tanta seriedade tantos anos atrás, também eram uma forma de escapismo. Tanto quanto o musical e a comédia, aquelas histórias de tédio e indagações existenciais nos distraíam das exigências menores do cotidiano. Fugíamos não para um mundo cor-de-rosa, mas para outro matiz de preto, bem mais fascinante do que o das nossas pequenas aflições. Nenhum dos personagens do italiano Antonioni ou do sueco Bergman, embora enfrentassem seu vazio interior e a frieza de um universo indiferente, parecia ter qualquer problema com o aluguel.

      Claro, o deserto emocional em que viviam os personagens do Antonioni, por exemplo, era o deserto metafórico do capitalismo, uma civilização arrasada por si mesma. Mas estavam todos empregados e ganhavam bem. E como era fotogênico o seu suplício. Com Bergman experimentamos o horror de existir, a terrível verdade de que somos uma espécie corrupta sem redenção possível e que a morte torna tudo sem sentido. Hoje suspeitamos de que se Bergman não vivesse na Suécia, com educação, saúde e bem-estar garantidos do ventre até o túmulo, ele não diria isso. É preciso estar livre das dificuldades da vida para poder concluir, com um mínimo de estilo, que a vida é impossível. Tínhamos uma secreta inveja desses europeus tão bem-sucedidos no seu desespero. Não tínhamos a mesma admiração por filmes em que as pessoas se preocupavam não com a ausência de Deus, mas com o pagamento no fim do mês.

      Não há equivalência possível entre morrer de tédio e morrer de fome. Mas às vezes eu ainda me pego sonhando em sueco com uma sociedade pronta, sem qualquer destes desafios tropicais, em que a gente pudesse finalmente ser um personagem de Bergman, enojado apenas com tudo e nada mais.

(VERISSIMO, Luis Fernando. Banquete com os deuses. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003, p. 85-86) 

Em síntese, o autor do texto, ao se lembrar dos filmes de clássicos cineastas europeus,

Alternativas
Comentários
  • Gab: C

    Em minha opinião, a parte que mostra bem a ironia e o abismo é essa:

     

    "Com Bergman experimentamos o horror de existir, a terrível verdade de que somos uma espécie corrupta sem redenção possível e que a morte torna tudo sem sentido. Hoje suspeitamos de que se Bergman não vivesse na Suécia, com educação, saúde e bem-estar garantidos do ventre até o túmulo, ele não diria isso. "


    Caso eu esteja errado, peço para que me corrijam, bom estudo para todos!

  • Festival de extrapolação?

    (A) Incorreto. Não se fala de cinema nacional nem de sua qualidade.

    (B) Incorreto. Essas obras não focam na vida pratica (desemprego, contas, aluguel), mas sim numa esfera existencial.

    (C) Exato. Os filmes mencionados não tratavam de questões práticas, pois eram ambientados numa Europa rica, com personagens bem-sucedidos.

    (D) Incorreto. Não se fala da nossa arte nem de sua qualidade.

    (E) Incorreto. O cinema europeu mencionado foca justamente nisso.

    Gabarito letra C.

    Fonte: https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/prova-resolvida-dpe-rs-tj-aa/

     

  • Veríssimo reacionário!!!

  • GAB C - a questão fala "em síntese", resumo do sentido do texto:

    Os filmes dos cineastas europeus Michelangelo Antonioni e Ingmar Bergman, que a gente via e discutia com tanta seriedade tantos anos atrás, também eram uma forma de escapismo. Tanto quanto o musical e a comédia, aquelas histórias de tédio e indagações existenciais nos distraíam das exigências menores do cotidiano. Fugíamos não para um mundo cor-de-rosa, mas para outro matiz de preto, bem mais fascinante do que o das nossas pequenas aflições. Nenhum dos personagens do italiano Antonioni ou do sueco Bergman, embora enfrentassem seu vazio interior e a frieza de um universo indiferente, parecia ter qualquer problema com o aluguel.

          Claro, o deserto emocional em que viviam os personagens do Antonioni, por exemplo, era o deserto metafórico do capitalismo, uma civilização arrasada por si mesma. Mas estavam todos empregados e ganhavam bem. E como era fotogênico o seu suplício. Com Bergman experimentamos o horror de existir, a terrível verdade de que somos uma espécie corrupta sem redenção possível e que a morte torna tudo sem sentido. Hoje suspeitamos de que se Bergman não vivesse na Suécia, com educação, saúde e bem-estar garantidos do ventre até o túmulo, ele não diria isso. É preciso estar livre das dificuldades da vida para poder concluir, com um mínimo de estilo, que a vida é impossível. Tínhamos uma secreta inveja desses europeus tão bem-sucedidos no seu desespero. Não tínhamos a mesma admiração por filmes em que as pessoas se preocupavam não com a ausência de Deus, mas com o pagamento no fim do mês.

          Não há equivalência possível entre morrer de tédio e morrer de fome. Mas às vezes eu ainda me pego sonhando em sueco com uma sociedade pronta, sem qualquer destes desafios tropicais, em que a gente pudesse finalmente ser um personagem de Bergman, enojado apenas com tudo e nada mais.

    (VERISSIMO, Luis Fernando. Banquete com os deuses. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003, p. 85-86) 

     

  • Veríssimo reacionário?

     

    Uma pessoa reacionária é uma pessoa anti-democrática, uma pessoa que reage a todo movimento social, uma pessoa que incentiva o punitivismo (marginalização) de pessoas de outras classes, etc.

     

    Uma pessoa reacionária é aquela que espuma ódio em relação às mudanças sociais. Existe uma tendência de pessoas conversadoras serem reacionárias, ou seja, reagirem às mudanças.

     

    O texto em comento não tem nenhum conteúdo reacionário.

     

    Eu diria que o texto somente destaca o abismo das preocupações de intelectuais europeus e as preocupações de um brasileiro comum.

     

    Vida à cultura democrática, C.H.

  • Não vejo a hora de passar, ser nomeado e ter esse tipo de tédio e problemas existenciais das personagens dos filmes....kkkk

    Agora,  preocupo-me com o aluguel kkkkk

  • Show de extrapolação nas alternativas rsrsr, com exceção da correta!