SóProvas


ID
2521705
Banca
FCC
Órgão
DPE-RS
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                              [O invejável tédio europeu]


      Os filmes dos cineastas europeus Michelangelo Antonioni e Ingmar Bergman, que a gente via e discutia com tanta seriedade tantos anos atrás, também eram uma forma de escapismo. Tanto quanto o musical e a comédia, aquelas histórias de tédio e indagações existenciais nos distraíam das exigências menores do cotidiano. Fugíamos não para um mundo cor-de-rosa, mas para outro matiz de preto, bem mais fascinante do que o das nossas pequenas aflições. Nenhum dos personagens do italiano Antonioni ou do sueco Bergman, embora enfrentassem seu vazio interior e a frieza de um universo indiferente, parecia ter qualquer problema com o aluguel.

      Claro, o deserto emocional em que viviam os personagens do Antonioni, por exemplo, era o deserto metafórico do capitalismo, uma civilização arrasada por si mesma. Mas estavam todos empregados e ganhavam bem. E como era fotogênico o seu suplício. Com Bergman experimentamos o horror de existir, a terrível verdade de que somos uma espécie corrupta sem redenção possível e que a morte torna tudo sem sentido. Hoje suspeitamos de que se Bergman não vivesse na Suécia, com educação, saúde e bem-estar garantidos do ventre até o túmulo, ele não diria isso. É preciso estar livre das dificuldades da vida para poder concluir, com um mínimo de estilo, que a vida é impossível. Tínhamos uma secreta inveja desses europeus tão bem-sucedidos no seu desespero. Não tínhamos a mesma admiração por filmes em que as pessoas se preocupavam não com a ausência de Deus, mas com o pagamento no fim do mês.

      Não há equivalência possível entre morrer de tédio e morrer de fome. Mas às vezes eu ainda me pego sonhando em sueco com uma sociedade pronta, sem qualquer destes desafios tropicais, em que a gente pudesse finalmente ser um personagem de Bergman, enojado apenas com tudo e nada mais.

(VERISSIMO, Luis Fernando. Banquete com os deuses. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003, p. 85-86) 

Mantém-se correta e coerente com o texto a redação de um segmento, ao se substituir o elemento sublinhado pelo proposto entre parênteses, em:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: letra "E".

  • Para quem usa o App do QConcursos e não vê os trechos sublinhados, São eles:

    a) equivalência possível 

    b) Tanto quanto 

    c) sem redenção possível 

    d) É preciso 

    e) me pego 

  • (A) Incorreta. Equivalência dá ideia de “igual”; contraposição dá ideia de “oposição, diferença”.

     

    (B) Incorreta. Conquanto é conjunção concessiva, como “embora”, não tem valor comparativo.

     

    (C) Incorreta. O trecho sem redenção possível tem sentido de “sem salvação”.

     

    (D) Incorreta. Impõem-se está com verbo no plural, não poderia substituir “é preciso”, que está no singular para concordar com sujeito oracional (estar livre das dificuldades da vida)

     

    (E) Mas às vezes eu ainda dou por mim sonhando em sueco (Correto, no sentido de “percebo que estou fazendo tal coisa”.)

     

    Professor Felipe Luccas - Estratégia Concursos

  • As questões da FCC estou acertando por eliminação. Se me perguntarem o porquê de estar correta, a resposta é: Porque Deus quis! 

  • Fabiana, kkkkkk.

  • Fabiana, ou o examinador, o que dá quase no mesmo HAHAHA

  • Apenas uma curiosidade que complementa o conteúdo abordado:

    O pronome obliquo tônico MIM pode anteceder verbos se não for sujeito da oração, logo na frase "Mas às vezes eu ainda dou por mim sonhando em sueco", trocou-se o pronome oblíquo átono por pelo oblíquo tônico, que não tem função de sujeito, e o verbo concorda com o sujeito "eu" .

     

    Fonte: A gramática - Fernando Pestana