SóProvas


ID
2537428
Banca
UPENET/IAUPE
Órgão
UPE
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto 1


                          A possibilidade da invenção de doenças mentais

                                                                                                                                   Por Camila Appel


      “Infelizmente propaga-se por aí uma falácia”. Esse foi o início de um e-mail recebido de uma leitora indignada com o post “Mitos sobre o Suicídio”, criticando o artigo por “simplesmente reproduzir dados transmitidos por uma indústria farmacêutica apenas interessada em vender mais remédios”, como ela colocou.

      Essa linha de raciocínio parte do pressuposto de que doenças podem ser “inventadas” e que os manuais de categorização de doenças mentais, como o DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e o CID (Classificação Internacional de Doenças, uma publicação da própria OMS – Organização Mundial da Saúde) são definidos por psicólogos e psiquiatras ligados financeiramente a empresas farmacêuticas (que financiam suas pesquisas, por exemplo).

      Para o psicanalista Eduardo Rozenthal, isso é possível, sim, porque vivemos numa sociedade contemporânea monista, baseada em apenas um valor, que é o valor capitalista de mercado. Ela substitui a sociedade moderna, que era dualista, oscilando entre o bem e o mal. “Todas as práticas humanas se mobilizam em direção ao maior valor da cultura, que é o valor de mercado. Isso é automático. Não se trata de nenhuma ‛teoria da conspiração‟. Somos seres moldados pela cultura em que vivemos”, Rozenthal diz.

      Para o psicólogo Thiago Sarkis, psicanalista de Belo Horizonte, “doenças inventadas” podem ocorrer como fruto de erros e não de más intenções. Ele também diz ser perigoso falarmos de maneira tão categórica sobre a relação entre estudos psiquiátricos de transtornos mentais e o objetivo de se ofertar algo para aquecer o mercado farmacêutico. Haveria equívocos em estudos e classificações, assim como a hipermedicalização da vida, mas isso diria muito mais sobre quem recebe os resultados dos estudos e medica seus pacientes a partir deles, do que sobre quem os produziu.

      Sarkis diz estar certo de que boa parte dos estudiosos sobre os transtornos mentais estão efetivamente acreditando – talvez mais piamente do que devessem – naquilo que estão fazendo, dedicando-se e confiando em suas descobertas. “O que guia a ciência, hoje e sempre, é a dúvida, o questionamento. Quando a ciência vira ou é vista pelas pessoas como uma indústria de produção de verdades, um guia absoluto, temos um problema.”.

      O psiquiatra norte-americano Leon Eisenberg (1922-2009) é considerado o pai do Transtorno do Deficit de Atenção com ou sem Hiperatividade – TDAH. Segundo reportagem do “The New York Times”, “nos seus últimos anos de vida, ele teria ficado alarmado com as tendências no campo que ajudou a criar, criticando o que ele viu como uma “confortável” relação entre o mercado de remédios e os médicos e a crescente popularidade do diagnóstico do deficit de atenção”. O semanário alemão “Der Spiegel” trouxe uma reportagem de capa, em 2012, com uma declaração bombástica de que Eisenberg teria dito que o TDAH é uma doença inventada. (...)

      Entre outras informações importantes da matéria, tem o fato de Eisernberg mencionar que o componente genético da doença foi superestimado e afirmar que “psiquiatras infantis deveriam investigar as motivações psicossociais que possam causar os sintomas da doença, como verificar se existem problemas de relacionamento na família, se os pais vivem juntos ou se estão brigando muito, por exemplo. São questões importantes, mas demandam muito tempo para serem respondidas. Sendo assim, é mais fácil simplesmente medicar”. (...)

      Rozenthal diz receber muitos pais em consultório imaginando que seu filho tem a doença e muitas vezes já fazendo uso de medicação como a Ritalina. Ele não se coloca contra remédios, mas, sim, contra a medicalização hegemônica da sociedade, ou seja, o excesso de medicação que hoje se prescreve: “você dá a medicação e não trabalha com a subjetividade. É mais rápido e mais fácil, mas a longo prazo não serve. Se tirar a medicação volta tudo”. (...)

Disponível em: http://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2015/02/26/a-possibilidade-da-invencao-de-doencas-mentais/ Acesso em: 04 ago. 2017. Adaptado.

Acerca do emprego de algumas formas verbais no Texto 1 e suas repercussões nos sentidos do texto, analise as afirmativas a seguir.


I. No trecho: “Esse foi o início de um e-mail (...) criticando o artigo (...)” (1º parágrafo), a forma verbal destacada poderia ser substituída pela estrutura de valor adjetivo “que criticava”, sem alteração relevante dos sentidos pretendidos.

II. No trecho: “Ela substitui a sociedade moderna, que era dualista, oscilando (3º parágrafo) entre o bem e o mal.”, a forma verbal destacada indica tratar-se de uma ação ainda em andamento.

III. No trecho: “doenças inventadas‟ podem ocorrer como fruto de erros e não de más intenções.” (4º parágrafo), a forma verbal destacada foi empregada para indicar que a ação expressa no verbo “ocorrer” é um acontecimento inevitável.

