SóProvas


ID
2561833
Banca
FCC
Órgão
TST
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Hannah Arendt, preocupada com a situação da arte numa sociedade dominada pela cultura de massas, explica que, embora cultura e arte estejam inter-relacionadas, são coisas diversas. A palavra “cultura”, desde sua origem romana, implica criação e preservação da natureza e das obras humanas. As obras de arte são, para ela, a expressão mais alta da cultura, “aqueles objetos que toda a civilização deixa atrás de si como quintessência e o testemunho duradouro do espírito que a animou”. A cultura implica “uma atitude de carinhoso cuidado”,

                         e uma sociedade de consumo não pode absolutamente saber como cuidar de um mundo e das coisas que pertencem de modo exclusivo ao espaço das aparências mundanas, visto que sua atitude central ante todos os objetos, a atitude de consumo, condena à ruína tudo o que toca.

      Diz a pensadora, referindo-se à sociedade de massas do século XX: “A sociedade de massas [...] não precisa de cultura, mas de diversão, e os produtos oferecidos pela indústria de diversões são com efeito consumidos pela sociedade exatamente como quaisquer outros bens de consumo”. Os produtos dessa indústria de diversões são perecíveis, portanto precisam ser renovados.

                        Nessa situação premente, os que produzem para os meios de comunicação de  massa esgaravatam toda agama da cultura passada e presente na ânsia de encontrar material aproveitável. Esse material, além do mais, não pode ser oferecido tal qual é; [...] deve ser preparado para consumo fácil.

      Essas considerações de Arendt têm-se mostrado absolutamente justas, com o passar das décadas e os avanços das tecnologias de comunicação. A literatura, como forma de arte, tem sofrido os efeitos da nova situação. O sonho dos escritores modernistas era que a massa comesse o “biscoito fino” por eles fabricado. Infelizmente, a massa tem preferido os cookies industrializados.

      Para que a literatura chegue ao grande público, promovem-se eventos literários (salões do livro, festas de premiação), nos quais autores e obras são apresentados como espetáculo. Os objetos desses eventos são, sem dúvida, legítimos e justificados. Entretanto, o público numeroso que frequenta esses eventos parece incluir menos leitores de livros do que meros espectadores e caçadores de autógrafos.

      Os escritores de hoje têm uma visibilidade pessoal maior do que em épocas anteriores porque são incluídos na categoria de “celebridades”, e os mais “midiáticos” têm mais chance de vender livros, independentemente do valor de suas obras. Ao mesmo tempo, nos debates teóricos, assistimos à defesa da “literatura de entretenimento”, contra as exigências daqueles que ainda têm uma concepção mais alta da literatura. Estes são chamados de conservadores e elitistas. Ora, a conservação é uma atitude inerente aos conceitos de cultura, arte e de educação. Conservação não como imobilismo e fechamento ao novo, mas como conhecimento da tradição sem a qual não se pode avançar.

      Obs.: Hannah Arendt (1906-1975), filósofa alemã, é uma das raras vozes femininas de destaque na filosofia do século XX.

(Adaptado de: PERRONE-MOISÉS, Leyla. A literatura na cultura contemporânea. Mutações da literatura no século XXI, São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 31 a 33) 

Diz a pensadora, referindo-se à sociedade de massas do século XX: “A sociedade de massas [...] não precisa de cultura, mas de diversão, e os produtos oferecidos pela indústria de diversões são com efeito consumidos pela sociedade exatamente como quaisquer outros bens de consumo”. Os produtos dessa indústria de diversões são perecíveis, portanto precisam ser renovados.


                             Nessa situação premente, os que produzem para os meios de comunicação de  massa esgaravatam toda a gama da cultura passada e presente na ânsia de encontrar material aproveitável. Esse material, além do mais, não pode ser  oferecido tal qual é; [...] deve ser preparado para consumo fácil.


Sobre o trecho acima, considerado em seu contexto, comenta-se com propriedade: 

Alternativas
Comentários
  • a) Errado. Sinônimos são palavras que possuem o mesmo significado, como "cão" e "cachorro", por exemplo. Não é o que ocorre no trecho. No segmento apresentado, a coesão é feita por antonomásia, que é a substituição de um nome próprio, no caso, Hannah Arendt, por um nome comum que o identifique, no caso, "a pensadora".

     

    b) CERTO. "Mas" é uma conjunção. Conjunções são palavras que servem para unir duas orações, conectar duas sentenças de maneiras diversas. No caso do "mas", a função é de conectar duas ou mais frases, dando sentido de oposição. Elipse é a supressão de um termo que pode ser facilmente subentendido pelo contexto linguístico ou pela situação. Na oração "mas de diversão" a palavra omitida foi "precisa".

     

    c) Errado. O operador argumentativo "além do mais" é usado para introduzir um argumento decisivo, ou seja, um argumento que está acima dos outros na escala de convencimento, um argumento que finaliza a argumentação não sendo necessário dizer mais nada, um argumento que dá um golpe final, que desestabiliza o argumento contrário.

     

    d) Errado. A expressão "com efeito" indica apenas que o autor garante a validade e confirma a exatidão do fato referido, porém não indica se esse fato foi metodicamente comprovado ou se é apenas a opinião do autor assumindo o caráter de verdade.

     

    e) Errado. Nesse trecho, a ausência da conjunção não prejudica o entendimento do sentido original. A retirada da conjunção "porém" não altera a relação estabelecida entre as orações, que passam a ser orações assindéticas, mas mantém entre elas a relação de conclusão. A natureza semântica dessas orações não está na conjunção, mas nas próprias orações.

  • Questão para ler com bastante calma e, no mínimo, duas vezes.

     

    A sociedade de massas [...] não precisa de cultura, mas [precisa] de diversão.

     

     

  • eu fiz essa prova, não tinha nenhuma questão que dava tempo de ler duas vezes... Simplesmente não deu tempo de fazer a prova... e todos que fizeram (eu participo de um grupo que tem pelo menos 20 pessoas que fizeram essa prova), se sentiram da mesma forma.

  • Elipse é a omissão de um termo, mas que pode ser facilmente presumido ou identificado no contexto.

    Zeugma é a omissão de um termo que já foi expressamente mencionado.

    A alternativa B poderia se referir a um caso de "zeugma", pois o verbo "precisar" da primeira oração pode ser utilizado na oração seguinte (mas de diversão)

    Questão que requer o máximo de atenção, a FCC é nível super hard...

    Se eu estiver errado, alguém me corrija por favor!