IV. No trecho: “Haveria equívocos em estudos e classificações, assim como a hipermedicalização da vida, mas isso diria (...)” (4º parágrafo), a seleção das formas verbais destacadas indica que o falante pretende evitar afirmações contundentes que possam comprometê-lo.


Estão CORRETAS, apenas:

Alternativas
Comentários
  • Alguém sabe explicar por que a II está errada?

  • Qual é o erro da II? De qualquer forma, deixo minha indicação para comentário do professor (que sabe-se lá quando será atendida)...

  • II. No trecho: “Ela substitui a sociedade moderna, que era dualista, oscilando (3º parágrafo) entre o bem e o mal.”, a forma verbal destacada indica tratar-se de uma ação ainda em andamento.

    Acredito que o erro da II é pq tem o verbo ERA. A sociedade ERA dualista. Ou seja, nao esta mais oscilando entre o bem e o mal. Logo, a acao nao está em andamento.

     

  • Desculpe mas não posso concordar com o Diego. "era" está no pretérito imperfeito do indicativo, ou seja, passado não concluido. Nesse caso ainda não seria uma ação inacabada? Se estisse "foi dualista"... Também estou com dúvida, não consigo ver o erro da 2.

  • Eu concordo com o Diego M. Apesar de na frase o verbo "substituir" estar conjugado no presente do indicativo, analisando o contexto geral a ideia é de ação passada. Lembrando que é comum empregar em textos as formas verbais no presente do indicativo, mesmo que elas indiquem um fato que já tenha ocorrido. E, seguindo esse racicínio, essa "oscilação" não está se desenvolvendo mais. Acredito que o examinador fez isto para pegar o candidato que está no "modo automático" e tenta resolver a questão sem interpretar previamente o texto.

  • "Ela substitui a sociedade moderna, que era dualista, oscilando (3º parágrafo) entre o bem e o mal.”

     

    A oração sublinhada acima é uma oração subordinada adjetiva explicativa reduzida de gerúndio. Pode ser desenvolvida da seguinte forma: que oscilava entre o bem e o mal

     

    O erro da alternativa II é afirmar que o verbo no gerúndio indica uma ação ainda em curso. No trecho em questão o autor fala de uma forma de sociedade que já nem existe mais, que foi substituída pela sociedade contemporânea. Se a sociedade moderna já foi extinta, é natural pensar que ela não está, atualmente, oscilando entre o bem e o mal.

     

     

  • Eu também não entendi pq o item II está errado, sendo que a palavra destacada é ''Oscilando''. E o que o "era" tem a ver com o contexto da afirmação?

  • II - ERA -> pretérito imperfeito do indicativo; indica ações habituais durativas no passado. Logo, não está em andamento.

  • Alternativa C

     

    II era dualista ( oscilando entre o bem e o mal.) aposto , ou seja, não é mais; portanto não dar continuidade.

    III o verbo "pode" dar ideia de que o fato pode ou não ocorrer, ou melhor não é inevitavel.

  • Demorei a compreender mas cheguei ao raciocinio após releitura calma e pausada. O texto tende a induzir a interpretação de "sociedade moderna" como a sociedade atual, porem o atual é "sociedade contemporânea monista" ou seja quem ficava (oscilando) era a sociedade moderna que foi substituida pela sociedade contemporânea.

     

  • GABARITO C

  • Não concordo com a II

    a questão não pede o trecho, pede a função do TERMO, apenas.

    E o "ndo" da a impressão de que é um movimento contínuo.

  • Que sacanagem!

    Agora fiquei preocupado com o concurso da PmPe 2018.  :(

  • 2 ta errado , pois , mesmo estando no gerundio , é apenas um aposto q já aconteceu no passado , logo ta errada

    GAB; C

     

  • abanca fez sacanagem nessa questão, colocou o verbo no gerundio, mas queria saber pelo contexto, na minha opiniao ela então nao deveria mandar avaliar a palavra grifada.

     

  • II - oscilando remete ao passado, pois está falando de um fato passado que já ocorreu.

     

     

    Gabarito: c) I e IV.

  • se analisar o sentido do paragrafo nem precisa da pessoa saber que a n. II é uma or. sub. adj. expl. reduzida gerundio. deixa pra gastar essa energia nas questoes de gramatica pura. afinal. A prova com mais questoes é sempre a de portugues.

  • se analisar o sentido do paragrafo nem precisa da pessoa saber que a n. II é uma or. sub. adj. expl. reduzida gerundio. deixa pra gastar essa energia nas questoes de gramatica pura. afinal. A prova com mais questoes é sempre a de portugues.

  • Ela substitui a sociedade moderna, que era dualista, oscilando entre o bem e o mal. “Todas as práticas humanas se mobilizam em direção ao maior valor da cultura, que é o valor de mercado. Isso é automático. Não se trata de nenhuma ‛teoria da conspiração‟. Somos seres moldados pela cultura em que vivemos”, Rozenthal diz.

    oscilando é um adjetivo sematicamente e não verbo.

     a questão perde uma forma verbal destacada indica tratar-se de uma ação ainda em andamento.

  • ...AS MELHORES COMENTADORAS LP DO QC SÃO PROFESSORAS, SOBRETUDO ISABEL VEGA E FABIANA DOS ANJOS. DÃO DE LAVADA NOS PROFESSORES. IMPRESSIONANTE!